quinta-feira, setembro 10, 2009

FERNANDO BARROS

Vai ser bom, não foi?


O Globo - 10/09/2009

Temos que admitir: o brasileiro tem mesmo uma tendência muito forte de mimetizar os americanos. Sobretudo se o assunto é marketing. E, principalmente, marketing político. Depois do fenômeno Obama, então, virou moda importar os guys, que vêm pra cá, desovam um bocado de obviedades, ganham sua grana (em US$, é claro) e naturalmente se mandam.


Dez entre dez políticos brasileiros candidatos às próximas eleições já estão encomendando às suas agências e “marqueteiros” (como detesto esse selo!) campanhas “tipo a do Obama”. É isso que, humildemente, gostaria de trazer à discussão, o exagero de se copiar tudo o que se fez lá e trazer para cá.

Defendo obsessivamente é o pensamento estratégico que deve reger campanhas. Além e acima do uso de ferramentas, porque os meios digitais estão na moda, mas os “analógicos” ainda existem e resistem, sendo imprescindíveis para um país plural e continental como o nosso.

A franca opção da equipe de Obama para concentrar seu esforço privilegiando a internet deu-se por uma única e exclusiva razão: falta de recursos.

Tanto assim que, quando eles rechearam seu caixa (captado principalmente via internet, e nesse capítulo eles verdadeiramente brilharam), foram às compras arrematando muito espaço nas “velhas” mídias. É.

Quando o dinheiro deu, ele foi lá para a TV, jornais, usou outros meios, ficou multimídia.

E fez certo.

O fascínio da internet é a possibilidade de fazer a interlocução direta com o eleitor, estabelecendo uma via de mão dupla. O grande saque da equipe de Obama foi traduzir isso na prática. Foram recrutados profissionais geniais, como Chris Hughes, um dos fundadores do Facebook, buscando comunicarse com os distintos grupos sociais de forma segmentada e customizada.

Tornaram-se pioneiros na utilização inteligente das chamadas novas redes sociais, como o Twitter.

A ação estratégica via WEB tinha como objetivo abordar e conquistar os segmentos e, a partir daí, fazê-los ativos na campanha, cada qual a disseminando do seu jeito. Criou-se assim um poderoso exército de militantes on-line, que seguiam o candidato, protegiamno, praticavam eles mesmos o mais autêntico bateu-levou, o que de certa forma evitou que Obama tivesse que ser mais ácido em seus discursos nos momentos dos ataques mais corrosivos.

Ele só coroava e pontificava com sua emocionante oratória.

O resto se sabe, e não vou me perder listando o quanto eles acertaram via internet.

Lembro-me de um depoimento de uma militante fisgada numa destas novas redes sociais. “Fui arrebatada; a mensagem dele parecia feita diretamente pra mim. Então, não consegui mais parar de trabalhar para ajudá-lo.” Sustento, apenas imitar o Obama não garante êxito a ninguém. Aqui é o Brasil e, embora sejamos impressionantes no uso da WEB, há ainda um formidável contingente de eleitores que ainda não tem acesso a esse meio. Ademais, de Obama para cá muita coisa mudou, a própria internet agregou uma boa quantidade de novas ferramentas. Fazer uma campanha apenas plasmada na dele já ficou ultrapassado.

Cada eleição é uma história, estamos cansados de saber. As pesquisas, sobretudo as qualitativas, são imprescindíveis e reveladoras do comportamento das pessoas e conhecimento da atitude de voto para as próximas eleições. Isso sim deve guiar as campanhas e os profissionais de comunicação.

A construção de uma boa estratégia, um sedutor conceito e sua aplicação a todas as plataformas de mídia, continua sendo a maneira mais eficiente de ganhar o clique final na confirmação do voto e a vitória nas eleições.

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