sexta-feira, setembro 04, 2009

CLÓVIS ROSSI

Sinceridade e popularidade

FOLHA DE SÃO PAULO - 04/09/09


LONDRES - Se eu fosse um homem de fé, rezaria fervorosamente para que algum líder político brasileiro relevante repetisse, de preferência em ocasião solene, o que disse o presidente do México, Felipe Calderón, em sua mensagem sobre o Estado da União.
"Os cidadãos não estão satisfeitos e percebem uma enorme brecha entre seus interesses e os dos governantes. O sistema político atual não é capaz de oferecer soluções. A política é, para os cidadãos, sinônimo de conflito e de paralisia. Temos que mudar o México, com todos os riscos e custos que implica".
Não é preciso ser Ph.D em nada para ver que o sistema político brasileiro, como o mexicano, não é funcional, além de ser sinônimo também de "corrupção", além de conflito e de paralisia.
Ao contrário dos líderes políticos brasileiros, que são campeões mundiais de autocongratulações ou, quando acuados, de recusar-se a aceitar a realidade, Calderón disse também: "Sou o primeiro a reconhecer que, ante o México a que aspiramos, o obtido é claramente insuficiente, e que, a este ritmo, tomaria muitos anos, quiçá décadas, para poder vislumbrar em fatos concretos o México que queremos".
O presidente mexicano foi além: "Temos que passar do sufrágio efetivo a uma democracia efetiva. É hora da mudança. Sejamos a geração que passou por cima de qualquer interesse particular e pôs à frente o interesse do México".
À vista do que aconteceu no Senado, recentemente, ou em crises anteriores, tenho plena consciência de que as orações que me proponho a fazer cairão no vazio.
Mas, no ano que vem, ano de eleições, talvez apareça alguém com grandeza suficiente.
Ah, franqueza não tira a popularidade, não senhor: Felipe Calderón, mesmo no meio de uma infernal guerra contra o crime organizado e enfrentando brutal recessão, tem 68% de aprovação.

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