segunda-feira, setembro 28, 2009

CARLOS ALBERTO SARDENBERG

Michael Moore, com o dinheiro do diabo

O ESTADO DE SÃO PAULO - 28/09/09


Lá pelas tantas de seu documentário Capitalismo: uma história de amor, lançado na semana passada, Michael Moore aparece na frente do banco Goldman Sachs em Manhattan dirigindo um blindado de transporte de dinheiro. E anuncia nos alto-falantes que está ali "para pegar de volta o dinheiro do povo americano".

Pois se Moore procurasse no próprio bolso encontraria alguma parte desse dinheiro, comentou, divertido, um editorial do site Futureofcapitalism.com. Mas é isso mesmo. O Goldman Sachs colocou dinheiro próprio e ainda montou a operação que levantou US$ 1 bilhão para a produtora de Moore, a Weinstein Company. Na ocasião da entrega dos recursos, o banco, que é a cara e o coração de Wall Street, divulgou nota oficial dizendo: "Estamos muito satisfeitos em ser parte desta excitante nova associação."

No filme, Moore diz que o capitalismo é o próprio "diabo". Entrevista padres católicos que classificam o regime como "pecador e imoral". Apresenta algumas ideias sobre como superar o capitalismo, mas não parece convincente. Como derrotar um regime que se sente satisfeito e excitado em financiar seus críticos?

O pedágio do PT pede reajuste - Há dois anos, o presidente Lula e a ministra Dilma comemoraram o pedágio de R$ 0,99 oferecido por uma das concessionárias vencedoras na licitação de sete lotes de rodovias federais. Era o modo petista de privatizar, oposto ao modo tucano, dos pedágios caros. Na ocasião, comentamos aqui mesmo que esse barato poderia sair caro, mas não imaginávamos que seria tão depressa. Pois agora todas as concessionárias que operam aquelas rodovias já estão pedindo um reajuste no preço das tarifas ou uma redução nos investimentos previstos, ou seja, menos melhorias para as estradas.

Especialistas na área já diziam que isso seria inevitável. Ocorre que os pedágios mais baratos (de R$ 0,99 - "menos de um real", como comemorou a ministra em telefonema ao presidente - a R$ 3,86) não poderiam sair do nada, mas de um modelo de concessão diferente.

Em primeiro lugar, o governo Lula não cobrou nada pela entrega das estradas (ou pela outorga), ao contrário do que se fazia no governo anterior e do que o governador Serra fez em São Paulo mais recentemente. Cobrar pela outorga significa que a concessionária tem de remunerar o Estado pelo direito de usar a rodovia. Com esses recursos, o governo pode, por exemplo, construir estradas em áreas menos rentáveis, sem interesse para a iniciativa privada. Mas é claro que, nesse modelo, o pedágio necessariamente sai mais caro, pois vence a concorrência quem paga mais pela outorga e, ao mesmo tempo, se compromete com carga maior de investimentos e aperfeiçoamentos nas estradas.

Quando se entrega de graça a estrada (privataria!) e se decide o leilão pelo pedágio mais barato, é claro que as concessionárias vão fazer de tudo para "martelar" os custos. E martelaram. Nos leilões do governo Lula, as tarifas oferecidas (e vencedoras) chegaram 65% abaixo do piso determinado. Martelar custos significa minimizar ou desprezar riscos e valorizar ao extremo as ações propostas.

O risco geral é esse mesmo que está ocorrendo. O faturamento já não dá conta das obrigações. Dizem as concessionárias que a culpa é do governo, que teria atrasado os papéis liberando as obras e, assim, atrasando o início da cobrança dos pedágios. Os órgãos do governo dizem que fizeram tudo certo e em dia.

A ministra Dilma até agora não se manifestou. Compreende-se: o governo está no córner. Se admitir o reajuste extra das tarifas, estará confessando um erro de modelo. Se não admitir, vai comprometer as estradas, aliás, com obras já atrasadas, o que também desmoraliza o modelo dos pedágios baratinhos, tão alardeado dois anos atrás.

Quanto ao modelo tucano, continua assim: as estradas estão excelentes, mas todo mundo reclama dos pedágios.

Isso poderia gerar um debate técnico, não tivesse o atual governo politizado tanto os leilões de dois anos atrás.

Dilma x Serra - Mas os pré-candidatos presidenciais travaram uma disputa técnica em São Paulo na semana passada. Apareceram juntos numa feira de imóveis e discursaram - uma falando do milhão de casas do Minha Casa, Minha Vida; outro, de como seus gastos em habitação, R$ 1,9 bilhão, eram mais eficientes.

Interessante prévia da disputa presidencial. No governo há oito anos, Dilma não pode retomar o discurso petista do "contra isso tudo que está aí", por "um novo Brasil". Ela vai tentar mostrar que o governo Lula já está construindo esse "novo Brasil" e que ela é a melhor pessoa para continuar a obra.

Serra, que foi ministro na gestão FHC e que governa o maior Estado do País, também só pode se apresentar como administrador capaz de fazer melhor que o atual.

Menos politizada, pode ser uma disputa em torno de temas econômicos, administrativos e técnicos. Uma eleição mais aborrecida, sem empolgação, adequada aos estilos de Dilma e Serra, mas quem sabe melhor para o País.

Gastando por conta - Não sei se repararam, mas a semana foi de aumento de gastos públicos. O Congresso aprovou a criação de mais 8 mil vagas de vereadores e um reajuste para os salários dos ministros do Supremo Tribunal Federal, que vai repercutir em todo o Judiciário. E em outros setores da administração federal, pois todo mundo vai pedir equiparação (como os parlamentares) e/ou reajustes semelhantes.

Saiu também o déficit da Previdência até agosto, que aumentou nada menos que 15% em relação ao ano passado, por causa do reajuste real do salário mínimo, num momento de queda da arrecadação de impostos. E o governo já aceitou dar aumentos reais para as aposentadorias acima do mínimo, o que vai elevar ainda mais o déficit previdenciário.

E daí? O presidente Lula está convencido de que tirou o País da crise aumentando o gasto público e que, por isso, tem licença para gastar mais. E isso significa que você, caro leitor, cara leitora, vai pagar mais impostos.

Um comentário:

  1. ola...
    tem como me mandar o artigo do Estadao "Michael Moore, com o dinheiro do diabo" na íntegra, via e-mail?
    lucascastro@folha.com.br

    Quero le-lo

    Abraços
    @lucasparisi

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