quarta-feira, agosto 05, 2009

FERNANDO CALAZANS

O futebol e os filhos

O GLOBO - 05/08/09

Leonardo Moura pediu desculpas à torcida do Flamengo, reconhecendo seu erro por se expressar daquela forma torpe em público. Dirigiu-se particularmente às famílias e às crianças que assistiam ao jogo no estádio e na TV. Leonardo Moura não foi o primeiro jogador vaiado no Maracanã. Mas muita coisa mudou no estádio e, pior ainda, muita coisa mudou nesse esporte chamado de futebol.No esporte e na sociedade em geral. A propósito particularmente do futebol, passo a transcrever um e-mail que recebi na segunda:
“Senhor Calazans, como já tratou do assunto em sua coluna com propriedade, escrevo-lhe para contribuir com o enfoque de um educador, no debate sobre o comportamento dos jogadores de futebol. Chego a pensar em cancelar minha assinatura do futebol na tevê a cabo de tão enjoado de ver os espetáculos pelos quais ando pagando. Nem tanto pela qualidade dos jogos, mas pelo exemplo lamentável que a cada dia ‘nossos ídolos? oferecem aos meus alunos. O futebol, como sabemos, é uma paixão nacional. Nada mais natural que os jovens, as crianças, tomem o comportamento dos jogadores de seus clubes como parâmetro para sua própria conduta, o que, no caso, acaba por agravar o problema das famílias que tentam educar seus filhos.
“Hoje, os profissionais da bola em nosso país são pessoas de má educação (por favor, desculpe-se em meu nome com as exceções à regra), mas, pelo que vejo nas transmissões o mau comportamento é quase um padrão. Usam um vocabulário chulo para se ofender uns aos outros e não raro aos torcedores. Mentem e dissimulam o tempo todo, agridem com grande violência os colegas de ofício, desrespeitam acintosamente a autoridade representada pelos árbitros, muitos são coléricos, desequilibrados mentalmente, não são raras as demonstrações de racismo e machismo. É muito triste que a juventude do Brasil aprenda no esporte que, para vencer no jogo e na vida, há que dar pontapés, mentir e desrespeitas as
regras.
“É verdade que a ausência de instrução dos garotos que abraçam o ofício da bola explica em parte o problema, mas e os responsáveis pelo negócio do futebol? Será que dirigentes, empresários, meios de comunicação, enfim aqueles que no fundo são as autoridades e os responsáveis pelos nossos jogadores não veem? Será que eles próprios são tão mal-educados que estimulam esse comportamento impróprio? No mais me solidarizo com sua coluna por dar atenção ao tema que tanto me incomoda”. Atenciosamente, Professor Eduardo Paparguerius de Souza.
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Sociedade, política, esporte caminham juntos, e, infelizmente, não são apenas os jogadores de futebol que dão maus exemplos na era do “Ilegal. E daí?” e do “Ilegal. Eu?” Longe disso. No caso específico do futebol, o que se vê de violência e cafajestagem nos campos, hoje, é consequência em parte da má formação dos jovens nas divisões de base em que os meninos já são levados a competir e vencer a qualquer preço. Disputam vitórias e títulos em nome de seus clubes, de seus técnicos e do emprego destes. Os maus estímulos vêm dos dirigentes, dos treinadores e, é claro, dos torcedores na arquibancada.
O processo da violência, da hostilidade, da linguagem chula, dos xingamentos dentro de campo vem se agravando há muitos anos, sem que autoridades do esporte, do poder público, da educação e mesmo a imprensa saibam interpretar a mudança de comportamento no futebol. Por isso, um dia, fiz uma pergunta aqui: aonde o futebol vai parar? Ninguém parou para pensar nisso.

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