terça-feira, agosto 04, 2009

COISAS DA POLÍTICA

O risco da arrogância e da antipatia política

Tales Faria
Jornal do Brasil - 04/08/2009

Alguém já disse que na política a versão vale mais que o fato. Uma simples impressão da opinião pública, quando se cristaliza, é capaz de provocar grandes reviravoltas. Veja-se o caso do líder do PMDB no Senado, Renan Calheiros (AL). Desde quando rompeu com o ex-presidente Fernando Collor de Mello e ajudou a apeá-lo do poder, tornou-se uma figura com a simpatia da imprensa. Gozou dessa boa relação durante todo o governo Fernando Henrique Cardoso, no qual apareceu como um ministro da Justiça atuante. Mesmo uma briga pública com o respeitado ex-governador tucano Mario Covas não foi capaz de desfazer seu bom relacionamento com jornais e revistas. Mas no momento em que alguns órgãos de comunicação começaram a fazer eco às denúncias de sua ex-amante Mônica Veloso, Renan, então presidente do Senado, irritou-se , brigou com alguns repórteres e desfez o semblante simpático e tranquilo de antes. Foi-se tornando mais e mais um sujeito amargurado, e acabou ficando com uma imagem pública de antipático. Até arrogante. E aí sua situação só piorou, até ter que renunciar ao comando da Casa.
O fato é que Renan Calheiros tornou-se o grande estrategista por trás da encrenca em que se meteu o presidente do Senado, José Sarney. E, inevitavelmente, o desgaste que se produziu sobre sua imagem pública acaba refletindo sobre Sarney. Pior. Outro que também tem uma imagem de arrogância, que em nada lhe serviu para impedir que sofresse impeachment, é o ex-presidente Collor.
Quando Renan e Collor se voltam, em rede nacional de televisão, para espancar um velhinho com fama de político honesto, como o senador Pedro Simon (PMDB-RS), é claro que saem perdendo os dois e, por tabela, o próprio Sarney e, mais anda, o Palácio do Planalto, preso a Sarney, ao PMDB de Renan e até a Collor, para manter a governabilidade no Senado em meio a um verdadeiro ataque especulativo da oposição e dos jornais e revistas em litígio com o Palácio.
Não foi à toa que o coordenador político do governo, ministro José Múcio Monteiro, passou o dia em pânico. Sabia que o discurso de Simon não era boa coisa para o governo. Tanto que, pela manhã e à tarde, Múcio nem conseguiu fazer a reunião com os líderes governistas, conforme estava prevista. À noite, correu para a TV e foi assistir ao
Jornal Nacional.
Múcio não admite que para o governo foi péssimo rever os olhos esbugalhados de Fernando Collor na TV, com o seu antigo e conhecido estilo, apontando a metralhadora contra o Bom Velhinho Simon. Afinal, o ministro está aí para apaziguar os ânimos, não para jogar mais lenha na fogueira. Mas dá o braço a torcer quando indagado se está preocupado.
– Evidentemente, não esperávamos que os ânimos voltassem do recesso tão exaltados. Para nossa surpresa a situação complicou-se. É hora de esfriarmos os ânimos e restabelecermos as relações interpessoais. Nesse nível é que não podemos ficar – disse José Mucio Monteiro, sem muito mais querer comentar. Apenas: – Vamos aguardar o fim da noite. Parece que precisaremos de longas conversas.
Simon, por sua vez, pode ter idade e jeito de velhinho. Mas, na verdade, é uma raposa política com anos de estrada. Apanhou, foi posto no canto do ringue por Collor e por Renan. Mas sabe que deu uma verdadeira surra nos dois. Sabia disso desde o momento em que foi publicado que o comando nacional do PMDB, empurrado por Renan, anunciara que poderia punir os dissidentes do partido que estivessem em campanha pela retirada de Sarney da presidência do Senado. Por isso decidiu ir à tribuna. Sabia que já sairia ganhando em desafiar Renan e companhia a puni-lo. Depois, porque sabia que, em qualquer embate no plenário, sobraria para Renan a imagem da arrogância. O que Pedro Simon não contava é que teria aquela ajuda de Fernando Collor de Mello. Uma tremenda ajuda.
Tanto que, procurado pela coluna, o presidente do PMDB, Michel Temer, se apressou em esclarecer:
– Pedro Simon é uma legenda do partido. Nunca se pensou em puni-lo. Houve, sim, mau uso de uma carta que enviamos na semana passada à revista
Veja, na qual, no finalzinho, a propósito da questão da janela partidária, dizíamos que nossos dissidentes podiam sair à vontade que não sofreriam punições.

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