domingo, agosto 23, 2009

AUGUSTO NUNES

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Depois de revogar o irrevogável e inventar a renúncia reversível, Mercadante está pronto para Bolt

22 de agosto de 2009

É só ler com atenção o que escrevi”, recomendou Mário Henrique Simonsen ao jornalista que lhe perguntara se a decisão de deixar o Ministério do Planejamento do governo Figueiredo era para valer. “Pedi demissão em caráter irrevogável”.

Essa expressão é coisa séria, sublinhou. Uma decisão sempre pode ser discutida com o chefe, reconsiderada e, eventualmente, esquecida. Uma decisão em caráter irrevogável é fato consumado e irrecorrível. É um ato de vontade unilateral e irreversível.

Também a renúncia configura um ato de vontade unilateral e sem volta, ensinou o presidente do Senado, Auro de Moura Andrade, ao receber a mensagem de Jânio Quadros em 25 de agosto de 1961. Os parlamentares janistas souberam tarde demais que aquilo não era passível de discussão. A assinatura sob o texto transformara Jânio em ex-presidente.

“Eu subo hoje à tribuna para apresentar minha renúncia à liderança do PT em caráter irrevogável”, avisou na manhã de quinta-feira, pelo twitter, o senador Aloízio Mercadante. Com 16 palavras, deixou o cargo para sempre duas vezes. Ao renunciar, ficou liberado para ir para casa conversar com o filho sobre a lua-de-mel. Renunciar em caráter irrevogável é uma redundância que só serviu para espancar, simultaneamente, a memória de Simonsem e Auro.

A supressão de duas palavras poderia ter sugerido que o senador resolvera cair fora não da liderança “da bancada” do PT, só da liderança no PT. Mas não se deixa o que não se tem. Ninguém renuncia ao que já não é. Mercadante não é lider no PT nem em lugar nenhum. Quem tem alma subalterna não saberá conduzir nem uma reza antes do almoço.

Justificadamente deslumbrados com o que anda fazendo Usain Bolt nas pistas, jornalistas do mundo inteiro afirmam não existe um só homem no mundo capaz de enfrentar com alguma chance, nas corridas de 100 e 200 metros, o fantástico jamaicano. Existe e é brasileiro. Correndo de costas, sem olhar para trás, nem Usain Bolt é páreo para Aloízio Mercadante.

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