quarta-feira, julho 22, 2009

VALDO CRUZ

Criador e criatura


Folha de S. Paulo - 22/07/2009


BRASÍLIA - Parece até piada, mas o tema tem de fato circulado pelos gabinetes do governo Lula. Em uma e outra reunião, há quem se delicie dizendo que em 2010 o "risco eleitoral" que pode provocar turbulências na economia atende pelo nome de José Serra.
Motivo: Serra não esconde que faria uma política monetária diferente da atual, é crítico de Henrique Meirelles e, se liderar a campanha em 2010, pode repetir, em menor escala, o Lula de 2002.
Naquela eleição, a possível vitória do petista era relacionada pelos tucanos a um fator de instabilidade econômica, criando pressões negativas sobre o mercado. Na época, o dólar disparou.
A ironia dessa tese petista é que a candidata do governo em pouco, ou quase nada, difere do tucano. Dilma Rousseff também é crítica de Meirelles. Dependesse só dela, o presidente do Banco Central de Lula já teria sido trocado.
Aí entraria em cena o criador, dizem petistas, para doutrinar a criatura. Dilma será orientada por Lula a dizer na eleição que manterá sua política monetária e fiscal.
Política monetária que será, mais uma vez, testada nos próximos meses. Hoje o BC deve anunciar uma nova queda na taxa básica de juros. A dúvida é se o processo para por aí ou terá continuidade.
Lula não esconde seu desejo de que os cortes sigam por pelo menos mais duas reuniões. O presidente, contudo, talvez seja convencido de que é melhor ser mais parcimonioso daqui em diante, evitando alta de juros no ano da eleição.
Até aqui, por sinal, Lula deu repetidas mostras de que pode não gostar, mas, pragmático, se curva aos argumentos do BC. Quem sabe a cadeira presidencial não fará efeito idêntico em Serra e Dilma.
Detalhe: o novo presidente, seja quem for, terá de fazer ajustes na política atual. Pelo andar da carruagem, juros não serão o problema a enfrentar. Mas sim a questão fiscal, da gastança.

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