segunda-feira, julho 20, 2009

RUY CASTRO

Endereços com história


FOLHA DE SÃO PAULO - 20/07/09

Só se soube outro dia, por uma coluna de jornal, que a bela casa em forma de navio na Rua Codajás, numa seção exclusiva do Leblon chamada Jardim Pernambuco, foi abaixo em silêncio e em segredo há alguns anos. Em seu lugar, surgiu outra, talvez mais moderna e confortável, mas sem o mesmo charme. A casa original tinha história: Tom Jobim morou nela durante toda a segunda metade dos anos 1960.

Conheci essa casa de Tom. Foi nela que ele me recebeu, em março de 1967, para uma entrevista para a revista Manchete e, uma hora depois, sugeriu que fôssemos continuar a conversa em seu QG, o bar Veloso, em Ipanema. Foi daquela casa que Tom saiu para gravar em Los Angeles com Frank Sinatra e foi também nela que ele compôs Wave, Chovendo na Roseira, Sabiá, Retrato em Branco e Preto e finalizou Águas de Março.

Em compensação, grandes endereços anteriores de Tom, berços indisputados da bossa nova, estão de pé e podem ser admirados sem problema. O predinho da Rua Nascimento Silva, 107, típico da velha Ipanema, continua firme, com o apartamento onde ele compôs A Felicidade, Se Todos Fossem Iguais a Você, Chega de Saudade, Dindi, Fotografia, Brigas Nunca Mais etc., e todas as canções de Canção do Amor Demais.

E a casa da Rua Barão da Torre, por acaso também 107, para onde ele se mudou em 1960 e onde nasceram Corcovado, Ela é Carioca, Samba do Avião, Só Danço Samba, Inútil Paisagem, O Morro Não Tem Vez e, como se chamava mesmo?, Garota de Ipanema, está tal e qual e é agora uma... pousada.

Como se vê, nem toda a história está perdida. Mas o Rio tem toneladas de história, e nem sempre se pode impedir que, por ignorância ou incúria, uma parte tão preciosa dela tombe a golpes de insensibilidade e marreta.

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