quarta-feira, julho 01, 2009

FERNANDO CALAZANS

Ainda há tempo

O GLOBO - 01/07/09

Se eu fosse da comissão técnica ou da diretoria de Botafogo e Vasco, estaria mais preocupado do que parecem estar os componentes de um grupo e de outro nos dois clubes. Não que a situação seja desesperadora.
Não é. Ainda não é. Há tempo de sobra para o Botafogo sair da zona de rebaixamento da Série A e para o Vasco entrar na zona dos quatro clubes que subirão para a Primeirona.
No mesmo dia, no mesmo sábado, o último sábado, os dois entraram em campo, cada um em sua competição. Na Série B, o Vasco empatou de 1 a 1 com o fraco time do Figueirense. Foi o quinto jogo sem vitória na Segunda Divisão. Quinto jogo em branco.
Na Série A, em seu bonito estádio do Engenhão, diante de sua torcida, o Botafogo levou uma sova de 4 a 1 do modesto Goiás. Depois disso, chegou à lanterninha do campeonato.
Quer dizer: do jeito que estão no momento, como já lembrei ontem, não só o Vasco prosseguiria na Segunda Divisão como ainda teria a companhia do Botafogo no ano que vem. E os dois, irmanados, fariam o grande clássico da Segunda Divisão do futebol brasileiro.
Mas, se uma campanha e outra não são motivo de preocupação, não está mais aqui quem falou.
Como já escrevi também, há tempo para mudar essa situação. O problema é saber se há time. Isso é que preocupa pelo menos a mim. Os dois são fraquíssimos, são incapazes.

Nesse quesito, o Botafogo parece um pouco mais consciente. Ney Franco não tem culpa, é claro, o Botafogo faz bem em mantê-lo, mas ele precisa ser um pouco mais exigente na escolha de jogadores para seu elenco. Na época do Flamengo, Ney buscava reforços no Ipatinga, lembram-se? Não eram reforços para o Flamengo.
Os que escolheu ou ajudou a escolher no Botafogo tampouco são reforços para o Botafogo. É preciso ser mais exigente e, se o Botafogo não for mais exigente, continuará correndo risco de ser rebaixado.
O Vasco, não consigo entender por quê, respira um ar mais otimista em São Januário, parece que vai tudo bem. Seu técnico Dorival Júnior, assim como Ney Franco, não tem culpa, mas surpreende ao afirmar agora, com convicção, que a volta das vitórias é questão de tempo.

Em que ele se basearia para fazer afirmação de tal ousadia? O time é tão fraco quanto o Botafogo — ou mais. Seu incompreensível otimismo — e de outros vascaínos no clube — parece se relacionar com os nomes de Carlos Alberto e Léo Lima, o que dá impressão de brincadeira.
Não é possível que profissionais do futebol acreditem nisso.
Ainda há tempo, sim. Mas a primeira providência, que já se faz urgente, é tomar consciência de que, com esses times, Botafogo e Vasco podem sair dessa situação — ou não podem.
O ano será de incertezas, de sofrimento em sofrimento até o fim. E sem saber como acabará o filme.

Assim como no caso de Vasco e Botafogo, tudo pode acontecer no futebol mundial, nivelado como está.
O Brasil pode ser campeão do mundo no ano que vem? Pode, claro. E a Espanha pode ser eliminada pelos EUA, por exemplo? Claro que pode. A Itália pode ser eliminada na primeira fase da competição? Pode.
Mas, por outro lado, pode ser campeã do mundo também, não pode? Pode, quem vai dizer que a Itália não pode ser campeã mundial?
E o Brasil, que pode ser campeão do mundo, não pode ser eliminado, digamos, num jogo com a África do Sul? Pode.
A Copa das Confederações, entre outras competições mais recentes, mostrou que tudo pode acontecer — e tem acontecido. Por favor, não me venham falar em grandes seleções.

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