quarta-feira, junho 10, 2009

DIOGO MAINARDI - PODCAST

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Diogo Mainardi

10 de junho de 2009

Texto integral
Obama e a Wikipédia

Barack Obama, durante a campanha eleitoral, era o candidato do Blackberry. Ele imediatamente se transformou, depois de ser eleito, no presidente do teleprompter. Agora ele é o profeta da Wikipédia.

Em seu discurso no Cairo, Barack Obama fez um resumo histórico do islamismo. Assim como ocorre na Wikipédia, ele se concentrou em generalidades. Assim como ocorre na Wikipédia, ele eliminou todos os argumentos mais controvertidos, mantendo apenas os que poderiam obter o consenso da platéia. A mensagem era simples: os Estados Unidos renunciaram à ideia de impor certos comportamentos aos países do Oriente Médio. Barack Obama, com suas generalidades e com seus argumentos consensuais, com seu pragmatismo e com seu ecumenismo moral, rejeita as hierarquias de valores. Para ele, um modelo é tão válido quanto qualquer outro. Um costume tem de ser tão respeitado quanto qualquer outro. Um regime é tão legítimo quanto qualquer outro. Barack Obama é uma espécie de Henry Kissinger para ginasianos politicamente corretos.

Christopher Hitchens analisou um dos pontos mais abjetos do discurso de Barack Obama: aquele em que ele igualou o Ocidente e o Oriente no tratamento reservado às mulheres. Se por um lado Barack Obama censurou os abusos contra as mulheres em países islâmicos (aplausos da plateia), por outro lado ele censurou os países ocidentais que, em suas escolas públicas, proibiram o uso de véu por parte das alunas muçulmanas (ainda mais aplausos da plateia). Barack Obama acredita que o Ocidente tem de respeitar essas práticas ancestrais, por mais arbitrárias, primitivas e brutais que elas possam parecer. O que dizer então da infibulação? Vale o mesmo critério aplicado para o véu? O Ocidente, em nome da tolerância religiosa, tem de admitir a mutilação genital das meninas islâmicas, desde que seja prescrita por um mulá degenerado na periferia de Paris ou de Roma? Por que sim? Por que não?

Esse relativismo moral de Barack Obama, que costuma ser apresentado como um reflexo de seu cosmopolitismo e de sua origem miscigenada, provoca risos na plateia islâmica, segundo Christopher Hitchens. A revista "American Spectator" chamou a política externa de Barack Obama de freudiana: "Remova o medo do inimigo e sua hostilidade cessará". Mas a realidade é mais feroz do que isso. Não basta aplicar os métodos de Dale Carnagie para fazer amigos e influenciar pessoas. Os conflitos no Oriente Médio não vão acabar quando as partes chegarem a um consenso, trabalhando coletivamente, de igual para igual, a fim de esclarecer os mal-entendidos, como na Wikipédia. Os conflitos vão acabar quando as melhores idéias se impuserem às piores.

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