quarta-feira, junho 17, 2009

CLÓVIS ROSSI

A mão invisível -e irracional

FOLHA DE SÃO PAULO - 17/06/09

SÃO PAULO - Por fim, o tal de mercado -ou, mais exatamente, seus operadores em bancos, fundos de investimento e afins- descobriu a pólvora: os mercados não são racionais, não há a tal de "eficiência de mercado".
Não, a notícia não está em nenhum boletim de grupos comunistas ou antissistema.
Saiu no "Financial Times", orgulhosamente pró-mercado. E apoia-se em pesquisa feita por gente de mercado, mais exatamente o "Chartered Financial Analyst Institute", que "há cinco décadas ensina como verdade religiosa análises baseadas na eficiência do mercado para dezenas de milhares de aderentes ao redor do mundo".
O braço britânico do instituto perguntou a seus membros se confiavam na eficiência do mercado.
Dois terços responderam que não, que não acreditavam que os "preços de mercado refletiam toda a informação disponível".
Note a sutileza da linguagem: o que os pesquisados responderam, na verdade, é que os preços de mercado refletem também -ou principalmente- a especulação.
Tem mais: 77%, mais de três quartos portanto, disseram que discordam "fortemente" ou "muito fortemente" de que os investidores se comportem racionalmente.
Conclusão do jornal, absolutamente correta, além de inescapável:
a mudança de opinião dos agentes de mercado tem significativo impacto, porque acreditar na eficiência dos mercados é o fundamento de uma infinidade de cálculos financeiros.
Para mim, não se trata de nenhuma revelação divina. A crise que começou no setor financeiro e invadiu a economia real já seria suficiente para destruir qualquer crença cega na eficiência dos mercados.
Só quero ver agora quantos séculos os fundamentalistas de mercado tapuias vão levar para aceitar o que seus companheiros britânicos estão dizendo.

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