quarta-feira, junho 10, 2009

CELSO MING

Menos ruim


O Estado de S. Paulo - 10/06/2009
Até mesmo o governo federal, que tem melhores condições de saber o que vai pelas Contas Nacionais, parece ter-se preparado para enfrentar números do PIB bem mais terríveis. Mas respirou aliviado com o que saiu dos computadores do IBGE.

Foi uma surpresa tão expressiva que parece necessário dizer ao mercado que, apesar dos festejos, o PIB do primeiro trimestre do ano (queda de 0,8% sobre o PIB do último trimestre de 2008) é negativo e causou destruição de renda e de produção.

O número mais impressionante, e também negativo, foi a brutal queda dos investimentos, tecnicamente conhecidos como Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF). Foi uma retração de 12,6% em comparação com o que houve no último trimestre do ano passado e uma queda de 14,0% em 12 meses. Demonstra que, em outubro ou novembro, quando percebeu que seus negócios estavam mergulhados na crise global, o empresário brasileiro suspendeu quase automaticamente os projetos de expansão de suas atividades. O primeiro trimestre deste ano foi o período em que grandes decisões foram adiadas.

A reação dos comentaristas diante da queda do PIB muito mais amena do que a esperada foi concluir que a recuperação será rápida, tão rápida a ponto de garantir, ao longo de todo este ano, crescimento positivo do PIB, talvez da ordem de 1% ao ano. Se isso acontecer, beleza. O Brasil estará entre as cinco economias relevantes que mais terão crescido no mundo em 2009.

Mas três fatores podem contrariar essa expectativa, embora não necessariamente a contrariem. O primeiro é o fato inegável de que boa parte desse efeito menos ruim foi obtida graças à adoção de políticas contracíclicas. Entre elas estão a redução do superávit primário (de 4,23% para 3,06% do PIB); o reajuste generoso do salário mínimo e do salário dos funcionários públicos; o reforço do Bolsa-Família de R$ 11,8 bilhões para R$ 12,1 bilhões; as novas linhas de crédito para bancos, empresas e exportadores, concedidas pelo Banco Central, pelo BNDES e pelos bancos estatais; o novo plano habitacional; e a forte renúncia fiscal, concentrada em redução ou eliminação do IPI, especialmente na venda de veículos e aparelhos domésticos.

Parte desse arsenal anticíclico, principalmente a redução de impostos, teve como efeito a antecipação de compras por parte do consumidor. Quem aproveitou as vantagens e antecipou a troca do carro ou da geladeira tão cedo não voltará às compras. E isso significa que parcela da recuperação futura não mais vai acontecer, porque já aconteceu.

O segundo fator são os limites da capacidade de endividamento do consumidor. O crédito ainda tem muito o que crescer, mas vem se expandindo mais rapidamente do que a renda nestes tempos de maior desemprego e contenção dos salários. Ou seja, parte do mercado futuro está comprometida com o aumento do endividamento da classe média.

Finalmente, não se sabe como vai se comportar a economia global. Um dos temas dos atuais debates é se o gráfico que representa a recuperação terá forma de V, de U ou de W. Se for de W, haverá novo tombo mundial e o desempenho dos próximos meses da economia brasileira poderá ficar aquém do desejado.

Mas, por enquanto, é melhor apostar em que o pior já passou.



Confira

Ficou faltando - A redução dos preços do óleo diesel, em aproximadamente 9,6% na bomba de combustíveis, é fator importante na diminuição de custos de produção no País.

Mas não foi completa. Pelos cálculos do especialista Walter De Vitto, da Tendências Consultoria, os preços poderiam cair bem mais, independentemente da garfada produzida pelo aumento dos impostos embutidos nos preços (especialmente da Cide).

Os preços da gasolina ainda estão 13,5% mais altos no Brasil do que no mercado do Golfo Americano. No caso do diesel, a diferença é maior, de 20,8%.

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