sexta-feira, maio 01, 2009

PAINEL

Sem travas

RENATA LO PRETE
FOLHA DE SÃO PAULO - 01/05/09

Teve de tudo na votação, pelo Senado, da MP 449, que estabelece o parcelamento geral de dívidas com a Receita. A simples divisão das forças revela um cenário inusitado, que culminou com a ampliação das benesses aos devedores e uma derrota para o governo.
De um lado, PT e PSDB vocalizando o prejuízo de R$ 29,6 bi ao Tesouro caso prevalecesse o texto do relator, Francisco Dornelles (PP-RJ). De outro, PMDB e DEM a puxar o bloco dos mão-aberta. A Receita procurou senadores para apontar os riscos da retirada da "trava" que fixava piso de 85% da parcela atual para os devedores. Mas prevaleceu o intenso lobby dos setores beneficiados com o "refinanciamento do refinanciamento", a começar pelo sucroalcooleiro, pródigo em financiamento eleitoral.




Deixa que eu deixo. O líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), fez uma defesa apenas protocolar da manutenção da "trava". Tão logo deixava o microfone, liberava os aliados para acompanhar a concessão das bondades -quase todas aprovadas em votação simbólica. 

Titanic. Convidados para a viagem de 14 horas em navio da Marinha para a cerimônia de extração do primeiro petróleo do campo de Tupi respiraram aliviados com o cancelamento do programa de 1º de Maio. Já imaginavam a saia-justa de se equilibrar entre a ministra Dilma Rousseff e o governador José Serra, presidenciáveis a bordo. 

Operação. Foi Edison Lobão, seu aliado desde o tempo em que o hoje ministro presidia o Senado, que convenceu o ex-diretor de RH João Carlos Zoghbi a pedir a aposentadoria. Ele é suspeito de ter usado laranjas para atuar no mercado de crédito consignado. Zoghbi, entretanto, continuará a ser investigado pela sindicância aberta na Casa. 

Currículo. Nomeado para suceder João Carlos Zoghbi na diretoria de Recursos Humanos do Senado, o advogado Ralph Campos Siqueira foi o responsável pelo parecer jurídico que abriu caminho para a aprovação do nome de Luiz Antônio Pagot ao Dnit, à época bombardeado pelo PSDB por ter acumulado cargos em uma empresa e no Senado.

Ressaca. O julgamento que revogou a Lei de Imprensa foi o mais sóbrio entre os recentes no Supremo. Sob o impacto do arranca-rabo entre Gilmar Mendes e Joaquim Barbosa, os ministros estavam para lá de comportados.

Apertou 1. Não rolou o anunciado "acordão" entre as tendências do PT em torno da candidatura de Tarso Genro ao governo gaúcho. Na última hora, graças a uma articulação in loco do presidente da sigla, Ricardo Berzoini, a corrente Construindo um Novo Brasil lançou um outro nome. 

Apertou 2. É o deputado estadual Adão Villaverde, próximo a José Dirceu. Quadro na bancada federal: três votos pró-Tarso, três contra.

Check-in 1. De 4 a 15 de maio, oito auditores da Oaci (Organização da Aviação Civil Internacional) estarão no Brasil examinando a Anac, o Decea (Departamento de Controle do Espaço Aéreo) e o Cenipa (Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos). A equipe terá prazo de nove meses para apresentar suas conclusões. 

Check-in 2. Criado em 1998, o programa da Oaci já passou por 124 países. O Brasil está na "fila" para ser auditado desde 2005 -antes, portanto, da crise aérea. 

Visita à Folha. Antonio Quintella, presidente do Credit Suisse, visitou ontem a Folha, onde foi recebido em almoço. Estava acompanhado de José Olympio Pereira, diretor do banco de investimentos, Marcelo Kayath, diretor da corretora, e Mauro Teixeira, da Máquina Comunicação Corporativa Integrada.

Tiroteio

"Esta Casa não é valhacouto de bandidos. Esse Zoghbi tem de ser demitido a bem do serviço público, como ocorria no tempo em que o Brasil tinha mais vergonha na cara." 

De ARTHUR VIRGÍLIO, líder do PSDB, sobre a denúncia de que empresa em nome de "laranjas do" ex-diretor de RH do Senado atuava como intermediária de instituições que operavam crédito consignado na Casa.

Contraponto

Calendário próprio
Em 1999, quando presidente da CPI da Câmara paulistana sobre a máfia dos fiscais, José Eduardo Martins Cardozo interrogava o vereador Wadih Mutran. Entre os documentos da defesa, encontrou fax enviado pelo gabinete do então secretário de Governo, Edevaldo Alves da Silva.
-Está aqui! Chegou ontem!-, disse o petista, exaltado.
Mutran discordou: o papel, segundo ele, tinha mais de mês. Cardozo explicou por que o vereador estava errado:
-É que em fax se utiliza o padrão norte-americano, no qual o mês vem antes do dia...
Mas Mutran não perdeu o rebolado:
-Agora, para me condenar, o sr. vai querer convencer a CPI de que os dias nos EUA são diferentes dos daqui?

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