sexta-feira, maio 08, 2009

NELSON MOTA

Os pastores da miséria


O Globo - 08/05/2009
 

Entra governo, sai governo, e a cada pesquisa do IBGE se repete a mesma pergunta: Maranhão e Alagoas têm os piores índices de desenvolvimento humano do Brasil porque têm os piores políticos, ou será o contrário? Certeza, só de que maranhenses e alagoanos, gente como Ferreira Gullar, Joãosinho Trinta, Graciliano Ramos, Hermeto Pascoal, Djavan, não são melhores nem piores do que gaúchos, mineiros ou cariocas, são só diferentes. E a diversidade é a nossa maior qualidade.

 

Quase 60% das populações desses dois estados sobrevivem do Bolsa Família. Outros estados têm políticos tão ruins, ou até piores, do que os de Alagoas e do Maranhão, mas conseguem progredir, apesar deles. Qual é o mistério? Será que só corrupção, patrimonialismo e incompetência explicam tudo? É pouco, para tanto dano.

 

São regiões de natureza exuberante, de grande riqueza histórica e cultural, com imenso potencial turístico e áreas cultiváveis que sem-terras como Israel e o Japão transformariam em Califórnias tropicais.

 

São estados muito pobres, lamentam-se os seus políticos muito ricos, sempre culpando o processo histórico e os governos anteriores.

 

Será que faltaram verbas e incentivos para Maranhão e Alagoas com Sarney e Collor no poder? Será que Sarney e Renan Calheiros, como cardeais do lulismo, não usam sua força política para alavancar verbas para seus estados? É o que esperam maranhenses e alagoanos.

 

Mas a miséria continua, enquanto o resto do Brasil cresce.

 

Nesses casos, os tucanos não podem gritar que é culpa do PT, que não governou nem um nem outro.

 

Nem os petistas vão dizer que eles estão assim por culpa do neoliberalismo, quando a maior parte do país progrediu. Nem o Zé Dirceu vai acusar “a direita”. A culpa não é dos comunistas, nem dos americanos, nem de Deus.

 

Como diria Wilson Simonal, nem vem que não tem. A conversa mole do preconceito não cola: o caso é mesmo de mau conceito, em números e fatos. Os amigos maranhenses e alagoanos sabem melhor do que ninguém do que estou falando. Mas ainda não sabem desvendar o mistério e quebrar o encanto.

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