quinta-feira, maio 07, 2009

MÍRIAM LEITÃO

Teste de esforço


O GLOBO - 07/05/09

Hoje, às 18h, o mundo vai saber o destino dos bancos americanos. O “estresse” da economia global é com o resultado dos testes de estresse dos bancos dos Estados Unidos. Quantos vão precisar de quanto capital? O governo americano anuncia hoje a auditoria que fez em todas as 19 maiores instituições, e o resultado é um segredo que foi sendo divulgado em pedaços para, exatamente, acabar com a ansiedade.

Quem passar pelo teste com necessidade de aumentar o capital terá um mês para apresentar os planos de como fará isso e até novembro para executar. Já se sabe que os bancos passaram no teste e foram reprovados ao mesmo tempo. Vai ser anunciado que todos são viáveis, mas que a maioria precisará de mais capital. Ou seja, não são viáveis como estão, apesar da grande injeção de recursos do contribuinte que já foi aplicada em vários deles. Esse dinheiro novo virá de captações no mercado, ou de capitalizações através do Tesouro americano.

A economista Mônica de Bolle, da Galanto Consultoria, que trabalhou no FMI na época em que Timothy Geithner, atual secretário do Tesouro americano, também trabalhava lá, disse que a estratégia de ir soltando em doses homeopáticas as informações sobre os resultados das auditorias é uma forma de levar o mercado para convergir para um cenário e, assim, evitar surpresas no dia D.

Já se sabe, por exemplo, que o Bank of America (BofA) precisará de mais US$ 35 bilhões. O banco, é bom lembrar, apareceu como salvador num primeiro momento da crise. Ele quase comprou o Lehman Brothers e acabou absorvendo o Merrill Lynch. Depois disso, enfrentou dificuldades e precisou não só de capitalizações como de garantia do Fundo Garantidor dos Depósitos, quando anunciou prejuízos altos com a operação do Merrill Lynch.

Apesar de toda a euforia dos últimos dias nas bolsas de valores, com altas fortes em abril, como mostramos ontem aqui, permanece inconcluso o problema fundador da atual crise: o rombo nos bancos americanos. Eles continuam carregando ativos sem liquidez, sem preço, sem chance de resgate. Permanecem com enormes desequilíbrios entre ativos e passivos. O FMI, recentemente, recalculou para US$ 4,1 trilhões as perdas do sistema bancário mundial ao longo dessa crise, sendo que só um terço disso foi para balanço.

O governo Bush, no sufoco da explosão da crise após o caso Lehman, fez imensos depósitos nos bancos para garantir a solidez das instituições. O governo Obama começou sob o peso da promessa de campanha de que não se colocaria mais dinheiro do contribuinte em banco que poderia não se recuperar. Isso é que levou ao desenvolvimento da tecnologia dos testes de estresse nos bancos para uso de algumas das ferramentas criadas pelo Plano Geithner: capitalização pura e simples ou compra de ativos podres em leilão por fundos público-privados, ou uso de recursos do Talf, um programa para dar liquidez a vários tipos de dívida.

Mas, no fundo, não mudou muito. Os bancos continuarão sendo capitalizados com dinheiro do contribuinte, ainda não se sabe qual é o fundo desse poço, o sistema de crédito não voltou ao normal, o governo não chama de estatização o que estatização está sendo, os acionistas e administradores continuam basicamente os mesmos. Sem a remoção dessa enorme pedreira do meio do caminho, não haverá possibilidade de recuperação sustentada da economia mundial, o que significa que nossos destinos, queiramos ou não, dependem do saneamento dos bancos americanos.

Ontem, várias notícias foram divulgadas antecipando informações sobre eles. No “Wall Street Journal” informou-se que o Bank of America vai precisar de mais US$ 35 bi – no dia anterior o jornal tinha dito que tanto o BofA quanto o Citibank precisariam de mais capital. O “Washington Post” informou que o BofA não terá que fazer um aumento de capital propriamente dito, mas sim aumentar sua parcela de ações ordinárias em US$ 35 bilhões. Na “Bloomberg”, a informação foi que, além destes, o GMAC precisaria de US$ 11,5 bilhões, o Wells Fargo necessitaria de cerca de US$ 15 bi e o Goldman Sachs não receberia recursos. O site “CNN Money” noticiou que alguns bancos regionais também carecem de recursos. E o “New York Times” ressaltou o fato de que o JP Morgan e o Morgan Stanley não precisarão de dinheiro novo. Sobre o Morgan Stanley, a “Bloomberg” também informou que ele não necessitará de recursos, mas o “Wall Street Journal” o colocou no grupo dos que precisam de dinheiro.

No “Financial Times”, o economista Nouriel Roubini publicou um artigo dizendo que 10 dos 19 bancos precisarão de mais capital. Mais importante, para ele, é o fato de que permanecem as dúvidas principais sobre como bancos insolventes conseguirão ressurgir e evitar o risco sistêmico, e como manter à tona bancos que já naufragaram, na prática, na insolvência.

A economia tem que pedir uma velha frase emprestada da política para se definir. Ela também muda como nuvem. Os países da OCDE estão com a menor inflação em 38 anos, apenas 0,9% nos últimos 12 meses, segundo relatório divulgado ontem. Há um ano, o grande fantasma era o do descontrole inflacionário global. Hoje, só uns poucos países continuam com inflação. Infelizmente, o problema bancário não é uma nuvem que vai se desfazer tão cedo. O problema vai durar, no mínimo, até novembro.

Com Leonardo Zanelli

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