sábado, maio 09, 2009

MARCOS CAETANO

Como antigamente

JORNAL DO BRASIL - 09/05/09

Depois de muitas edições com o título sendo disputado por dois ou três clubes – e de três anos que se constituíram num monólogo são-paulino – o Campeonato Brasileiro iniciará sua nova edição, neste final de semana, com fôlego renovado. O sucesso de uma competição baseia-se em três quesitos: grandes craques, bom nível de jogo e equilíbrio. Um campeonato com craques e sem bom nível não é um bom campeonato. Da mesma forma, um campeonato equilibrado, mas sem craques, não encanta. E um campeonato de alto nível, mas sem estrelas ou equilíbrio, também cheira a fracasso.

O auge do futebol de clubes no Brasil ocorreu entre o final dos anos 60, quando as disputas deixaram de ser regionais para ter abrangência nacional, ao início dos anos 80, quando o êxodo de craques começou a minar nossas equipes. Pena que, sobretudo no final dos anos 70, os campeonatos eram inchados e intermináveis – ainda que com o consolo de, com raríssimas exceções, terem sempre premiados os melhores times. A presente edição do Brasileirão, tem a seu favor, além do sistema mais justo dos pontos corridos, uma rara combinação de craques, bons times e equilíbrio. E isso me anima a apostar numa competição como aquelas de antigamente.

No quesito craques, não temos do que nos queixar. Embora os principais clubes não tenham três ou quatro foras-de-série, como nos áureos tempos, ao menos no comando do ataque não faltará talento. Poucos campeonatos têm centroavantes do quilate de Keirrison, do Palmeiras, Washington, do São Paulo, Nilmar, do Inter, Neymar, do Santos, Fred, do Fluminense, Adriano, do Flamengo e Ronaldo, do Corinthians. Se alguém duvida do poder de fogo dos atacantes brasileiros, basta recordar que os três últimos da lista foram selecionados por Parreira para a Copa da Alemanha, onde, aliás, todos marcaram gols.

No quesito equilíbrio, a temporada parece ser das mais animadoras. Os quatro grandes de São Paulo chegam para lutar pelo título e pela hegemonia do estado na década. O São Paulo não deverá monologar, mas tem todas as condições de, como especialista em pontos corridos, vencer o diálogo áspero da disputa. O Palmeiras é um time que, se reencontrar a regularidade do início da temporada, será sério candidato. O Corinthians já tem regularidade. E tem Ronaldo, o que o coloca em posição invejável. O Santos corre por fora, mas o time é aguerrido, tem padrão e, se Neymar crescer e aparecer, poderá surpreender. Entretanto, para o bem da disputa, nem só de paulistas viverá este campeonato. No Rio, reforçado pelo filho pródigo Adriano, o Flamengo sonha alto. O Flu tem um bom elenco do meio para frente e um grande treinador. Se conseguir reforços para a frágil defesa, entrará na briga. O Botafogo tem menores chances, mas, como o Santos, aposta na regularidade.

Não fica por aí. Para justificar o terceiro quesito, que trata do nível das equipes, Cruzeiro, Grêmio e Internacional também são candidatos. O Inter, aliás, talvez seja o mais candidato de todos. Muitos dos entendidos de futebol, se convidados a apostar no escuro em um bolão, antes do pontapé inicial do primeiro jogo, cravariam o colorado gaúcho como campeão. Um Campeonato Brasileiro com representantes de pelo menos quatro estados brigando pelo título é um sonho para quem gosta de bom futebol. E um belo presente para os torcedores no domingo das mães. Nem todo torcedor é mãe. Mas, como elas, sabemos o que é padecer no paraíso. Afinal de contas, sofrer por clubes que nem sempre correspondem às nossas expectativas é nossa especialidade. Quem sabe este ano as coisas mudam de figura, não é mesmo? Que comecem os jogos!

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