domingo, maio 24, 2009

FERNANDO CALAZANS

Mazelas, mazelas

O GLOBO - 24/05/09

Não foram poucas as mazelas do nosso futebol que ficaram bem claras nos jogos decisivos das quartas de final da Copa do Brasil, disputados na última quarta-feira. 
Ao contrário, foram tantas que não houve espaço na coluna em que analisei os jogos. Elas começaram logo aos 6 minutos de jogo, quando Eduardo Ratinho, do Flu, cometeu a falta que originou o primeiro gol do Corinthians.
Uma falta perto da área, ao gosto de Chicão, que meteu na gaveta: 1 a 0 para o Corinthians. Era tudo que o o Fluminense não queria. À beira do campo, o técnico Parreira fez um comentário de forma discreta: “Não pode fazer falta ali”.

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Professor Parreira: fazer faltas, em qualquer lugar do campo, é o que as divisões de base mais ensinam aos jovens jogadores no Brasil, há muito e muito tempo. 
Como o senhor deve saber. Ensinam a fazer faltas, ensinam a não deixar jogar, muito mais do que ensinam a jogar futebol.
Console-se com essa realidade: não é só o seu jogador. São jogadores de todos os nossos clubes. Eles não pensam mais em roubar uma bola para dar prosseguimento ao jogo. Não. 
Já entram com a decisão de fazer a falta, de parar o jogo, mesmo nas situações mais favoráveis a eles próprios. Pode estar certo de que seu meia Thiago Neves também já fez gols em faltas absolutamente desnecessárias e impróprias praticadas pelos adversários.

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Por falar em faltas, houve algumas delas que mereciam severa punição, mas que os juízes “fingiram” não ver. É outra de nossas mazelas: a covardia dos juízes. No Maracanã, houve o lance mais vergonhoso. Depois de levar justo cartão por tentar simular um pênalti, logo no início, um tresloucado Maicon cometeu falta violenta. 

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O trapalhão Carlos Eugênio Simon meteu a mão no bolso para tirar cartão e partiu pra cima do jogador. 
Mas, ao perceber que era Maicon e ao lembrar-se de que ele já tinha um amarelo, fingiu que não era com ele, desviou-se, deixou o cartão no bolso, foi saindo de fininho, sem sequer se vexar de cometer atitude tão pusilânime na frente de um estádio inteiro, com TV para todo o país.

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Ou terá sido mais vergonhoso o lance no Beira-Rio em que Aírton, do Flamengo, pisou acintosamente em Nilmar, caído, deixando marcas de sua chuteira no corpo do outro. 
O juiz de lá, Paulo César Oliveira, costuma ser mais corajoso e competente, mas, na hora, tal como Simon, preferiu não se comprometer, preferiu se curvar.

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O STJD podia requisitar a fita do lance, mas são tantos lances e tantas fitas que fica muito trabalhoso, não é? E, mesmo que não ficasse, um tribunal esportivo e outro tribunal esportivo costumam demonstrar estranhos antagonismos. 
Entre muitos casos, tivemos o mais recente, do técnico Cuca, condenado a uma suspensão de 90 dias pelo TJD do Rio. Levado o caso ao STJD, o técnico foi simplesmente absolvido. Quer dizer: de 90 dias de suspensão passou para dia nenhum, o que pode levar o leigo a crer, com justificativa, que um dos tribunais está completamente 
errado. 

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Como escrevi na quarta-feira, qualquer punição de 365 dias aplicada por um tribunal esportivo pode passar para uma suspensão de 365 minutos, numa instância superior. Agora, por exemplo, vamos ver como acaba a suspensão de 30 dias muito bem imposta a Juan, o raivosinho do Fla. São mesmo tantas mazelas no futebol brasileiro que uma coluna é pouco. 

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Numa das próximas, será abordado o tema dos técnicos, os professores doutores que desrespeitam a lei, desrespeitam o torcedor, desrespeitam até o colega do outro lado, deixando de dar a escalação de seu time na hora estabelecida pela CBF e pela Fifa. É mais um tipo de “esperteza” daqueles que querem levar vantagem em tudo.

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