quinta-feira, maio 21, 2009

COISAS DA POLÍTICA

Ação imediata contra o perigo

Mauro Santayana

JORNAL DO BRASIL - 21/05/09

A Polícia Federal e as autoridades estaduais começam a desmantelar o movimento neonazista que se articula no Sul do país. Não se trata de uma manifestação de enfermidade mental, apenas. Além das várias demonstrações de brutalidade de jovens tatuados com a suástica, contra negros e mestiços, são cometidos assassinatos, como ocorreu recentemente em um subúrbio de Curitiba. Membros desses movimentos planejavam atentados contra sinagogas, e assassinatos de judeus e negros. O governador Roberto Requião, diante do fato, tomou medidas imediatas, determinando à polícia que identifique os grupos neonazistas e encaminhe os seus responsáveis à Justiça.

O problema não é novo, e remonta aos anos 30, quando os nazistas se organizaram de tal forma, na região, que mantinham mais de mil escolas e várias estações de rádio. Um gauleiter do Partido Nazista exercia abertamente as suas funções de delegado de Hitler. Poucos lustros depois da derrota do nazismo, voltaram a rearticular-se. Ampliaram agora sua ação, fomentando o separatismo do Sul, sob o pretexto da presumida superioridade da raça branca, que é maioria na região. Entre muitos descendentes de alemães e poloneses remanesce o antissemitismo como manifestação atávica de ódio. Entre os italianos, há ainda os saudosistas do fascismo, que se correspondem com os neofascistas da Legga Lombarda. Os projetos de separatismo são mais graves do que muitos imaginam. Eles se baseiam no antigo projeto de Hitler, de construir, no Sul do Continente, e a partir do Paraná, uma Germânia Austral, que englobaria também a Argentina, parte do Paraguai e da Bolívia, e o Chile.

Sempre que há notícias desses movimentos, costumamos balançar os ombros, uns, e sorrir, outros. Não podemos imaginar que eles possam crescer e ameaçar a unidade nacional. É melhor não menosprezá-los. Temos que os localizar, identificar seus líderes, impedir sua articulação, neutralizá-los, enquanto é tempo. Estamos cometendo o erro de transformar a sociedade brasileira em um arquipélago de falsas etnias. Asseguramos aos índios direitos que são negados aos outros brasileiros, entre eles, o do acesso à terra necessária à sobrevivência. Reconhecemos a algumas povoações, sob o pretexto de que são remanescentes dos antigos quilombos, propriedade sobre áreas muito mais amplas daquelas que realmente ocupam e nelas trabalham.

A qualquer momento, sob o pretexto de que, em algumas áreas do Sul, os descendentes de europeus constituem maioria, poderá ser criado grave problema político, com o apoio também econômico dos movimentos neonazistas europeus. O que parece absurdo hoje pode ocorrer amanhã, como mostra a História. Foi para proteger os alemães residentes na Tcheco-Eslováquia que os alemães avançaram para o Leste e, com a covarde aquiescência da Inglaterra, da França e da Itália, ocuparam a Boêmia, abrindo caminho para a invasão da Polônia. Quando os aliados se deram conta do erro cometido com o Acordo de Munique, os alemães já haviam acumulado forças para ocupar toda a Europa e mantê-la sob seu domínio.

Se o passo de Hitler tivesse sido fechado logo no início, o mundo teria evitado a morte de dezenas de milhões de pessoas, e não herdaríamos questões políticas tão embaraçosas, como a intolerável situação da Palestina. O racismo antissemita nada tem a ver com a justa oposição da consciência do mundo ao que ocorre na área, em que um Estado estrangeiro foi imposto contra a vontade dos que habitavam continuadamente o território desde os tempos bíblicos. Falar em "raça" é contrariar verdade científica irrefutável. Se admitíssemos essa teoria veterinária, que nada tem como os homens, a "raça" superior seria a negra, posto que foi na África que se iniciou a nossa espécie.

Nossa extensão continental e a unidade política, que conseguimos com grandes sacrifícios dos primeiros povoadores e com a inteligência estratégica dos portugueses, se vê ameaçada quando o país consolida a sua presença no mundo e na História. Não há como contemporizar com esses grupos. O governo já pensa em criar um grupo especial de trabalho para monitorar o problema e superintender as atividades políticas e policiais na exigida repressão. Dentro da lei, sem os excessos que são condenáveis em qualquer circunstância, as forças do Estado irão vigiá-los e levá-los aos tribunais. Eles devem ser localizados onde se encontrem, no aparelho do Estado e na sociedade. Não há tempo a perder. Como sabemos, a loucura é também contagiosa.

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