domingo, maio 24, 2009

CLÓVIS ROSSI


A bolsa ou a vida

FOLHA DE SÃO PAULO - 24/05/09

SÃO PAULO- A Bolsa de Valores zerou este ano, até agora, as perdas sofridas a partir de outubro, auge da crise. O emprego nem remotamente. O rendimento dos salários tampouco: além de continuar medíocre como é há séculos, ainda retrocedeu algo mais.
Não obstante, há festa no arraial. Sinal de que estamos de volta ao espírito pré-crise: o que importa é a felicidade do capital. A vida, bom, a vida a gente toca como Deus manda, como diria o caboclo no seu conformismo também secular, afogado nas águas ou torrando ao sol das secas impenitentes.
Não é só no Brasil. Na Espanha, por exemplo, a Bolsa, este ano, está em território positivo. Mas, no ano até abril, o número de postos de trabalho decepados bateu em 1,1 milhão, à base portanto de 100 mil por mês, arredondando.
Não obstante, a ministra da Economia, Elena Salgado, vê uma luz no fim do túnel e é capaz de jurar que não se trata de trem vindo em sentido contrário, frase que já deveria ter caído em desuso.
Com isso, a gritaria a respeito da falência do capitalismo selvagem, a pregação quase missionária em favor de uma nova arquitetura financeira global capaz de mitigar os efeitos perversos da jogatina -está indo tudo para o saco.
Tanto que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva chama de "trambique" as apostas em derivativos, que afundaram a Sadia. Mas o BNDES, banco público, põe dinheiro para ajudar na compra da empresa supostamente "trambiqueira" pela Perdigão, compra tratada com o codinome de fusão.
Se é trambique, como diz Lula, deveria ser regulado pelo governo, e não incentivado via BNDES, não?
Menos mal que pelo menos Barack Obama já soltou seu plano para regular justamente os tramb... ops, derivativos. Sei não, mas desse jeito os EUA correm o risco de saírem mais sólidos que outros da crise que criaram.

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