terça-feira, maio 05, 2009

CELSO MING

A rota do Pacífico


O Estado de S. Paulo - 05/05/2009
 

 

As estatísticas do comércio exterior de abril consolidam a posição da China como importador número um de produtos brasileiros. Esse não é um fato esporádico construído numa situação de crise global. É uma das primeiras manifestações da enorme transformação do jogo econômico global.

Ainda ontem, em seminário da Sobeet sobre "Desafios da Internacionalização", o diretor de Comércio Exterior da Fiesp, ex-embaixador do Brasil na Inglaterra e nos Estados Unidos Rubens Barbosa, avisou que o eixo do comércio do Brasil está se deslocando do Atlântico para o Pacífico. É isso também o que indicam os números de comércio exterior.

Esta coluna tem alertado para as enormes oportunidades que surgem agora com a emergência da China, da Índia e de mais um punhado de asiáticos ao topo da economia mundial. Quando os emergentes eram os Estados Unidos - ao longo do século 20 -, o Brasil, juntamente com os vizinhos da América do Sul, foi praticamente alijado da lista de seus fornecedores. 

Os Estados Unidos tinham quase tudo de que precisavam: energia, alimentos, matérias-primas minerais e capitais. Foi dura a vida que sobrou para o Brasil. Durante a maior parte dos últimos cem anos, teve de se conformar a quase unicamente produzir e exportar café. As coisas agora mudam porque os asiáticos não têm nem petróleo, nem alimentos, nem matérias-primas. O Brasil ajusta seu sistema produtivo para a nova realidade.

Os líderes da indústria brasileira e, ainda, de um punhado de economistas com visão tradicional veem esse aumento da demanda de produtos brasileiros pela China com tripla dose de desconfiança. Primeiro, consideram o manufaturado brasileiro praticamente alheio à pauta asiática de importações. A partir daí, criticam o que entendem como regressão aos tempos de exportação de produtos com baixo valor agregado (primários). Segundo, porque percebem que o aumento das exportações para a China tende a valorizar o real diante do dólar e isso, em princípio, vai tirar competitividade do produto industrializado brasileiro. E, terceiro, porque acham que, à medida que a China salva os resultados do comércio do Brasil, fica mais difícil lutar contra a invasão chinesa de produtos asiáticos.

Esse viés negativista por parte da indústria e de alguns economistas não considera o fato de que boa parte dos produtos primários brasileiros de exportação embute enormes avanços tecnológicos. Uma tonelada de soja ou uma tonelada de celulose contêm teor de tecnologia comparável ao de uma tonelada de aço. Os maiores exportadores desse tipo de produto no mundo são os Estados Unidos e não é por isso que devem ser considerados atrasados no seu sistema produtivo.

Não há dúvida de que a situação superavitária do Brasil no comércio exterior tende a valorizar o real. Mas o que se pretende, afinal, não é melhorar as condições de exportação do produto brasileiro, qualquer que seja seu valor agregado? 

Isso vai exigir que a indústria brasileira se ajuste e lute por melhorias nas condições gerais de competitividade. Para isso, é preciso garantir aumento de escala de produção por meio do maior acesso aos mercados, a ser obtido com novos acordos comerciais e redução acentuada do custo Brasil, começando pela enorme carga tributária. 

Confira

Sem drama - Se é verdade que só 6 dos 19 bancões americanos submetidos a testes de estresse irão precisar de injeção de capital, então o problema patrimonial parece equacionado.

O pressuposto é o de que, na média, cada um deles não precise mais do que US$ 10 bilhões em reforço de capital. Que sejam US$ 20 bilhões...

Ora, no total de recursos disponíveis para enfrentar o problema dos bancos, o secretário do Tesouro, Tim Geithner, já dispõe de US$ 134,6 bilhões, mais do que o dobro (US$ 120 bilhões) do que seria exigido para atender a esses supostos 6 bancos americanos.

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