terça-feira, abril 14, 2009

ELIANE CANTANHÊDE

Pacto na forma, sem conteúdo

FOLHA DE SÃO PAULO - 14/04/09

BRASÍLIA - O lançamento do Pacto Republicano, ontem, com os presidentes da República, do Supremo, do Senado e da Câmara -ou seja, dos três Poderes- foi uma vitória política de Gilmar Mendes, quase uma vitória pessoal.
A opinião pública pode ainda estar dividida quanto a endeusar ou demonizar o delegado Protógenes Queiroz, mas Gilmar Mendes definitivamente conquistou Lula e reverteu a tendência inicial, principalmente de Tarso Genro, de apoiar e até se regozijar com a Operação Satiagraha. Agora, todos eles se unem na defesa da legalidade, dos limites policiais e dos direitos individuais, que foram os motes da cerimônia de ontem. Gilmar ganhou essa batalha e ontem mesmo já deu sinais de estar iniciando uma outra, novamente na contramão: a favor do Congresso.
Mas, já que ele gosta de uma polêmica, vamos dar uma mãozinha: 1) o ministro disse que, "quanto mais abrangente, criteriosa e participativa for a atuação do Congresso, melhor, mais eficiente e legítimo será o processo de aperfeiçoamento das instituições democráticas". Ok.
Mas o que se vê não tem nada disso, muito menos de criterioso: salários extras no recesso, contas de R$ 14 mil de celulares públicos em mãos de filhos, aluguéis de jatinhos para quem já tem jatinho, notas e pagamentos para as próprias empresas e 130, 180, sei lá quantos diretores no Senado;
2) para Gilmar, em apaixonada defesa, "a Justiça avança a olhos vistos em busca do grau de excelência". Há controvérsias...;
3) a cerimônia passou, mas até a noite os projetos que dão contorno e vida ao que foi dito ali não haviam sido divulgados. Aparentemente, os presidentes dos três Poderes acertaram tudo entre eles, mas faltou combinar com "os russos": a Casa Civil, que encrencou com os textos.
Houve precipitação? O Pacto Republicano, portanto, por ora, ficou na foto, no dito pelo não dito, na forma, sem conteúdo.

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