quinta-feira, fevereiro 05, 2009

DANIEL PEREIRA

Programa de Aceleração da Candidata


Correio Braziliense - 05/02/2009
 
Anúncio de reforço no PAC sinaliza o ínicio da campanha de Dilma à Presidência da República

arlos Moura/CB/D.A Press
Dilma, a “mãe do PAC”, deve ser a candidata do governo ao Planalto
 
A apresentação do balanço oficial de dois anos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) — marcada pelo anúncio de R$ 502 bilhões em investimentos na área de infraestrutura a partir de 2011, 165% a mais do que o previsto inicialmente —serviu de palanque para a provável candidatura da ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, à Presidência da República. Seguindo roteiro traçado no Palácio do Planalto, Dilma e os ministros Paulo Bernardo (Planejamento) e Guido Mantega (Fazenda) reforçaram ontem dois discursos que pretendem usar na disputa eleitoral em 2010. 

Um deles diz que o governo atual aumenta os investimentos e a defesa do emprego em momentos de crise, ao contrário das gestões anteriores, que seguiram o receituário imposto pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) e optaram por corte de gastos nos momentos de forte desaceleração econômica. Segundo um dos ministros mais influentes do governo, a ideia é reforçar essa diferença e levar os brasileiros a escolher entre os dois caminhos nas próximas eleições. O Planalto está certo de que haverá opção pelo modelo petista. O otimismo se sustenta nos níveis recordes de aprovação popular do governo e do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. 

“O governo não está parado e inerte diante da crise como ficava antes. Toda a estrutura do país estava montada para não ter obra. O negócio era não gastar”, declarou Dilma. “Se não tivéssemos lançado o PAC, teríamos de inventá-lo agora. Já estávamos fazendo política anticíclica há dois anos”, reforçou Mantega. 

Nome ideal 
Ao insistir na comparação com a gestão tucana, Lula e os ministros reforçarão que a verba adicional só sairá do papel caso o país siga o rumo atual. Além disso, dirão que a pessoa mais qualificada para executar os investimentos adicionais é justamente Dilma, por ser a “mãe do PAC”. Esse segundo discurso foi entoado ontem duas vezes. Um deles foi feito pelo próprio Lula. 

“Ela é a pessoa mais qualificada hoje para governar o Brasil. Ela coordena os principais programas de desenvolvimento e conhece muito bem o Brasil. É uma gerente extraordinária”, declarou o presidente em entrevista à BBC. O discurso se repetiu no Planalto. 

Desde o ano passado, o governo discutia a inclusão de novos projetos no PAC. A negociação ganhou velocidade a partir de outubro, quando a crise econômica atingiu em cheio o país. Diante da retração da produção e da possibilidade de uma onda de desemprego, que poderia minar a popularidade de Lula, o Planalto decidiu reforçar os investimentos em infraestrutura e na área social. Parte dos R$ 37,2 bilhões em recursos orçamentários bloqueados provisoriamente até março, por exemplo, serão remanejados para ministérios que atuam nessas duas áreas. “Estamos certos de que vamos ajudar a empurrar a economia para níveis próximos dos citados por Mantega”, declarou Bernardo, referindo-se à meta de expansão de 4% do PIB neste ano. 

Em reunião ministerial na última segunda-feira, Lula cobrou dos auxiliares que invistam mais e mais rápido. Defendeu trabalho em três turnos, se possível, a fim de ampliar a oferta de emprego. “O PAC também é uma obra coletiva”, disse Dilma ontem, num misto de agradecimento e cobrança aos colegas. “E, por isso, se tornou possível num país que passou os últimos 25 anos sem investir”, arrematou.


Cotoveladas de Dilma

Depois de ser escolhida por Lula para disputar a sucessão presidencial, a ministra Dilma Rousseff adequou o visual ao perfil de candidata. Abandonou os óculos de grau, emagreceu e até plástica facial fez. Deu uma “arrumada” na forma, como disse o ministro José Múcio Monteiro. O balanço de dois anos do PAC deixou claro, no entanto, que não houve mudanças visíveis de comportamento. 

Ontem, quem entrou em campo foi a “gerentona da máquina”, que tanto respeito — e temor — provoca nos colegas de governo. O resultado foi uma sucessão de cotoveladas. A mais forte atingiu uma repórter da rede de televisão italiana RAI. Ela quis saber a opinião de Dilma sobre a decisão do governo brasileiro de não extraditar o suposto terrorista Cesare Battisti. “Eu agradeço sua pergunta, mas não vou respondê-la. Isso é um balanço do PAC”, replicou a ministra com contundência. Diante do mal-estar, o ministro de Comunicação Social, Franklin Martins, convenceu Dilma a manifestar sua opinião depois de encerradas as perguntas sobre o PAC. 

Já no início do balanço, Dilma mostrou a mão que assombra a Esplanada. Voz firme, cobrou celeridade dos técnicos na apresentação de fotos. “Por favor, rápido. Por favor, rápido. Quem está passando? Você quer passar rápido, por favor”, disse, referindo-se a slides sobre rodovias. A ordem foi repetida quando eram citadas obras em ferrovias. Nesse caso, a ministra tentou se explicar: “Eu quero dar mais espaço para perguntas”. Foi no bate-papo com os jornalistas que o ministro Paulo Bernardo confirmou a fama de durona da chefe da Casa Civil. Ele ressalou que só detalharia uma explicação dada por Dilma porque ouvira uma determinação dela nesse sentido. “Talvez não fosse necessário, mas ela me cobrou”, lamentou, resignado. Segundo pesquisa CNT/Sensus divulgada na terça-feira, Dilma tem 13,5% das intenções de voto para presidente, contra 42,8% do governador de São Paulo, José Serra (PSDB). Em relação ao levantamento anterior, ela cresceu três pontos percentuais e ele caiu quatro.

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