sábado, dezembro 13, 2008

FERNANDO RODRIGUES

Bimbalham os sinos no Congresso


Folha de S. Paulo - 13/12/2008
 

A crise econômica batendo à porta tem sido um bálsamo para os políticos e suas mazelas.
Outro dia a Câmara absolveu o deputado Paulinho da Força Sindical, do PDT de São Paulo. Ele era acusado de atuar num esquema de desvio de dinheiro público. Negou as acusações, apesar de o relator do caso ter sustentado haver provas.
Ficou tudo por isso mesmo.
Agora, o Senado se prepara para dar apoio a uma farra de vereadores. Haverá um aumento de 7.343 cadeiras nos Legislativos municipais em todo o país.
A Câmara já aprovou a medida. A proposta tem chance de passar pelo Senado na semana que vem, quando a maioria dos brasileiros já estará ouvindo o bimbalhar dos sinos das festas de fim de ano.
No Brasil, ser político é quase exclusivamente uma forma de ascensão social. Os locais têm um apetite insaciável pelas boquinhas. Basta lembrar o número de deputados federais. Aqui, para 190 milhões de brasileiros há 513 cadeiras na Câmara. Nos EUA, são 305 milhões de pessoas e apenas 435 vagas.
Eleger um grande número de representantes pelo voto direto não é uma má idéia em si. Mas é difícil imaginar que Campos do Jordão, em São Paulo, será uma cidade melhor porque poderá ter 13 e não apenas nove vereadores. No geral, os municípios paulistas terão um acréscimo de 1.189 vereadores. É mínima a chance de se tornarem cidades com nível de vida mais elevado por causa dessa farra.
Nada contra haver mais gente sendo eleita. O problema no Brasil é o cargo público vir sempre acoplado a algum risco de aumento de despesa. Não passa pela cabeça dos gênios no Congresso que vereadores de cidades com até 30 mil habitantes não precisariam ser remunerados.
Mas aí perderia toda a graça ser político. Poucos se interessariam em demonstrar tanto espírito público e democrático.

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