quinta-feira, dezembro 11, 2008

ELIANE CANTANHÊDE

Só cumpre quem quer


Folha de S. Paulo - 11/12/2008
 

"Buraco negro" não há, nem os pilotos norte-americanos desligaram o transponder para se divertir com o brinquedinho novo em folha, conforme os controladores cogitaram desde o acidente com o Gol 1907, que matou 154 pessoas em 29 de setembro de 2006.
Mas há outros "buracos negros" e brincadeiras com a vida alheia, como se viu pelo relatório técnico final divulgado ontem. Se a comissão garante que os radares e equipamentos funcionavam perfeitamente, o mesmo não disse quanto às pessoas que operavam o sistema.
Os controladores se revelaram despreparados desde o primeiro elo da cadeia, quando um jovem de Brasília nem sequer se deu ao trabalho de consultar o plano de vôo do Legacy e falou de qualquer jeito com um experiente colega de São José (SP). Este sabia que eram três altitudes, mas passou uma, e ainda citou "Eduardo Gomes", o aeroporto de Manaus, induzindo os pilotos a descartarem o plano original e seguirem o plano autorizado.
Daí em diante, uma sucessão de tragédias dentro da tragédia. Os controladores, por exemplo, não atualizaram a freqüência de rádio a partir de Brasília. Com a freqüência errada, como o avião e o controle se comunicariam?
E os pilotos não desligaram o transponder para brincar, mas andaram brincando com fogo. Não conheciam o avião nem as regras brasileiras de aviação. Queriam saber a quantidade de combustível e o peso do avião para o pouso em Manaus, mas provavelmente acabaram inserindo números errados e desligando o transponder, que salvaria 154 pessoas.
Bem, mas essa história a 
Folha vem contando direito há bastante tempo. Agora é esperar que as 65 recomendações de segurança geradas pelas investigações dêem em alguma coisa. Pelo andar da carruagem, isso é uma incógnita. A impressão é que cumpre quem quer. Mas a gente tem de andar de avião, querendo ou não...

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