domingo, novembro 16, 2008

JÂNIO DE FREITAS

Muita coisa nas cabeças


Folha de S. Paulo - 16/11/2008
 

Os petistas não têm nem sequer um nome com relevo para representar a evidente reserva partidária a Dilma

O PRÓPRIO Lula pôs em dúvida a seriedade de que "tem um nome na cabeça" para sucedê-lo, claro que "o de Dilma Rousseff", como disse em Roma aos jornais italianos. Àquela frase, juntou o inacreditável: "Ainda não falei com ela, mas creio que poderá ser uma boa candidata". Ou já falou, porque do contrário nem ela entenderia o levá-la a tiracolo para lá e para cá, há tantos meses; ou não falou mesmo, e se não o fez até hoje é porque Dilma pode ser um dos nomes, mas não "o nome" na sua cabeça. Ao que nos cabe acrescentar que ninguém esquece o próprio nome.
Por outros motivos que não a tendência do Lula presidente para negar-se, também o trecho final da frase é duvidoso. Dilma Rousseff tem qualidades que poderiam fazer dela uma ótima presidente. Integridade (ah, como estava sumida esta palavra, por tão escassas oportunidades de uso), inteligência, conhecimento dos problemas nacionais, disposição e competência técnica para o trabalho, e ainda outras. Bom candidato, porém, é de outro feitio. Simpatia, ao menos uma pitada de carisma, linguagem e mensagem bem acessíveis pelo grande público -e por aí vão as condições, nunca percebidas em Dilma Rousseff, que elevam ao cimo um candidato sem raízes eleitorais.
As reações políticas incluíram, nos governistas como na oposição, a crítica a Lula por precipitar o debate de sua sucessão. Não dá para crer que seja exatamente essa a sua intenção. Pela timidez das reações petistas, no entanto, vê-se como um partido de tal tamanho, e com quadros tão diversificados, esvaziou-se na sujeição às inversões do governo Lula: não tem nem sequer um nome com relevo para representar a evidente reserva partidária à candidatura de Dilma Rousseff.
Em sentido oposto ao de Lula, seus sócios peemedebistas querem a cabeça do ministro José Gomes Temporão, da Saúde. A crítica do ministro à Fundação Nacional da Saúde, Funasa, é motivo falso. Antes de tudo, porque a Funasa é razão de muitas suspeitas, inclusive oficiais, no uso de seus vastos recursos. A Funasa está entregue por Lula ao PMDB.
A inconveniência de Temporão está em que olha para a Saúde e não para os pedidos de políticos. Isso o PMDB não admite, por negar grande parte da sua própria razão de ser. Certo é que, se o PMDB conseguir derrubar José Gomes Temporão, logo virá nova orgia de "operações sanguessuga" e similares.
Outro ministro, Carlos Minc, parece avançar com as palavras e recuar nas providências, revelando entre umas e outras certa fraqueza de cabeça, no que se refere à memória. A polêmica em torno da entrada de um combustível diesel com fumaça menos venenosa, essencial para a saúde dos indiferentes paulistanos, pela segunda vez foi adiada por mais seis a sete anos. Estava prevista para janeiro.
Indagado na sexta-feira, por André Trigueiro (GloboNews), sobre sua posição a respeito ao assumir o Ministério do Meio Ambiente, disse Carlos Minc em referência à Petrobras e à indústria automobilística: "O que eu disse foi "ou cumpre ou faz acordo com a Justiça". (...) Foi feito o acordo" -para o adiamento.
Não é verdade. O que Carlos Minc disse, com ênfase quase fúria, foi isto: "Garanto que em janeiro (de 2009) vai estar vigorando, de qualquer jeito. Não tem adiamento".
Mellhor faz a indústria automobilística. Ou fazem por ela. Para reduzir-lhes "as dificuldades", Lula concedeu aos bancos e financeiras das montadoras R$ 4 bilhões. E José Serra repicou com mais R$ 4 bilhões.
As montadoras tão gentilmente socorridas estão na cabeça da relação de setores que mais enviam dinheiro para o exterior, como lucros e dividendos. São autoras de 25% das remessas. Até setembro remeteram quase três vezes o enviado no mesmo período de 2007. Ou seja, como o algarismo 4 ficou meio cabalístico, enviaram US$ 4,839 bilhões. Que, na moeda do generoso socorro, vêm a ser cerca de R$ 11 bilhões.
Socorro!

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