terça-feira, novembro 18, 2008

DORA KRAMER

EXTINÇÃO  DA ESPÉCIE
Cabeça no travesseiro na solidão do quarto escuro, cada governador, parlamentar, prefeito ou petista cheio de votos talvez se pergunte por que todos são preteridos pelo presidente Luiz Inácio da Silva na escolha da candidatura do PT à Presidência da República em 2010.


O que a ministra Dilma Rousseff tem que eles não têm, a não ser uma vida desprovida de relação com o eleitorado contra carreiras sobejamente testadas, e muitas aprovadas, nas urnas?

Se a curiosidade não lhes aguça os espíritos, significa que estão anestesiados. Se a dúvida lhes assola as almas, mas não ousa dizer seu nome, é mais grave: sinal de que estão com medo de confrontar, desagradar ao chefe e, com isso, perder a chance de um dia virem a merecer dele uma unção semelhante.

Em qualquer hipótese, o que se tem é um partido de um homem só rodeado de satélites por todos os lados. Não é uma novidade na estrutura de funcionamento do PT, cuja presença País afora e representação no Congresso cresceram sustentadas nas cinco candidaturas de Lula à Presidência da República.

A singularidade agora é que Lula não pode ser candidato nem dispõe do poder de conduzir as escolhas do eleitor ao molde de sua popularidade.

Constatação singela, óbvia e previsível. Natural, portanto, teria sido o partido, sob a condução de Lula, ter se preparado nos últimos anos para a passagem do bastão. Não a um clone do líder. Este é único em suas características, como de resto é peculiar cada ser humano. Mas a alguém com atributos eleitorais mínimos.

No PT está cheio de gente assim. Tanto está que é com essas pessoas que o partido vem assumindo nos últimos 20 anos o comando de Estados, de um número cada vez maior de prefeituras, aumentando suas bancadas na Câmara, no Senado, nas assembléias legislativas, nas câmaras municipais.

Há lideranças para todos os gostos: locais e nacionais. Nenhuma delas, contudo, jamais recebeu o estímulo do investimento como aposta futura do PT.

Os poucos que tentaram anteriormente, ou saíram do partido ou ganharam vaga no limbo. Dos três que já tentaram abertamente disputar a legenda para presidente, Cristovam Buarque está fora, no PDT, Eduardo Suplicy não passa nas estreladas goelas e Tarso Genro fica limitado às fronteiras do Rio Grande do Sul.

Há muito outros - sem contar os dizimados por escândalos - que poderiam ter cumprido esse papel se houvesse empenho. Não havendo e isso, em tese, contrariando os interesses do partido, só pode haver uma explicação para Lula escolher uma candidata sem-votos e ignorar uma plêiade de companheiros com traquejo e patrimônio eleitorais: impedir o crescimento de alguma liderança que possa vir a lhe fazer sombra.

Ou pior, se revelar bem melhor.

Operação Pinóquio

Os delegados Protógenes Queiroz e Paulo Lacerda mentiram à CPI das escutas ilegais ao negar a participação de agentes - depois confirmada na quantidade de 85 - da Agência Brasileira de Inteligência na Operação Satiagraha.

Podem ser punidos com um pedido de indiciamento por crime de falso testemunho. Já o governo, que também mentiu ao alegar que Protógenes havia sido afastado do caso por livre iniciativa para fazer um "curso de aperfeiçoamento", pelo visto não pagará nenhuma conta, agora que novas gravações provam que o delegado na verdade foi punido por ter cometido infrações legais e funcionais no curso das investigações.

Um pássaro, um avião...

Araponga é uma ave nervosa, canta alto, briga muito e se assusta com facilidade. Por seu comportamento estridente, serviu de codinome ao espião atrapalhado vivido por Tarcísio Meira em minissérie da TV Globo produzida em 1990.

Desde então, o apelido passou a ser usado para designar com ironia os agentes secretos brasileiros lotados no SNI, serviço secreto da ditadura à época em franco processo de desmoralização.

Hoje, o termo araponga está incorporado ao vocabulário cotidiano. O sentido original se perdeu no tempo, mas recupera-se em sua inteireza graças ao minucioso trabalho de restauração feito pela Abin em parceria com a Polícia Federal.

Sem dono

Quando a oposição critica o governo por excesso de gastos, mas ajuda a aprovar no Senado aumento estimado em R$ 9 bilhões nas despesas da Previdência, o roto fala mal do esfarrapado.

O faça o que eu digo, mas não faça o que eu faço é acionado quando a Justiça proíbe o governo de obter créditos extras por medida provisória, mas manda pagar R$ 2 bilhões em auxílios-moradia atrasados para juízes em todo o País.

São atos de naturezas e motivações diferentes, mas, no que tange ao cofre de origem - o Tesouro -, a falta de cerimônia é a mesma.

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