Imunidade preventiva
Dora Kramer
Tímido na abordagem e lento na solução de problemas objetivos, o presidente Luiz Inácio da Silva em mais de uma oportunidade também já mostrou o quanto é ligeiro e destemido quando o assunto é política. Se a questão em jogo for eleitoral, então, não há ninguém mais alerta e pragmático.
Já sentiu de longe o aroma do perigo e, por isso, muito antes de se materializar a preocupação no governo com a extensão da crise econômica mundial para os dois últimos anos de seu mandato, o presidente começou a construir o discurso preventivo à eventualidade de o bolso do brasileiro vir a ser atingido em cheio pelos efeitos da dura conjuntura.
Lula nunca fala do problema na essência, sempre no feitio de acusação. Ora a crise é "do Bush" ora a culpa é das agências de risco "palpiteiras", ora a responsabilidade é do "cassino" montado pelos Estados Unidos no mercado financeiro, ora o demônio está encarnado no "capital internacional" sempre pronto ao massacre contra os países pobres e emergentes.
Não importa o nome do bode, desde que sirva para expiar todas as culpas e afastar do Palácio do Planalto quaisquer ônus políticos decorrentes da crise.
No caso do aprofundamento e do prolongamento do cenário adverso, Lula enfrentaria sua primeira crise de verdade justamente no período em que estaria se preparando para fazer bonito no processo da própria sucessão: saindo dele com a vitória eleitoral debaixo do braço ou com as credenciais de líder da oposição e candidato a presidente em 2014, nas mãos.
Ainda não se sabe a extensão da quebradeira nem se a popularidade de Lula é realmente sustentada só pelo bom desempenho da economia, hipótese em que esse capital se reduziria na mesma proporção do aumento das dificuldades.
Não obstante o pensamento predominante de que uma virada na economia brasileira faria a canoa de Lula virar junto, esta não é necessariamente uma verdade inescapável. Claro que o presidente se valeu nos últimos seis anos de condições internacionais favoráveis e do fato de ter recebido um país muito mais arrumado por reformas combatidas por seu partido.
Nunca foi posto realmente a teste na parte mais sensível do organismo humano economicamente ativo, o bolso. Agora, já mostrou mais de uma vez uma monumental capacidade de manter sua figura a léguas de distância de situações complicadas.
Não foi a economia a responsável pela mágica da separação entre Lula e o PT no momento em que a cúpula da agremiação fundada e mantida sob sua firme direção a vida toda era acusada de montar uma "organização criminosa" no governo presidido por ele.
Tampouco foi o crédito farto o arquiteto da construção do cordão de isolamento entre o presidente e seu chefe da Casa Civil, seu ministro da Fazenda e toda a plêiade de auxiliares envolvidos com toda sorte de ilícitos: de tráfico de influência a quebra de sigilo bancário, passando por flagrantes de compra e venda de dossiês, quando não documentos contra adversários montados dentro do Palácio do Planalto.
O responsável pelo feito chama-se Luiz Inácio da Silva, cuja habilidade de manipulação de fatos, palavras, gestos, emoções e capacidade de inverter a própria lógica da vida não podem ser jamais desprezadas.
Portanto, ainda que o desastre mundial se aprofunde e atinja o Brasil ao ponto de alterar o cotidiano das pessoas, isso não autoriza previsões desastrosas a respeito dos dois anos reservados por Lula para marcar sua passagem para a História.
É preciso conferir se os outros fatores de identificação popular não atuam tão ou mais fortemente que a economia.
As conseqüências poderão ser melhores ou piores, dependendo do talento de Lula para manter a qualidade do desempenho e do grau de tolerância da sociedade para com atitudes antigamente condenadas e hoje promovidas ao terreno dos atos geniais.
Mas até isso o presidente terá de calibrar. Tem chance de sair como vítima, como parece pretender. Mas, se exagerar nos alertas à Casa Branca, chamadas às falas ao Capitólio e bravatas do gênero, poderá revelar-se menor que a expectativa de seus admiradores, abrindo espaço para que partam em busca de portos que porventura venham a se mostrar mais seguros no campo da oposição.
Já sentiu de longe o aroma do perigo e, por isso, muito antes de se materializar a preocupação no governo com a extensão da crise econômica mundial para os dois últimos anos de seu mandato, o presidente começou a construir o discurso preventivo à eventualidade de o bolso do brasileiro vir a ser atingido em cheio pelos efeitos da dura conjuntura.
Lula nunca fala do problema na essência, sempre no feitio de acusação. Ora a crise é "do Bush" ora a culpa é das agências de risco "palpiteiras", ora a responsabilidade é do "cassino" montado pelos Estados Unidos no mercado financeiro, ora o demônio está encarnado no "capital internacional" sempre pronto ao massacre contra os países pobres e emergentes.
Não importa o nome do bode, desde que sirva para expiar todas as culpas e afastar do Palácio do Planalto quaisquer ônus políticos decorrentes da crise.
No caso do aprofundamento e do prolongamento do cenário adverso, Lula enfrentaria sua primeira crise de verdade justamente no período em que estaria se preparando para fazer bonito no processo da própria sucessão: saindo dele com a vitória eleitoral debaixo do braço ou com as credenciais de líder da oposição e candidato a presidente em 2014, nas mãos.
Ainda não se sabe a extensão da quebradeira nem se a popularidade de Lula é realmente sustentada só pelo bom desempenho da economia, hipótese em que esse capital se reduziria na mesma proporção do aumento das dificuldades.
Não obstante o pensamento predominante de que uma virada na economia brasileira faria a canoa de Lula virar junto, esta não é necessariamente uma verdade inescapável. Claro que o presidente se valeu nos últimos seis anos de condições internacionais favoráveis e do fato de ter recebido um país muito mais arrumado por reformas combatidas por seu partido.
Nunca foi posto realmente a teste na parte mais sensível do organismo humano economicamente ativo, o bolso. Agora, já mostrou mais de uma vez uma monumental capacidade de manter sua figura a léguas de distância de situações complicadas.
Não foi a economia a responsável pela mágica da separação entre Lula e o PT no momento em que a cúpula da agremiação fundada e mantida sob sua firme direção a vida toda era acusada de montar uma "organização criminosa" no governo presidido por ele.
Tampouco foi o crédito farto o arquiteto da construção do cordão de isolamento entre o presidente e seu chefe da Casa Civil, seu ministro da Fazenda e toda a plêiade de auxiliares envolvidos com toda sorte de ilícitos: de tráfico de influência a quebra de sigilo bancário, passando por flagrantes de compra e venda de dossiês, quando não documentos contra adversários montados dentro do Palácio do Planalto.
O responsável pelo feito chama-se Luiz Inácio da Silva, cuja habilidade de manipulação de fatos, palavras, gestos, emoções e capacidade de inverter a própria lógica da vida não podem ser jamais desprezadas.
Portanto, ainda que o desastre mundial se aprofunde e atinja o Brasil ao ponto de alterar o cotidiano das pessoas, isso não autoriza previsões desastrosas a respeito dos dois anos reservados por Lula para marcar sua passagem para a História.
É preciso conferir se os outros fatores de identificação popular não atuam tão ou mais fortemente que a economia.
As conseqüências poderão ser melhores ou piores, dependendo do talento de Lula para manter a qualidade do desempenho e do grau de tolerância da sociedade para com atitudes antigamente condenadas e hoje promovidas ao terreno dos atos geniais.
Mas até isso o presidente terá de calibrar. Tem chance de sair como vítima, como parece pretender. Mas, se exagerar nos alertas à Casa Branca, chamadas às falas ao Capitólio e bravatas do gênero, poderá revelar-se menor que a expectativa de seus admiradores, abrindo espaço para que partam em busca de portos que porventura venham a se mostrar mais seguros no campo da oposição.
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