domingo, abril 12, 2020

Caixa de pandora, clube-empresa pode modernizar futebol no país - PVC

FOLHA DE SP - 12/04

Só dez times estiveram representados em discussão sobre novo modelo de gestão



A convocação dos vinte clubes da Série A, para discutir mudança da legislação e a possibilidade de criar uma linha de crédito para quem virar empresa, dividiu os dirigentes na quarta-feira (8). Só dez times estiveram representados e, entre eles, quem julga a transformação do modelo societário uma piada.

Como você já leu aqui, virar sociedade anônima não vai produzir o milagre dos títulos nacionais e internacionais. Só um vai vencer cada campeonato. Mas está óbvio há décadas que o modelo político em que dirigentes têm domínio sobre um grupo de conselheiros despreparados já fez água.

Há mais política do que trabalho, mais espuma do que conteúdo. Contratam-se jogadores por repercussão, demitem-se treinadores por pressão.

Com o atraso da gestão, há casos relatados de investidores internacionais mais interessados em se associar a clubes da Colômbia do que do Brasil. Tem de mudar.

Ao saber da convocação da Frente Parlamentar do Esporte para que os vinte clubes da Série A discutissem a mudança de legislação, o presidente da Câmara Federal, Rodrigo Maia, disse: “Não estou sabendo da reunião, mas julgo que temos de tratar disso.”

Maia caminha com o projeto de lei do clube-empresa do deputado Pedro Paulo (DEM-RJ). Pode não ser o ideal, mas o Congresso tem demonstrado mais preocupação do que os dirigentes de clubes, quando se fala em transformar o futebol numa indústria capaz de ampliar sua participação na economia do país.

Hoje, são 370 mil empregos gerados direta ou indiretamente pelo futebol. No ano passado, Flamengo 5 x 0 Grêmio teve 20% dos ingressos comprados por turistas. Representa gente trabalhando em hotéis, táxis, Uber, restaurantes, vendas de passagens aéreas e de ônibus.

Uma parte do que o futebol ajuda a economia formal— e informal —explicitou-se durante o confinamento. Como toda crise gera oportunidade, a que parece mais clara neste momento é que a necessidade de dinheiro ajude a produzir a mudança.

Até mesmo os clubes que fogem da ideia do clube empresa arregalam os olhos quando se fala em linhas de crédito. Dinheiro não dá em árvore e dinheiro público não se planta na Caixa Econômica Federal.
Se houver, precisará de contrapartida.

A ideia implícita na convocação para a vídeo-conferência da Frente Parlamentar, na quarta-feira, era adaptar a legislação à espanhola, onde só não é empresa quem comprova finanças em ordem, como Real Madrid e Barcelona.

Também nas entrelinhas, a determinação de que só terá crédito quem se comprometer a virar sociedade anônima.

Num primeiro momento, só vão entrar nesse possível novo modelo quem entender que precisará se estruturar para se manter na Série A. O Atlético-GO está fazendo isso. Sua vantagem será a de estar pronto quando houver investidores dispostos a entrar no Brasil.

A segunda boa chance é a de se livrar da viciada estrutura política. À parte, os conselhos fiscalizarem as contas, muitas vezes isto se faz com interesse eleitoral.

Entre os clubes, não há consenso sobre criação de uma liga, sobre inversão de calendário, sobre terminar os estaduais. Há mais reuniões e, nesta semana, a discussão sobre a venda de direitos internacionais, que parece ter avançado.

Há apenas busca por dinheiro e salvação.

Boas ideias e planos de longo prazo podem ajudar a trazê-lo.

No Congresso, está cada vez mais claro que a transformação do modelo de gestão pode fazer o futebol brasileiro dar um passo em direção à modernidade. Há uma oportunidade.

PVC
Jornalista e autor de Escola Brasileira de Futebol. Cobriu seis Copas e oito finais de Champions

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