sexta-feira, maio 03, 2019

‘Game of Thrones’ pode ser a maior propaganda que o capitalismo já teve - BARRY BROWNSTEIN

GAZETA DO POVO PR/FEE (Foundation for Economic Education) 03/05


Considere estes números: a temporada final de Game of Thrones custou cerca de US$ 100 milhões para ser filmada. No ano de 1300, o PIB da Inglaterra medieval inteira era de apenas 40 milhões de libras.

Game of Thrones não esconde a pobreza extrema de pessoas comuns vivendo em uma versão fantasiosa do período medieval. Nós vemos governantes indiferentes à sujeira, à doença e à fome sofridas pelo indivíduo médio. Os cidadãos são tratados como objetos colocados na Terra para melhorar a vida de seus governantes.

Game of Thrones poderia ser a maior propaganda do capitalismo já escrita. Se você ficou curioso, uma pergunta óbvia relacionada a isso é: como nós progredimos da pobreza de Westeros até a sociedade moderna?

Redistribuição de riqueza


Game of Thrones apresenta algumas respostas a essa pergunta. A temática da série gira em torno da conquista e da redistribuição de riqueza, e não da criação de riqueza. Infelizmente, isso é o que a política atual se tornou. Políticos brigam para roubar legalmente de um grupo em benefício do governo e daqueles que o governo favorece.

A pobreza opressiva não acabou quando uma versão medieval de Bernie Sanders redistribuiu a riqueza dos ricos para os pobres. Como, então, a vida de bilhões de pessoas progrediu desde o período medieval? Aqueles que aguardam ansiosos o final dessa série épica acreditam que a mera passagem do tempo foi a responsável por trazer prosperidade?

“Entre 1270 e 1700, o crescimento da renda per capita inglesa foi no geral de 0,2% ao ano”, afirma uma pesquisa dos professores de Economia britânicos Stephen Broadberry, Bruce Campbell, Alexander Klein, Mark Overton e Bas van Leeuwen. No entanto, esse crescimento irrisório foi ocasional: “O crescimento da renda per capita antes da Revolução Industrial parece estar relacionado a períodos de queda na população”, dizem os pesquisadores.

O milagre da transformação


Existe uma quantidade surpreendente de dados sobre a pobreza no período medieval. Sob o comando de Guilherme I (Guilherme, o conquistador), cerca de 10 mil pessoas participaram “da coleta e registro de dados para o Domesday Book”, escreve Lawrence Officer, professor de Economia, em What Was the UK GDP Then?

O Domesday Book “foi o registro de um levantamento demográfico e econômico feito na Inglaterra entre 1085 e 1086”.

E a economia mundial? O economista Brad Delong pesquisou estimativas do PIB em épocas passadas. No ano 1 d.C., o PIB mundial era de US$ 18 bilhões (em valores de 1990). No ano 1000 d.C., o PIB aumentou para apenas US$ 35 bilhões. Trezentos anos depois, em 1300, o valor caiu para US$ 32 bilhões. Quatrocentos anos mais tarde, em 1700, houve um aumento, mas para apenas cerca de US$ 100 bilhões.

Foi então que houve um acontecimento miraculoso. De 1700 até 1800, o PIB praticamente dobrou. Em 1900, o PIB atingiu US$ 1 trilhão pela primeira vez. Na virada do milênio, o PIB mundial era de mais de US$ 40 trilhões, e bilhões de pessoas foram tiradas da pobreza.

A natureza da vida


Em seu clássico, The Discovery of Freedom, Rose Wilder Lane, grande escritora libertária, sublinha verdades simples sobre a energia humana. Lane escreve: “Nada, a não ser o seu desejo, a sua vontade, pode gerar e controlar sua energia. Somente você é responsável por cada ação que fizer; ninguém mais será”. Lane observa que, por conta própria, perecemos:

Uma pessoa não gera energia suficiente. O homem solitário neste planeta dificilmente iria sobreviver. Seus inimigos são numerosos e fortes; sua energia é pouca. Para salvar sua existência, ele deve ter aliados de sua própria espécie.

Em Game of Thrones, existem aliados, mas eles não são confiáveis por causa da crueldade e das traições de seus governantes. Lane teria dito àqueles que estavam empenhados em matar uns aos outros: “Acorde, você está desperdiçando sua energia. Você não entende a sua verdadeira natureza”. Ela escreve:

A fraternidade humana não é apenas uma frase bonita ou um belo ideal; é um fato. É uma das realidades cruas da vida humana neste planeta inumano. Todos os homens são irmãos, do mesmo sangue, da mesma raça humana. Eles são irmãos no mesmo desejo imperativo de sobreviver e na mesma necessidade desesperada de unir suas energias para sobreviver. Qualquer homem que machuque um semelhante está machucando a si mesmo, porque o bem-estar humano é necessário para a sua própria existência.


Não importa o quanto cooperemos, não importa quanta riqueza geremos através do reconhecimento da realidade da fraternidade humana, o mundo não é perfectível. Haverá novas doenças; haverá sofrimento humano a partir do infortúnio de cada um; haverá os relativamente pobres. No entanto, nós podemos aliviar o sofrimento através de ações de empreendedorismo. Em As viagens de Gulliver, Jonathan Swift escreveu:

Aquele que fizer duas espigas de milho, ou duas folhas de grama, crescerem em um pedaço de terra onde apenas uma tinha conseguido crescer merece o melhor da humanidade e faz um serviço mais importante a este país do que toda a classe política.


Empreendedores, não governantes, são necessários para o progresso


A ação humana depende do descontentamento com o estado atual das coisas. Em sua obra-prima Human Action, Ludwig von Mises escreve:


O homem de ação está ávido para substituir o estado mais satisfatório das coisas para um menos satisfatório. Sua mente imagina condições que lhe sirvam melhor, e sua energia está direcionada para trazer o estado que deseja. O impulso que faz um homem agir é sempre de uma certa inquietação.

A inquietação, porém, não basta – e isso é importante. Mises explica:

Para fazer um homem agir, a inquietação e a imagem de um estado mais satisfatório não são suficientes por si mesmas. Uma terceira condição é necessária: a expectativa de que a ação intencional tenha capacidade de resolver, ou ao menos aliviar, a inquietação.

Em Game of Thrones, governantes covardes não prestam contas imediatamente; eles são livres para agir de forma arbitrária, ao menos em curto prazo. A atividade humana pacífica é restringida, e então o progresso humano é impedido.

Atualmente, apesar de serem beneficiários do progresso, muitas pessoas acreditam que empresários e capitalistas são tão poderosos quanto os políticos. Mises argumenta que a realidade é muito diferente:

A posição que empreendedores e capitalistas ocupam no mercado econômico é outra. Um “rei do chocolate” não tem controle sobre seus consumidores e seus patrocinadores. Ele fornece chocolate com a melhor qualidade possível e com o preço mais baixo. Ele não controla os consumidores – ele os serve. Os consumidores não estão presos a ele. São livres para não frequentar suas lojas. Ele perde o seu “reino” se os consumidores preferirem gastar dinheiro em outro lugar.

Mises explica que o empreendedor lida com a incerteza, assim como nós. Ele tem especificamente o papel de utilizar “os fatores de produção” da melhor forma. A “lei do mercado” reina suprema:

Assim como todo homem de ação, o empreendedor é sempre um especulador, lidando com as condições incertas do futuro. Seu fracasso ou sucesso depende do quão corretamente consegue antecipar um evento incerto. Se falhar na sua previsão, está perdido. A única fonte para o lucro do empresário é a sua habilidade em prever, melhor do que qualquer pessoa, a demanda futura dos consumidores.


Estagnação ou progresso


Quando a ação humana é impedida, Mises escreve, “o homem deve render-se ao inevitável, submeter-se ao destino”.

De qualquer forma, o desejo de criar sentido para sua vida está sempre presente. Em uma coletânea de seus discursos, A vontade de sentido, o grande psiquiatra Viktor Frankl escreve: “A luta pela existência é a luta ‘por’ algo; é uma luta com propósito, e só assim tem sentido e pode trazer sentido à vida”.

Frankl afirma: “Nunca devemos estar satisfeitos com o que já foi alcançado. A vida nunca para de nos colocar novas questões, nunca nos permite descansar”. Em seu livro Aerztliche Seelsorge (“O cuidado espiritual pelo médico”, em tradução livre), ele complementa:

Aquele que não está em movimento é ultrapassado; o homem que está satisfeito perde-se. Nem na criação ou na experiência podemos nos contentar com as conquistas. Todos os dias, todas as horas, novas ações são necessárias e novas experiências são possíveis.

Ao assistirmos Game of Thrones, podemos torcer para o heroísmo de Jon Snow e Daenerys Targaryen. Entretanto, podemos também agradecer ao capitalismo e aos empresários pelo progresso econômico e transformacional estimulado pelos feitos heroicos de indivíduos comuns que, insatisfeitos com o status quo e livres das amarras de seus governantes autocráticos, optaram por agir.

Tradução de André Luiz Costa.
© FEE. Publicado com permissão. Original em inglês."

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