quinta-feira, novembro 24, 2016

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ESTADÃO - 24/11

Crise dos Estados agrava cenário econômico e retomada fica mais distante



Sem motivos para festejar a passagem de 2016 para 2017, o melhor é partir direto para 2018. Quem sabe até lá os principais nós da economia estejam desfeitos e a tal retomada esteja à vista. Não há garantia de que isso vá ocorrer, mas pelo menos há alguma esperança. Mercadoria que parece estar em falta nessa virada de ano.

Em relação a 2017, pouco a pouco as expectativas otimistas vão se desmanchando e um certo desânimo se instala. O governo ajudou a consolidar essa mudança de clima ao revisar – e para pior – as estimativas para o desempenho do PIB neste ano e no ano que vem. Crescimento de apenas 1%, em lugar do 1,6% previsto anteriormente, em qualquer um dos casos pífio quando se leva em conta que, nos últimos três anos, a queda acumulada deve se aproximar de 10%. Para 2016, a expectativa passou de uma redução de 3% para 3,5%.

Não que os chamados agentes econômicos tenham se surpreendido com esses números. Crescimento de apenas 1% já frequentava os relatórios de bancos, consultorias e empresas há um bom tempo. Mas, como se costuma dizer, se o próprio governo está reconhecendo oficialmente a estagnação da economia, sinal de que o bicho pode ser mais feio do que estão pintando. É que simplesmente não existe nenhum motor de crescimento à vista.

Para começar, a nova política de concessões de serviços públicos, cujo esboço agradou ao mercado, ainda não saiu efetivamente do papel. Segundo o chefão das privatizações, o ministro Moreira Franco, o governo está trabalhando para definir estímulos à emissão de debêntures do setor privado e solução para o problema de risco cambial – dois pontos sempre citados pelos empresários, quando o assunto é o que falta para destravar as concessões. Mas, mesmo que essas providências sejam tomadas a curto prazo, ainda leva tempo para que, cumprido todo o ritual, os leilões de concessões se traduzam em novos investimentos e, por tabela, movimentem os negócios.

A “mãozinha” que o Banco Central poderia dar às empresas e consumidores, com uma redução rápida e acentuada da Selic, a taxa básica de juros, não deve se concretizar. Por enquanto, a inflação continua bem comportada, sob efeito da recessão: tanto assim que a estimativa do IPCA para 2017 saiu de 4,8% para 4,7%, pouco acima do centro da meta, de 4,5%. Mas ainda não se sabe qual será o tamanho do efeito Trump sobre a política monetária do Federal Reserve (Fed, o banco central americano), e sobre a política cambial – o que, em última instância, quer dizer pressões inflacionárias. Na dúvida, portanto, cautela do BC brasileiro.

Finalmente, não se pode ignorar o peso da crise dos Estados sobre a atividade econômica. Em cima do laço, o governo federal concordou em dividir com os Estados os R$ 5 bilhões da multa de repatriação de recursos enviados ilegalmente ao exterior. Em compensação, os governadores terão de fazer um ajuste fiscal dentro de seus quintais, que incluem uma espécie de PEC dos gastos e uma reforma da Previdência. Tudo ainda em negociação.

O fato é que se trata de uma ajuda de emergência, ainda minguada para reequilibrar os caixas dos Estados. O governador José Ivo Sartori, do Rio Grande do Sul, que acaba de decretar calamidade financeira, já disse para quem quiser ouvir que não há perspectiva de pagar o 13.º salário aos servidores.

Sem ajustes, alguns Estados caminham para a quebra, como o próprio Rio Grande do Sul e o Rio de Janeiro, o que implica calote em cascata nos salários e previdências dos servidores, além de colapso nos serviços públicos. Com ajustes dolorosos, como os que se anunciam, haverá demissões e cortes de vencimentos, o que a curto prazo também sacrifica as economias locais.

Como se viu na reunião de estreia do novo Conselhão, governo, empresários e representantes do mercado financeiro de novo põem todas as fichas na volta dos bons tempos só depois da segunda rodada da PEC de gastos públicos, seguida das reformas previdenciária e trabalhista e assim por diante. Há, porém, quem considere as reformas indispensáveis, mas não suficientes para reinstalar a confiança na economia e garantir a retomada do crescimento. Para esses analistas, é preciso mais, uma agenda específica pró-crescimento. Até para afastar o risco de aventuras em 2018.

É JORNALISTA

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