segunda-feira, agosto 15, 2016

O discreto encanto do Peru - RODRIGO BOTERO MONTOYA

O GLOBO - 15/08

Por meio de uma política econômica ortodoxa do ponto de vista fiscal, o país conseguiu reduzir os índices de pobreza


A trajetória ascendente do Peru, ao longo do século XXI, contém valiosos ensinamentos para o resto da América Latina. É uma experiência de superação coletiva que pode ser enfocada a partir de várias perspectivas: como um caso de resposta inteligente à adversidade; como um exemplo de lições históricas bem aprendidas; e como o triunfo da democracia liberal, a moderação política e a ortodoxia macroeconômica.

A partir do colapso do regime autoritário de Alberto Fujimori no ano de 2000, e a presidência interina de Valetín Paniagua, entre novembro de 2000 a julho de 2001, o Peru experimentou transferências sucessivas de poder, mediante eleições democráticas, aos presidentes Alejandro Toledo, Alan García, Ollanta Humala e Pedro Pablo Kuczynski. Ficaram relegados ao passado às más lembranças da instabilidade política, do terrorismo do Sendero Luminoso, da moratória da dívida externa, da hiperinflação e da desordem fiscal dos anos 1980.

Como outros países da região, o Peru se beneficiou do auge dos preços internacionais das commodities dos anos recentes. Mas conseguiu evitar o isolamento, o excesso de endividamento e as demais distorções econômicas que afetaram várias nações latino-americanas. O Peru aplicou uma política econômica ortodoxa, que incluiu um estrita disciplina fiscal, uma postura monetária de um rigor anti-inflacionário quase de estilo germânico, e um agressivo desmantelamento do protecionismo alfandegário.

É notável a continuidade que demonstraram os dirigentes peruanos com o compromisso de inserir o país na economia mundial. O Peru é membro da Apec, é signatário da Associação Transpacífica e ratificou acordos de livre comércio com seus principais sócios comerciais. O presidente Kuczynski anunciou a intenção de seu governo de ingressar na OCDE.

A saída da Venezuela da CAN criou as condições propícias para que o Peru assumisse a liderança de uma importante iniciativa de política econômica internacional. O primeiro passo, por sugestão de economistas colombianos e peruanos, foi eliminar a Tarifa Externa Comum, para converter a CAN em área de livre comércio. Logo, em abril de 2011, o presidente Alan García convocou seus colegas de Colômbia, Chile e México para um reunião em Lima, na qual se conformou a Aliança do Pacífico. Para a colocação em marcha deste projeto contribuiu o eficaz protagonismo do então ministro de Relações Exteriores do Peru, José Antonio García Belaúnde, que contou com assessoria de Roberto Abusada, fundador do Instituto Peruano de Economia.

Graças ao efeito cumulativo de um ritmo de crescimento sustentável da ordem de 5% anual em média, o Peru tem uma economia mais próspera, mais diversificada, mais aberta ao comércio internacional, com mais e melhores empregos e um nível de bem-estar social crescente. O índice de pobreza caiu de mais 58,7% da população, em 2004, a 21,5%, em 2016. Com tranquilidade e sensatez, o Peru adotou um modelo de desenvolvimento que é a antítese do populismo autoritário e do coletivismo marxista.

Rodrigo Botero Montoya é economista e foi ministro da Fazenda da Colômbia

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