sexta-feira, julho 15, 2016

Mudança de rota - MERVAL PEREIRA

O GLOBO - 15/07

A vitória do deputado do DEM Rodrigo Maia para a presidência da Câmara, sobretudo da maneira como aconteceu, reforça a mudança na tendência política do Congresso, reflexo do que já havia sido detectado no eleitorado na própria eleição presidencial, vencida por Dilma por menos de 3% de diferença.

O grupo formado por PSDB, DEM, PPS e PSB passou a ter o protagonismo numa Câmara que nos últimos anos foi dominada por PT e PMDB. Progressivamente, a partir da vitória de 2002, em que apenas em Alagoas o PSDB venceu, a supremacia do PT foi sendo corroída por dissensos na base aliada e pela perda constante do apoio da classe média, que vira no PT saída para a nova política e combate à corrupção e, a partir do mensalão, desencantou-se.

O PT teve que fazer uma mudança de rota de influência, refugiando-se no eleitorado do Nordeste e das pequenas cidades, onde os programas sociais, sobretudo o Bolsa Família, tornaram-se seu grande instrumento político.

Foi para o Nordeste que Lula se dirigiu recentemente em busca de apoio político, e é naquela região que o presidente interino, Michel Temer, tem seu pior desempenho, que de resto não é bom, até o momento, no país como um todo.

Não foi à toa, portanto, que Temer deu um aumento de 12,5% ao Bolsa Família, maior, portanto, que o previsto por Dilma, e gravou um vídeo dirigido especialmente aos que recebem o benefício. Já há indicações de que sua popularidade subiu um pouco depois desse anúncio, o que mostra o potencial político do Bolsa Família para o governo, qualquer governo.

Dissolvida a aliança que sustentou os governos petistas com a debandada do PMDB, o protagonismo no Congresso ficou não com o partido, mas com Eduardo Cunha na Câmara e Renan Calheiros no Senado. Embora representantes do PMDB, os dois têm um estilo político muito personalista que não transfere ao partido seus bônus, apenas seus ônus.

O centrão, que na eleição de quarta-feira começou a se dissolver, foi uma arquitetura de Cunha para fortalecer sua influência. Os pequenos partidos que o compõem ganharam uma musculatura artificial, que só tinha peso político com a coordenação do ex- presidente da Câmara.

Hoje, o centro das negociações passou a ser a antiga oposição aos governos petistas e mais, evidentemente, o PMDB, que ensaiou uma dissidência também artificial sob o comando de Lula, mas hoje já deve estar reunido em torno do poder de fato de Temer, que saiu fortalecido para apresentar ao Congresso as propostas de reformas estruturais de que o país necessita.

Impopulares elas são, e serão precisos muita convicção e suporte político para levá-las a bom termo. Por isso mesmo o PT, embora demonstre o contrário, está ansioso por encerrar o episódio do impeachment para poder reassumir o papel de oposição.

Criaria maiores obstáculos se tivesse conseguido emplacar a candidatura de Marcelo Castro, que o próprio Temer classificou de “cavalo de Troia” do petismo. Mas, na oposição, poderá denunciar todas as mazelas econômicas como se tivessem sido provocadas pelo interino tornado permanente.

O parecer do Ministério Público Federal de que não se caracteriza como empréstimo o caso do Plano Safra não parece ter o poder que lhe confere o advogado de Dilma. É claro que é um dado positivo para a defesa, mas não o definitivo, pois existem vários outros estudos em direção contrária, inclusive no MP junto ao Tribunal de Contas.

E essas discordâncias não são, como quer José Eduardo Cardozo, prova de que não é possível condenar Dilma. Como o julgamento é, sobretudo, político, basta que a maioria dos senadores tenda para um parecer, e não para o outro, que a decisão estará tomada.

Principalmente porque outras acusações, que só não estão oficialmente colocadas por questões de interpretações da legislação, têm também seu peso no convencimento dos senadores. E são muitas as denúncias de corrupção na campanha de 2014.


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