segunda-feira, abril 11, 2016

Lições perdidas - SIMONE KAFRUNI

CORREIO BRAZILIENSE - 11/04

Acertar é objetivo fundamental para o desenvolvimento de pessoas, empresas e governos. Porém, é dos erros que saem as melhores lições. Infelizmente, nem todos atentam para esse detalhe. O atual governo, por exemplo, insiste em políticas equivocadas, ignorando a lição que poderia ter aprendido do fracasso evidente de sua intervenção no setor energético do país.

Da Petrobras, muito foi roubado e está aí a Lava-Jato para apurar quanto e por quem. Mas muito também se perdeu por conta dos erros do governo. No primeiro mandato da presidente Dilma Rousseff, o represamento dos preços dos combustíveis, para conter a inflação, provocou prejuízo superior a R$ 100 bilhões ao caixa da estatal. Naquele período, o barril de petróleo estava acima de US$ 100 no mercado internacional, e o governo, intervencionista, não permitiu que a petroleira ajustasse o preço nas bombas.

Na semana passada começou, sob a sombra, nova interferência do Palácio do Planalto na Petrobras. A diretoria ensaiou reduzir os preços da gasolina e do diesel. Afinal, o barril de petróleo caiu abaixo dos US$ 40, e a companhia, que antes enfrentou a defasagem, agora recebe o prêmio da diferença entre os valores cobrados nas bombas e no mercado mundial.

Como o governo precisa de uma agenda positiva a todo custo - baixar o preço da gasolina seria um bom começo -, tentou intervir. O que conseguiu foi criar polêmica entre conselho de administração e diretoria, e derrubar as ações da estatal, que despencaram 9% em um dia. Não bastasse ter reduzido a Petrobras a 15% do que já foi um dia, o Executivo insiste em tirar valor de mercado da empresa.

Persistindo nos erros, o governo quer reduzir a fatura de energia na marra. Agiu precipitadamente ao provocar a troca da bandeira tarifária de amarela para verde em abril, eliminando o acréscimo pago por geração térmica. Especialistas garantem que será necessário manter termelétricas ligadas. Os reservatórios, embora em níveis satisfatórios, podem não permanecer assim até o fim do período seco, que ainda nem começou. Mais uma vez, o governo esqueceu que foi sua intervenção que desestruturou o setor elétrico a ponto de as tarifas dispararem mais de 100% no ano passado. Como consumidores, queremos contas de luz mais baixas e gasolina barata. Mas não há almoço grátis. Sempre pagaremos, lá na frente, por erros cometidos agora. Sobretudo, se mais lições forem perdidas.

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