segunda-feira, agosto 11, 2014

Só em novembro - EDITORIAL FOLHA DE SP

FOLHA DE SP - 11/08


Governo Dilma adiou as soluções de problemas econômicos para depois das eleições, principal razão para insegurança que vige no país


Longe de serem mera implicância de "pessimistas", como quer fazer crer a presidente Dilma Rousseff (PT), as análises negativas a respeito da economia derivam da sequência de resultados ruins obtidos pelo governo federal.

Tome-se como a exemplo a última semana. Vieram, primeiro, as notícias sobre a queda de 20,5% na produção automobilística em julho, na comparação com o mesmo período de 2013. Até agora, a retração no ano é de 17,4%.

O setor se rende à realidade de vendas fracas, depois de inúmeras tentativas do governo de adiar o inevitável por meio de estímulos ao crédito e benesses tributárias.

Levará tempo para o segmento voltar a uma situação normal. Sofrendo as consequências das dificuldades domésticas, as montadoras tampouco conseguem, dado o alto custo de fabricação, inserir seus produtos no mercado internacional --exceção feita à Argentina. Trata-se do maior testemunho do fracasso da política protecionista dos últimos anos.

Os problemas continuam a se agravar também no setor elétrico. A despeito das negativas do governo acerca de um tarifaço, analistas privados apostam numa alta de até 30% nos próximos dois anos.

A conta de luz vai subir não apenas para bancar o pagamento dos empréstimos concedidos neste ano às distribuidoras, mas também o custo de produção das usinas termelétricas, mais caras.

É digno de nota que, no socorro mais recente às elétricas, 70% do valor emprestado virá de bancos públicos, em mais uma evidência de resistências no ramo privado.

O impacto na tarifa, de todo modo, já existe. A agência reguladora responsável tem autorizado reajustes de até 36% em vários Estados.

Em crise, o setor padece de incerteza regulatória e desincentivo ao investimento. Arrumar a casa será um trabalho longo.

A inflação, por sua vez, continua elevada. Verdade que o índice de julho, quase zero, surpreendeu. Houve queda importante no custo dos alimentos, que agora começa a chegar ao consumidor depois de meses de deflação no atacado. E os preços de itens influenciados pela realização da Copa do Mundo no país, como passagens aéreas e hotéis, também caíram.

Isso evitou que a taxa em 12 meses superasse novamente o teto da meta, 6,5%. Mas a inflação permanece preocupante, com os preços de serviços subindo ainda no ritmo de 8,4% ao ano.

No geral, permanece o quadro de estagnação com inflação resistente e grandes incertezas para 2015, o que não favorece a retomada dos investimentos. O governo parece ter adiado as soluções dos problemas da economia para depois das eleições. Esta é, em suma, a principal razão para a insegurança.

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