quinta-feira, agosto 28, 2014

Maldito caixa 2 - SÍLVIO RIBAS

CORREIO BRAZILIENSE - 28/08


Nas sombras, o caixa 2 é potente propulsor de candidaturas a qualquer cargo eletivo. Mas exposto ao sol, costuma se converter em assassino de reputações e obstáculo a carreiras políticas. Após produzir tantos escândalos na República, esse tipo de crime insiste em desonrar o jogo democrático. Frutos da relação promíscua entre interesses privados e projetos de poder, os "recursos financeiros não contabilizados" nas campanhas eleitorais resistem como fontes de fisiologismo.

É verdade que, desde o tempo do tesoureiro PC Farias, de Fernando Collor, ao do operador do mensalão, Marcos Valério, muita casa caiu e muita torneira secou. Mas também está claro que afloraram nos últimos anos novos gerentes de lavanderias de dinheiro sujo, desviado para máquinas partidárias e bolsos amigos, assim como novas formas de maquiar doações. A contribuição depositada diretamente na conta de legendas é uma das burlas conhecidas. Outras são alvo de órgãos da Justiça.

Depois de todas as revelações trazidas pela imprensa e pelas provas anexadas aos autos da histórica Ação Penal 470, ainda somos surpreendidos com a desarticulação de quadrilhas sofisticadas. Os montantes envolvidos já não cabem mais em cuecas, malas e jatinhos. Os fardos de grana viva deram lugar a vultosas transações interbancárias, muitas delas viabilizadas por um banco central do crime liderado pelo doleiro Alberto Youssef. Não é de estranhar por que a corrida às urnas tenha perdido gás, contida pela Operação Lava Jato, da PF.

Esse imbróglio mais recente advindo da economia paralela do caixa 2 ainda não acabou e pode constranger ainda mais os beneficiados. Talvez o ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa, preso como Yousseff, opte pelo acordo de delação premiada e conte ao menos 50% do que sabe da corrupção em negócios da estatal. Para preservar parentes envolvidos, Costa pode puxar a corda do colete de homem-bomba que Roberto Jefferson e outros vestiram.

Um financiamento de campanha não declarado também pode se configurar na segunda caixa-preta do avião que matou, este mês, o presidenciável Eduardo Campos (PSB). A dúvida se houve ou não crime no emprego da aeronave mostra fragilidades do processo eleitoral. Por isso tudo, não adianta falar em reforma política ou em financiamento público de campanha sem desmontar o balcão de negociatas eleitorais. Como diz certo jargão, é chegada a hora de pensar fora da caixa.


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