quarta-feira, abril 09, 2014

Saída estratégica - EDITORIAL GAZETA DO POVO - PR

GAZETA DO POVO - PR - 09/04

André Vargas faz a coisa certa ao pedir afastamento, mas tudo indica que a atitude obedece mais ao cálculo político-eleitoral que ao desejo de não obstruir as investigações



Num país em que tantos políticos, diante de acusações as mais cabeludas, se agarram a seus cargos como um náufrago se agarra a um pedaço de madeira no oceano, fez bem o deputado André Vargas, do PT paranaense, em se licenciar temporariamente do mandato parlamentar e da vice-presidência da Câmara Federal. Contra ele pesam suspeitas de que se aproveitava da suposta influência que detinha sobre setores da administração pública para favorecer negócios milionários do doleiro Alberto Youssef, preso em Curitiba entre os envolvidos na Operação Lava Jato, deflagrada pela Polícia Federal para investigar operações de lavagem de dinheiro.

A hipótese mais crível, no entanto, nos leva a entender que seu afastamento das funções obedeceu à conveniente estratégia de sair dos holofotes, e não necessariamente teve o objetivo de facilitar a ação da polícia para apurar as suspeitas de que agia para conquistar a própria “independência financeira”, conforme promessa que o doleiro lhe fizera num dos diálogos entre ambos captados pela Polícia Federal. No caso, tratava-se da contrapartida a que Vargas teria direito pelo lobby que permitiria a Youssef firmar contrato de R$ 150 milhões com o Ministério da Saúde para fornecimento de remédios.

A suposição encontra maior credibilidade quando se toma conhecimento de declarações do ex-presidente Lula que, nesta terça-feira, em entrevista a blogueiros de todo o país, pediu ao correligionário que desse explicações sobre a viagem no jatinho do doleiro e sobre os demais negócios que mantinha com ele. Claramente, o interesse de Lula pelo caso não passou nem sequer perto de qualquer manifestação de apreço pela moralidade ou pela proteção dos bens públicos. Pelo contrário, soou como uma torcida para que o deputado se safe logo das suspeitas para o PT não sofrer prejuízos – inclusive eleitorais, já pensando em outubro.

Eis a fala de Lula: “Espero que ele [Vargas] consiga convencer a sociedade e provar que não tem nada além da viagem de avião, porque, no fim, quem paga o pato é o PT”. Para bom entendedor, meia palavra basta: ao PT, pela voz de seu líder maior, mais importante do que a defesa de valores morais ou éticos é a preservação da força político-eleitoral do seu partido, que não pode ser chamuscada por episódios como o protagonizado pelo infeliz correligionário paranaense.

A visão distorcida do ex-presidente a respeito do caso se completou quando emitiu sua opinião acerca também da pretendida criação da CPI da Petrobras, que classificou como “um jogo político” feito por pessoas que querem apenas enfraquecer a estatal. O PT “tem de ir para cima” para impedir a CPI, disse Lula. Para ele, o partido já deveria ter aprendido a lição ao permitir a instalação da CPI do Mensalão, porque ela “deixou marcas profundas nas entranhas do PT”. Se o partido tivesse feito “o debate político” do processo “e não ficasse esperando a solução jurídica”, o resultado do julgamento teria sido outro, afirmou o ex-presidente. Quer dizer: nada mais sagrado do que manter o PT longe de falatórios que o ligam a alguns dos mais tristes momentos de decadência moral já vividos pelo país no último século.

Pragmaticamente, portanto, o melhor a fazer era esconder o deputado André Vargas, tirá-lo de circulação, antes que o estrago se torne maior.

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