sábado, fevereiro 08, 2014

Retirar o setor elétrico do palanque eleitoral - EDITORIAL O GLOBO

O GLOBO - 08/02

O PT e Dilma colocaram a área no jogo político. Cabe agora tirá-lo, a fim de que o governo faça o que é preciso para evitar mais problemas no fornecimento de energia



Por fazerem parte de universos distintos, nem sempre projetos políticos são condizentes com a evolução de fatos da vida real. É o que acontece agora com a infeliz coincidência, para a presidente Dilma, de a campanha para sua reeleição se desenrolar enquanto se precariza o setor elétrico — com o qual ela está envolvida há onze anos —, devido a uma aguda e anômala falta de chuvas neste verão.

O apagão desta semana, em 11 estados e o Distrito Federal, no coração econômico e político do país, deve ter mexido com os nervos da presidente e candidata, marqueteiros, assessores em geral e o PT. As trevas se abateram sobre parte do país em outro momento de infelicidade para o governo: quando a cúpula do setor elétrico se preparava para garantir à imprensa, em Brasília, que tudo estava sob controle, neste ano de Copa. A súbita escuridão alertou que não.

A má sorte de Dilma, governo e partido é também porque a própria presidente e todo o PT sempre criticaram muito o governo tucano de FH pelos apagões no final da década de 1990 e o racionamento imposto ao consumo de energia, enquanto se instalavam às pressas termelétricas —, as que têm, nos últimos tempos, sustentado o fornecimento de energia.

A oposição já começa a dar o troco, e não há dúvidas que as mazelas do setor elétrico constituirão obuses de calibre razoável na guerra eleitoral.

A presidente e candidata Dilma é colocada diante de um dilema: atua mais como a principal responsável pela administração do país ou na condição de aspirante a ficar mais quatro anos do Planalto?

A crise energética que se desenha — muito a depender das águas de março —, pressiona Dilma. PT e Dilma colocaram o setor elétrico na ciranda político-eleitoral. Cabe a eles, agora, tirá-lo do palanque, para que o governo aja da maneira que for necessária, a fim de que, no mínimo, reduza danos, caso a precaridade do sistema se mantenha depois do verão.

Não são otimistas as avaliações sobre a probabilidade de mais problemas na área. Para a agência internacional de risco Fitch, há uma chance “razoável” de o Brasil ser obrigado a adotar um programa de racionamento. Especialistas estimam em 20% o risco de falta de energia, quando o índice normal é 5%. Será um sério equívoco se, em nome das eleições, o Planalto nada fizer. Quando houve um racionamento planejado, a população reagiu bem e economizou energia.

Há questões referentes à inflação e à política fiscal envolvidas no imbróglio, pois as tarifas estão reprimidas, e o Tesouro tem sido obrigado a despejar bilionários subsídios para fechar as contas. A situação é insustentável.

Se Dilma for mais presidente e menos candidata, a melhor escolha nestas circunstâncias, ela começará a desobstruir este gargalo já. Se decidir ser mais candidata e nada ou pouco fizer, jogará seu futuro, e o do país, na roleta.

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