sexta-feira, fevereiro 07, 2014

Resposta a uma pergunta do 'Valor' - LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS

FOLHA DE SP - 07/02

O sucesso da capitalização da B2W dá a resposta: está certo quem vê o futuro do Brasil com grande otimismo


Recentemente o jornal "Valor", em uma de suas seções dedicadas ao mercado de ações no Brasil, colocou aos leitores uma pergunta muito interessante e à qual procuro responder na minha coluna de hoje.

Noticiando a decisão tomada pelo grupo controlador da empresa de comércio eletrônico B2W --registrada na Bovespa como BTOW3-- de promover capitalização de R$ 2,38 bilhões com a emissão de ações, o jornal deixou uma pergunta no ar para ser respondida por seus leitores.

Segundo o "Valor", o anúncio da operação de emissão de novas ações da companhia surpreendeu o mercado por duas razões: o volume e o preço de subscrição das novas ações.

Depois da derrocada das ações brasileiras neste tumultuado início de ano, o valor de mercado da B2W havia chegado a R$ 2,45 bilhões. Isto é, multiplicando o valor de cada ação da empresa negociada no pregão da Bolsa pelo número de ações em circulação, chega-se a um valor igual ao da nova emissão proposta pelos controladores. Em outras palavras, o capital da empresa seria multiplicado por dois, evento pouco comum no mercado brasileiro.

Mas a grande surpresa mesmo foi o valor de subscrição das novas ações. Fixado em R$ 25,00, representa ágio de 61% sobre o preço das ações negociadas na Bovespa pouco antes do anúncio da operação.

Nesse ponto, o leitor da Folha mais acostumado às coisas do mercado de ações deve se perguntar: qual grupo controlador estaria disposto a pagar tão mais por ações da companhia que controla? Os mais afobados podem até colocar a questão em outros termos: qual seria o grupo de acionistas que estaria rasgando dinheiro ao pagar tanto para pôr mais capital na empresa?

Pois esse grupo de acionistas é formado por três dos mais exitosos empreendedores brasileiros e que controlam empresas como Inbev --antiga Brahma na sua origem--, Lojas Americanas, Burger King e, mais recentemente, em parceria com o mito do mercado de ações mundial Warren Buffett, a Heinz. E esse pessoal não é dado a rasgar dinheiro!

Mas a surpresa do mercado com essa operação não ficou apenas na qualificação dos acionistas controladores e inspiradores do aumento de capital da B2W. Entra agora no capital de empresa, como parceiro, um dos fundos de investimentos mais respeitados pelo mercado financeiro internacional: o Tiger Global.

Como resultado do anúncio da capitalização da empresa, as ações deram um pulo no pregão da Bovespa e está sendo negociadas, quando escrevo esta coluna, por R$ 23.

Meu objetivo ao trazer esses fatos ao conhecimento do leitor da Folha não é explicar a lógica por trás dessa operação, mas usá-la como âncora para discutir uma questão mais geral e que tem sido objeto de minhas reflexões nos últimos tempos: afinal, quem está certo no momento atual da economia brasileira? Os que preveem uma crise gravíssima nos próximos anos e estão liquidando a preço de banana os ativos brasileiros nos últimos meses ou os que olham para o futuro com otimismo como os controladores da B2W?

Em outras palavras, os que se assustam com eventos negativos como o resultado fiscal dos últimos anos e outros erros cometidos pelo governo Dilma e dele fazem a principal componente de suas previsões?

Ou os que olham para uma sociedade que nos próximos anos terá --segundo análise recente do Itaú-- 75% de sua população incorporada ao mercado de consumo e na economia formal? Os primeiros são os que operam o curto prazo e pressionam os preços das ações e de outros ativos criando um clima de fim de festa. O outro grupo é formado principalmente por empresas internacionais de grande e médio porte e que colocaram o Brasil, nos últimos anos, em terceiro no ranking dos países que recebem investimentos diretos.

A pergunta do "Valor" no fim do texto sobre a B2W é tremendamente provocativa e precisa ser respondida: quem está com a razão no caso da precificação das ações da B2W: o mercado ou os controladores e seu sócio na operação, o fundo Tiger Global? Eu fico do lado dos controladores e das empresas que olham para o Brasil dos próximos anos como um dos mercados mais importantes no mundo emergente. E você?

Mas o governo brasileiro precisa mudar e ajustar rapidamente sua política econômica e a atuação do Estado na gestão da economia para não jogar fora os ganhos dos últimos 17 anos e construir um futuro exitoso para todos nós.

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