sábado, agosto 17, 2013

O Black Bloc do STF - TUTTY VASQUES

O Estado de S.Paulo - 17/08
Logo na primeira pedrada que acertou no telhado de vidro de Ricardo Lewandowski no julgamento dos recursos do mensalão, Joaquim Barbosa fez jus a seu novo apelido na intimidade da Corte: 'Black Bloc do STF'.

Para quem a tudo assistia pela TV, o momento era aguardado como um gol. A favor ou contra, não importa o que pensa o telespectador, a ação direta do presidente do STF sempre salva a transmissão das sessões do tribunal do mais enfadonho zero a zero.

Mal comparando com a cobertura da Mídia Ninja em protestos de rua, se não rola um quebra-pau, ninguém aguenta quatro, cinco horas do blablablá de sempre. Teve gente - decerto ligada na Globonews, a Mídia Ninja do julgamento do mensalão - que abriu a janela para gritar "chupa Lewandowski" quando Joaquim Barbosa acusou o ministro de "fazer chicana" no tribunal. Sua excelência só precisa, data venia, tomar cuidado para não cair na tentação dos Black Blocs de rua: ninguém aguenta vidraça quebrada todo dia na TV!

Internação compulsória

Ou o técnico Dunga, do Internacional, se controla à beira do gramado ou vai acabar sendo retirado de campo em camisa de força. Ontem à noite, ele deu vários chiliques no Maracanã!

Foi pouco

Quem jogou ovo ontem no 
relator da CPI dos Ônibus no Rio não sabia, decerto, que o vereador 'Professor Uóston' chama-se na verdade Washington, mas, como professor do ensino médio, deve ter achado por bem adotar o pseudônimo para não confundir o eleitor na hora do voto.

Merecia, cá pra nós, pelo 
menos meia dúzia de ovos!

Ô, raça!

Deborah Bloch é a mulher 
que todo lobisomem gostaria de ter! Não à toa, muito antes de ganhar o papel de Dona Risoleta em Saramandaia, ela namorou vários.

Essa não!

A tese de que o soldado 
americano Bradley Manning vazou documentos secretos dos EUA no WikiLeaks porque tem conflitos de sexualidade, francamente, se todo cara que de vez em quando se veste de

mulher fosse ameaça à segurança nacional, o Brasil estava perdido.

Nem sinal

Se até o ex-presidente da 
CBF, Ricardo Teixeira, voltou sem problemas ao Brasil, por que diabos o escritor Paulo Coelho não tenta?
Parece que gosta de alimentar a lenda urbana de que está fugindo de alguma coisa, né não?

Avenida Atlântica - ARTUR XEXÉO

O GLOBO - 17/08

Eu sei, eu sei. O Fluminense perdeu o primeiro Fla x Flu do novo Maracanã. Uma derrota que entrou para a História. A Câmara Municipal foi invadida. Nunca mereceu tanto o apelido de Gaiola das Loucas. A obra do metrô está atrasada, o que pode ser uma informação de qualquer época. Mas de tudo o que saiu no jornal nos últimos dias, o que mais me tocou foi a notícia de que as duas últimas casas da Avenida Atlântica estão vindo abaixo.
Cresci numa Copacabana que tinha tantas casas na praia que a gente nem se dava ao trabalho de contá-las. Outros tempos. Tinha um posto de gasolina. Tinha uma revendedora de carros importados. O consulado da Áustria, uma das duas que sobraram, ficava ao lado de outro consulado. Seria o da Romênia? Já fiquei triste quando a casa de pedra _ a outra que tinha sobrado _ transformou-se em sede de agência imobiliária.
Mas era outra Avenida Atlântica. Só tinha uma pista de carros, não tinha calçadão central, aliás não tinha calçadão algum... era só calçada mesmo. Não tinha quiosque. A calçada de ondas de pedras portuguesas só era interrompida por carrocinhas da Kibon e, mais tarde, por carrinhos da Geneal.
Ali no Posto 6 tinha uma rua, estreitinha, que ia dar na Avenida Copacabana. No meio da rua tinha uma galeria de arte e uma loja de churros. Eu preferia os churros. A gente assistia a um filme do Zé Trindade no Cine Royal, ali na Galeria Alaska, e, depois, comia churro na tal ruazinha. Tinha o Cine Rian, que ficava de frente pra praia e de fundos pro único Bob’s da cidade. Tinha o Cassino Atlântico desativado e transformado em TV Rio. Eu frequentava o auditório da TV Rio para assistir à Grande Gincana Kibon, com Vicente Leporace. Na hora de anunciar os intervalos, o Leporace gritava enigmático: “Miguez, chegou a tua vez”. Lá em casa, todo mundo ia assistir ao “TV Rio Ring”, nas noites de domingo, só para aparecer no “passeio das câmeras”. De vez em quando, iam também no “O riso é o limite”, o show de sábado.
Era muito comum ter ressaca. A água invadia as calçadas e chegava nas garagens dos prédios. Os carros boiavam. Quando fizeram o calçadão, diziam que uma das vantagens seria o fim das ressacas. A missa das seis de todo domingo era na igrejinha do Forte de Copacabana. Dentro do forte mesmo. Nenhuma igreja do mundo ficava em lugar tão bonito. Depois, muito depois, a igrejinha foi transferida para a Francisco Sá e virou paróquia da Nossa Senhora da Ressurreição. Muita gente parou de ir à missa. Dizem que, agora, dentro do forte, tem uma Confeitaria Colombo. Eu nunca fui lá.
Tinha a lanchonete Six, a única da cidade em que se podia comer hambúrguer e tomar milk shake numa mesinha à beira mar. Tinha a Fiorentina _ agora, você vai dizer que ainda tem, mas na Fiorentina daqueles tempos tinha a Zélia Hoffman recebendo os fregueses. Tinha a Cantina Sorrento, já quase no fim do Leme. O cliente tinha que escolher. Ou ia à Sorrento ou ia à Fiorentina. Era quase uma postura política frequentar uma ou outra.
No sábado, depois do carnaval, a escola campeã desfilava na avenida. Eu me lembro da Mangueira mostrando “O mundo encantado de Monteiro Lobato”. Descubro no Google que foi em 1967. Mas me decepciono ao perceber que, quando se digita “o mundo encantado de”, Monteiro Lobato nem aparece. O Google privilegia Beatrix Potter, Richard Scarry e uma certa (ou um certo) Gigi. Não conheço nenhum dos três.
Daquele tempo, sobraram o Clube Marimbás e a Colônia de Pesca do Posto Seis. Temo pelo futuro deles. Os dois exemplos não combinam com a Avenida Atlântica sem casas.
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Agora é oficial. “Minha mãe é uma peça _ O filme”, tornou-se, no último fim de semana, a produção nacional de maior bilheteria em 2013. Com 47, 5 milhões faturados, está quase R$ 3 milhões à frente de “De pernas pro ar 2” (R$ 44, 7 milhões), que vinha ocupando a liderança desde a primeira semana do ano. Para o colunista, é a oportunidade de elogiar uma das atrizes do elenco. A exuberância de Paulo Gustavo não dá muita chance para que mais alguém se destaque no filme. Mesmo assim, é impossível não perceber o talento de Mariana Xavier, a intérprete de Marcelina, a filha de dona Hermínia. Aos 33 anos, Mariana não tem vaidade para compor uma adolescente meio antipática, totalmente fora de forma e sempre engraçada. Olho nela!


Poetas e tipógrafos - RUY CASTRO

FOLHA DE SP - 17/08

RIO DE JANEIRO - Vice-cônsul do Brasil em Barcelona em 1947, o poeta João Cabral de Melo Neto foi a um médico por causa de sua crônica dor de cabeça. Ele lhe receitou exercícios físicos, para "canalizar a tensão". João Cabral seguiu o conselho. Comprou uma prensa manual e passou a produzir à mão, domesticamente, os próprios livros e os dos amigos. E, com tal "ginástica poética", como a chamava, tornou-se essa ave rara e fascinante: um editor artesanal.

Um livro recém-lançado, "Editores Artesanais Brasileiros" (Autêntica-FBN), de Gisela Creni, conta a história de João Cabral e de outros sonhadores que, desde os anos 50, enriqueceram a cultura brasileira a partir de seu quarto dos fundos ou de um galpão no quintal: Manuel Segalá, no Rio; Geir Campos e Thiago de Mello, em Niterói; Pedro Moacir Maia, em Salvador; Gastão de Holanda, no Recife; e Cleber Teixeira, em Florianópolis.

O editor artesanal dispõe de uma minitipografia e faz tudo: escolhe a tipologia, compõe o texto, diagrama-o, produz as ilustrações, tira provas, revisa, compra o papel e imprime --em folhas soltas, não costuradas-- 100 ou 200 lindos exemplares de um livrinho que, se não fosse por ele, nunca seria publicado. Daí, distribui-os aos subscritores (amigos que se comprometeram a comprar um exemplar). O resto, dá ao autor. Os livreiros não querem nem saber.

Foi assim que nasceram, em pequenos livros, poemas de --acredite ou não-- João Cabral, Manuel Bandeira, Drummond, Cecília Meireles, Joaquim Cardozo, Vinicius de Moraes, Lêdo Ivo, Paulo Mendes Campos, Jorge de Lima e até o conto "Com o Vaqueiro Mariano" (1952), de Guimarães Rosa. E de Donne, Baudelaire, Lautréamont, Rimbaud, Mallarmé, Keats, Rilke, Eliot, Lorca, Cummings e outros, traduzidos por amor.

João Cabral não se curou da dor de cabeça, mas valeu.

Zorra Total! Barbosa e Lewando! - JOSÉ SIMÃO

FOLHA DE SP - 17/08

STF quer dizer Supremo Telecatch Federal! Barbo e Lewan! Parece dupla cômica, tipo Oscarito e Grande Otelo


Buemba! Buemba! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! E um amigo cruzou com um carro da Argentina com a placa: EGO 434! Rarará! Só podia ser carro de argentino!

E o desabafo de um são-paulino: "Cansei de ser bambi! Agora sou Real e Portuguesa. Real no bolso e portuguesa na cama".

E esses escândalos, mensalão e trensalão, são muito chatos. Eu gosto de escândalo com sexo, sangue e Doritos com bacon. Queremos saber "QUEM COMEU QUEM!".

E os tiozinhos do Supremo? E o bate-boca do Barbosa e Lewandovski? Eu acho que é tudo combinado. De propósito! Dupla cômica!

"Devido ao grande sucesso no Mensalão 1, voltamos com a dupla dinâmica no Mensalão 2: Os Geriátricos da Breca!". Rarará!

STF quer dizer Supremo Telecatch Federal! Barbo e Lewan! Parece dupla cômica, tipo Oscarito e Grande Otelo, O Gordo e O Magro.

Eles deviam ir pro Zorra Total! Valéria Bandida e Janete. Dentro do metrô dos tucanos. Aí juntava dois escândalos num só!

E daria pro Alckmin parar de fazer aquela eterna cara de "correto"?. Meu pai que falava assim: "fulano de tal é muito correto". Correto por linhas tortas! Rarará!

E o Barbosa parece a minha sogra: ranzinza e não deixa ninguém falar! Esse mensalão só vai ter graça quando chegar no capítulo do Dirceu! Queremos sexo, sangue e o Zé Dirceu! Rarará!

E essa piada pronta: "Policiais que levavam Amarildo dizem que se perderam". Rarará.

Versão final: Amarildo deu um olé nos policiais e fugiu da viatura. Vai vendo!

E adoro os chineses: "Zoológico exibe cão no lugar do leão". Leão pilata! Botaram um mastiff tibetano no lugar do leão e a fraude só foi descoberta por que o cachorro latiu! Rarará.

É mole? É mole, mas sobe!

O Brasil é Lúdico! Hoje, em Salvador, na Exporural: "Leilão de Mangalarga: Pau da Rola & Amigos". Então quem for amigo do pau ou da rola, compareça. É que em Feira de Santana tem a Fazenda Pau da Rola.

E em Guarulhos tá à venda a chácara "Recanto Fiofó da Cobra". E tão vendendo professor de inglês em dez vez no Walmart: "Home Teacher Samsung, 10 X R$ 89,80!". Rarará!

Nóis sofre, mas nóis goza!

Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!

Marina na tempestade - DENISE ROTHENBURG

CORREIO BRAZILIENSE - 17/08

Um dos trunfos da ex-senadora, confirmado depois dos protestos de junho, é encarnar o novo, algo descolado da política tradicional. Buscar outra legenda, mesmo diante da impossibilidade de registrar a Rede, poderá ser o mesmo que vestir uma camisa partidária fora de moda


É frustrante e quase injusto que Marina Silva fique de fora da campanha ao Palácio do Planalto. E não estou aqui a falar de prazos judiciais ou mesmo da incapacidade da Rede Sustentabilidade em validar assinaturas necessárias para formalizar o partido. Refiro-me aos eleitores dispostos a chancelar a ex-senadora no próximo ano, um número verificado na última eleição, em 2010, e nas atuais pesquisas de intenção de votos. Marina partiria, segundo os correligionários e a partir das projeções, com pelo menos 20 milhões de votos. Um número considerável para levá-la ao segundo turno.

É evidente que a tal conta vale absolutamente nada caso Marina não consiga validar as assinaturas suficientes para a Rede Sustentabilidade. Na prática, o que atrapalha a ex-senadora é a legenda, ou melhor, a não existência dela. Seria até possível abrir um debate sobre a real importância da coleta de apoios para oficializar um partido para Marina, afinal as agremiações brasileiras são tão fracas e distantes da população que faria pouca diferença ter 500 mil assinaturas para anunciá-las. Nada, entretanto, é tão simples. Sem a chancela popular, o mercado das legendas seria ainda mais agressivo.

Uma nota: Marina está jogando dentro das regras, mesmo com a pressão para oficializar a Rede. Há uma fila de validações de assinaturas de outras legendas nos cartórios e, por mais simpática que a ex-senadora possa ser, parece impossível transpor a burocracia do serviço público. Aqui é o teto das reclamações dos correligionários da Rede. Sim, porque o plano mais efetivo contra Marina foi, por ora, abortado: o Projeto de Lei nº 4.470/2012, esse sim um tiro na candidatura dela, caso disparado.

Tramitação
A proposta impede a parlamentares que migrem para novos partidos levarem junto as verbas do fundo partidário e o tempo de propaganda partidária em rádio e tevê, o que inviabilizaria qualquer troca de legenda. O texto recebeu apoio e assinaturas de todos os líderes partidários e, até gorar, teve, enquanto durou, uma tramitação recorde. Os mais empolgados com o projeto eram os cacique petistas, incluindo o de mais alta patente, Luiz Inácio Lula da Silva, que, como observador político privilegiado sabe do poder de Marina para assustar a presidente Dilma Rousseff na campanha de 2014. Depois da tal pressão das ruas, prevaleceu o bom senso. Esqueceram o texto. Nada mais justo, pois.

Assim, Marina tem contra ela apenas a burocracia. O papel de vítima, que poderia ser um dia encenado, não está mais disponível. O prazo da própria Rede — uma espécie de limite psicológico — venceu na quinta-feira, quando esperava-se que a legenda anunciasse todo o êxito na coleta de assinaturas. Como ainda é preciso a tramitação nos gabinetes e plenários do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o tempo de Marina se esgota a cada minuto. Pelo menos o tempo da Rede. E aí, por mais que Marina possa buscar um partido já formalizado para se candidatar, nunca será a mesma coisa.

Um dos trunfos de Marina, confirmado depois dos protestos de junho, é encarnar o novo, algo descolado da política tradicional. Recuar, mesmo diante da impossibilidade de registrar a Rede no TSE, seria o mesmo que vestir uma ultrapassada camisa partidária. Isso não significa que tal gesto a levaria a perder votos, é cedo e desnecessário prever tal coisa. No entanto, atrapalharia o atual discurso, já um tanto torto à medida em que mistura meio ambiente e, quando perguntada, pautas contra o casamento entre pessoas do mesmo sexo, a legalização da maconha ou do aborto.

Outra coisa
É dispensável uma bola de cristal para imaginar que Dilma Rousseff ganhou um respiro pelas próximas duas semanas, quando serão apresentadas as próximas pesquisas de opinião pública sobre a popularidade da presidente. Até lá, ela tem na manga a última pesquisa Datafolha, que apresentou uma leve melhora no desempenho da presidente. É bom aproveitar, pois.

Prêmio
Um dos maiores concursos de jornalismo da América Latina e da Península Ibérica, promovido pela Fundación Gabriel García Márquez para el Nuevo Periodismo Iberoamericano (FNPI), está com as inscrições abertas até o dia 26. O regulamento do prêmio pode ser conhecido no site www.fnpi.org.

CHAMADA INDISCRETA - MÔNICA BERGAMO

FOLHA DE SP  - 17/08

Dados da presidente Dilma Rousseff e do ex-presidente Lula foram vasculhados por funcionários da TIM nos arquivos da Serasa. Nenhum dos dois tentava comprar telefone, o que justificaria eventual consulta ao cadastro.

ÉTICA
Questionada pela coluna sobre os motivos da bisbilhotice, a TIM disse que faria uma investigação interna. Ontem, informou que demitiu dois funcionários por agirem em desacordo com seu código de conduta. "Detectamos que o acesso foi feito em uma loja franqueada e não estava relacionado a atividade comercial", diz Mario Girasole, diretor de relações institucionais da empresa.

RANKING
Nesta semana, o site Consultor Jurídico divulgou dados que a Serasa fornece a seus clientes como a renda presumida de autoridades e sugestões de limite de crédito. Dilma, que tem salário de R$ 26.723,00, aparecia com renda presumida de R$ 3,7 mil e crédito de R$ 2,1 mil. Lula merecia limite de crédito de R$ 10,8 mil e Fernando Henrique Cardoso, de $ 778.

JOIA RARA
"O Lula deve ser muito mais rico do que eu", diz FHC, em tom de brincadeira. O site informou também que a Tiffany & Co. fez uma consulta ao cadastro dele no Serasa em 5 de junho. O ex-presidente, no entanto, nega ter ido à joalheria nesse dia. E diz que não sabia da consulta a seu CPF. A empresa confirma e diz que vai averiguar a razão da consulta.

STEAK CARIOCA
Cinco anos depois de chegar a São Paulo, o P.J. Clarke's inaugura uma filial na zona sul do Rio. Charles Piriou, sócio-diretor que trouxe o badalado restaurante nova-iorquino para o Brasil, confirma a abertura até o fim do ano. Na terça, será reaberta a unidade no Itaim, que passou por reforma.

CLIQUE HISTÓRICO
Projeto que permite ver na internet a íntegra de documentos da época da ditadura militar, o site Brasil Nunca Mais Digital teve 276 mil acessos na primeira semana no ar. O pico de cliques ocorre por volta das 8h e após as 21h. Além do Brasil, a página registrou entradas originadas de países como Estados Unidos, França e Portugal.

POP SUPREMO
Os ministros do STF (Supremo Tribunal Federal) Joaquim Barbosa, Ricardo Lewandowski e Cármen Lúcia, que voltam aos holofotes com o julgamento dos recursos do mensalão, apareceram em ilustrações no estilo pop arte nos cartazes de festa dos alunos da Faculdade de Direito da USP. Dilma Rousseff e o ex-prefeito de São Paulo José Serra também estamparam os anúncios.

"Escolhemos quem está bombando, não necessariamente quem nos representa politicamente", diz a estudante Lívia Moscatelli, uma das organizadoras do Baile do 11, que foi ontem.

O PENSADOR
O debate de lançamento do livro "Pensadores que Inventaram o Brasil", de Fernando Henrique Cardoso, teve participação do sociólogo José Murilo de Carvalho e mediação da historiadora Lilia Schwarcz. Na plateia do Cine Livraria Cultura, no Conjunto Nacional, estavam anteontem a namorada de FHC, Patricia Kundrát, e a escritora Lygia Fagundes Telles.

DESIGN DE CLASSE
Canecas de alumínio com figuras pop e luminárias de papelão de caixa de ovos são algumas das criações do designer italiano Stefano Seletti, expostas na Conceito: Firmacasa, nos Jardins.

"Aposto em um design acessível", diz o dono da Seletti. Bota fé na emergente classe média brasileira, apesar da taxação aos importados. "Aqui, custam quatro vezes mais do que na Itália."

MODA NA CABEÇA
O relações-públicas da grife Valentino, Cacá de Souza, ao lado dos filhos Anthony e Sean, recebeu anteontem convidados no lançamento de coleção no shopping Cidade Jardim. A empresária Marina Sanvicente, as blogueiras Helena Bordon e Lala Rudge e Juliana Carvalho, representante da marca, estavam lá.

CURTO-CIRCUITO
O designer Marcelo Rosenbaum será anunciado hoje como o novo curador do clube de colecionadores de design do MAM.

A Chilli Beans lança coleção em homenagem a Cazuza, hoje, na Oscar Freire.

Hideko Honma organiza o evento beneficente Sopa na Caneca, hoje, às 18h, na Associação Travessia.

O pianista Marcelo Bratke se apresenta amanhã, às 11h, na Sala SP. 7 anos.

A montagem "A Criada Patroa", do projeto Ópera na Escola, será encenada amanhã na Freguesia do Ó e na Vila Moraes. Livre.

Dilma explode com Padilha - JORGE BASTOS MORENO - Nhenhenhém

O GLOBO - 17/08

Se alguém escrever que Dilma e Lula não estão mais afinados como antes, um dos dois vai repetir a ladainha de sempre: “Erra quem aposta...!” Então, vamos ao que De Gaulle considerava a maior autoridade da política: o fato. Tanto que se referia a ele reverencialmente: “Sua Excelência o Fato ”. O fato é que Lula, recentemente, resolveu passar por cima do PT e da Dilma, e decidiu que Padilha será o candidato ao governo de SP . Como Lula não consultou a Dilma para saber o que ela achava disso, o ministro também achou que não devia. Dilma, na extrema paciência de devedora, tentou engolir mais essa. Mas não conseguiu. Chamou Padilha e disse: —A sua prioridade é a implantação do programa Mais Médicos, não a campanha. Se a sua campanha colocar em risco o programa, não tenha dúvida, vou preservar o programa. Mais afinado que isso só Vanusa cantando o Hino Nacional.

Ninguém aguenta!
José Serra tem desembarcado in variavelmente todas as quartas em Brasília para, segundo alega, tratar de assuntos de ordem pessoal. E, por mero acaso , tem esbarrado em senadores e deputados tucanos . E, a esses correligionários , Serra tem dito que, daqui a mais duas pesquisas, retira o Aécio do páreo .

Fome Zero
Dilma finge que é durona só para sobreviver na selva de pedra da política machista. Aos poucos ela está permitindo a volta de Mercadante ao poder . O ministro já voltou a frequentar o Alvorada, mas sem direito a sentar-se à mesa de refeições , só na de trabalho.

Êxito
A penitência imposta por Dilma foi a de Mercadante preparar um relatório para comemorar a marca de um milhão de estudantes no Fies.

Castigo
Mas não para ele, Mercadante, faturar . A presidente quer destacar a importância fundamental que Haddad teve para o governo chegar a esses números. Tudo dentro da estratégia de fortalecimento político do prefeito de São Paulo. Quando quer , Dilma sabe ser má!

Macho!
Finalmente, surge alguém com coragem para tentar dar um basta aos desmandos do Eduardo Cunha no Congresso. O meu amigo Tarso Genro, ao identificar o dedo de Cunha para impedir a votação do projeto da reestruturação das dívidas dos estados, advertiu que a influência nefasta do deputado poderá provocar uma completa revisão da aliança de Dilma com o partido de Michel Temer. E olhe que quem trouxe Michel mais para perto do PT foi o próprio Tarso.

De olho
Irritada com as notícias de que vai à TV se expor mais para recuperar a popularidade, Dilma foi direta à fonte: — Queridinho, você acha que se sair no jornal vira fato consumado? João Santana abaixou a cabeça, morto de vergonha.

Desoneração
Quem disser que entende de política está mentindo. Lindbergh jamais conceberia um cenário político-eleitoral mais favorável do que este. Pois bem, neste exato momento em que, repito, tudo corre a favor do PT no Rio, o partido começa a recuar da tese da candidatura própria. Burrice? Não! Extrema sabedoria. O Rio está tão ingovernável que a pior coisa que pode acontecer a um partido atualmente é eleger um governador no estado.

Beija-toga
Depois da lamentável cena proporcionada por Joaquim Barbosa na última sessão do STF , a maioria dos ministros correu em solidariedade ao gabinete da vítima, o ministro Lewandowski.

Pânico
E, pela primeira vez, traçou-se um perfil coletivo do comportamento do presidente do Supremo. Pelas histórias levantadas , chegou-se à conclusão de que, em se tratando de Joaquim Barbosa, tudo é possível acontecer .

Juiz
Uma pena. Nunca o país torceu tanto por uma pessoa dar certo como agora. E não há muita coisa a fazer para mudar isso . Só o Joaquim Barbosa pode mudar o Joaquim Barbosa.


A confirmar - SONIA RACY

ESTADÃO - 17/08

A pelo menos um interlocutor, Joaquim Barbosa disse que se retratará, na quarta-feira.

Reação
Direto de Praga, Antônio Carlos de Almeida Castro, o Kakay - um dos poucos a ter cliente absolvido no mensalão opinou sobre a briga entre Barbosa e Ricardo Lewandowski, no STF.

"A OAB tem de se manifestar sobre isso. Em 32 anos, nun­ca vi nada parecido."

Cachorro grande
Os fundos de pensão perten­centes a estatais estudam questionar na Justiça as re­gras impostas a quem já tem concessão de aeroporto e quer disputar a do Galeão e de Cofins. O governo limitou em 15% a participação.

Ser ou ser...
Enquanto adia a decisão sobre a candidatura a presidente, Serra foi pego de supetão por um eleitor, anteontem, no lançamento de livro de FHC na Livraria Cultura. "Vai tentar derrotar a Dilma de novo no ano que vem?"

A resposta? Um constrangi­do "não, não vou".

Voo solo?
Até os mais próximos duvi­dam que Serra consiga empla­car as prévias no PSDB. "Nem votos na executiva para apro­var as primárias ele tem."

Cinema em casa
A pedido do Planalto, os exibidores de Hannah Arendt em Brasília enviaram cópia do fil­me de Margarethe von Trot­tapara Dilma. O longa se ba­seia no livro de Hannah Eichmann em Jerusalém: um Relato Sobre a Banalidade do Mal

Cerca de 70 mil pessoas já assis­tiram em onze cidades do País.

Cinema 2
A presidente havia informado, na semana passada, que estava relendo As Origens do Totalitaris­mo e que gostaria de ver o filme.

Mas que, infelizmente, não po­de mais ir a qualquer cinema.

VIP
E FHC está recebendo trata­mento para lá de especial da ABL. Marcos Vinicios Vila­ça antecipou a entrega do dis­tintivo ao ex-presidente, que só tomará posse na Acade­mia no dia 10 de setembro.

Trata-se da primeira vez que um imortal recebe a honraria antes da cerimônia oficial.

Onda
Boa notícia para Alexandre Padilha, pré-candidato ao go­verno de SP. A OMS informou ao ministro que quer o Brasil como "um centro de colabora­ção" para eventos de massa.

Para evitar o desastre fiscal - ILIMAR FRANCO

O GLOBO - 17/08


O PT e o PMDB estão negociando a redução gradativa da multa de 10% sobre o saldo do FGTS em demissões sem justa causa. O presidente da Fiesp, Paulo Skaf, foi ouvido. O objetivo é manter o veto da presidente Dilma para não afetar as receitas de R$ 10 bi ano, para crédito ao Minha Casa Minha Vida; de 800 milhões ano para subsídios; e, de R$ 3 bilhões ano para atingir o superávit primário.

Dilma, Marina e a faxina
Os aliados do governo Dilma avaliam que é inevitável o desgaste que a presidente enfrenta com o Congresso. Dizem que a derrota no caso do Orçamento Impositivo, e o fato de ter cedido na Lei dos Royalties, ocorrem porque a presidente nunca deu prioridade, em sua agenda, à relação com os parlamentares. A presidente iniciou seu mandato investindo na conquista da classe média, preocupada com a força eleitoral de Marina Silva. Dilma transformou num bordão a afirmação de que faria uma faxina no país. E acrescentam que isso desgostou o Congresso e frustou a expectativa de sua base parlamentar.

A nova regra para votar os vetos é rígida. Mas sempre que houver negociação ela pode ser excluída por decisão do presidente do Congresso
Renan Calheiros
Presidente do Senado (PMDB-AL)

Na marra
Como os partidos não indicavam os integrantes da Comissão da PEC do Voto Aberto na cassação de parlamentares, o presidente da Câmara, Henrique Alves (PMDB-RN), nomeou para ela os líderes do PT, do PMDB, do PP e do PTB.

É sempre assim
A realização de uma Copa no Brasil sempre foi polêmica. Na década de 40, a síntese do embate foi o debate entre Mário Filho e Carlos Lacerda. Um queria construir o estádio do Maracanã em Jacarepaguá. Mario Filho ganhou a parada e ele foi construído na Tijuca. Lacerda não queria gastar tanto. Mario Filho queria erguer o maior estádio do mundo.

Na pressão
O governo vai intensificar as pressões sobre o Congresso para que este faça a reforma política. Avalia que está é uma exigência dos eleitores, que não vão se conformar com maquiagens, como a da redução do tempo das campanhas.

'Cielito Lindo'
O ministro Antônio Patriota (Relações Exteriores) está otimista com as relações e o diálogo do Brasil com o novo governo do Paraguai. O chanceler James Spalding é amigo pessoal de Patriota. Eles se conheceram em Washington (EUA). Já a assessora internacional do presidente Horácio Cortez, Leila Rachid, além de amiga, costuma chamar Patriota pelo apelido de “Cielito”. 

Obstinado
O ex-governador José Serra segurou suas comversas para ingressar no PPS. Depois de reunir-se com os governadores Geraldo Alckmin (SP) e Beto Richa (PR) vai insistir em prévias no PSDB para decidir o candidato à presidência.

A batalha da gorjeta
Os senadores cederam às pressões da Federação Brasileira de Hospedagem e Alimentação e retiraram a urgência do projeto que regulamenta a cobrança da gorjeta e seu repasse aos garçons. O projeto também prevê a tributação da gorjeta.

DISPARADO. O presidente do PT, Rui Falcão, tem o apoio de 61 deputados federais, de uma bancada de 89, para sua reeleição ao cargo.

Vamos compartilhar - VERA MAGALHÃES - PAINEL

FOLHA DE SP - 17/08

O convênio para ceder dados de eleitores para a Serasa não foi o único acordo de compartilhamento de informações firmado pelo Tribunal Superior Eleitoral. Em 2011, o TSE assinou termo de cooperação com a Caixa Econômica Federal, com cláusula de sigilo, para disponibilizar dados de eleitores para o banco com o objetivo de agilizar o pagamento de programas sociais, como o Bolsa Família. Outro, com a Abin, prevê o fornecimento de dispositivos criptográficos ao tribunal.

Pente-fino Na esteira do escândalo da Serasa, o TSE criou uma comissão para analisar todos os convênios envolvendo informações cadastrais do órgão. Técnicos terão 15 dias apresentar resultado.

Dúvida cruel Até ontem, interlocutores de Dilma Rousseff no Planalto diziam que a presidente ainda estava indecisa sobre a nomeação do novo procurador-geral da República, o que surpreendeu assessores e ministros.

Petit comité Michel Temer marcou para segunda-feira uma reunião no Palácio do Jaburu com os petistas Rui Falcão e Aloizio Mercadante para discutir o cenário eleitoral de 2014. O senador Eunício Oliveira (PMDB-CE) também deve participar.

Plataforma 1 O ex-presidente Lula se reuniu por quatro horas ontem, em Osasco, com prefeitos do PT na Grande São Paulo. Pediu o reforço das gestões do partido na região para impulsionar a candidatura de Dilma no Estado.

Plataforma 2 O petista destacou a mobilidade como principal tema dos grandes centros urbanos e pediu aos prefeitos que priorizem ações e investimentos em parceria com o governo federal.

Mote Ao dizer que as demandas apresentadas nos protestos de rua são semelhantes a bandeiras que o próprio PT empunhou por anos, Lula brincou: "Talvez o único ponto diferente fosse uma faixa com críticas ao FMI".

Faltou... Fernando Haddad disse à secretária Leda Paulani (Planejamento) que não gostou da forma como ela explicou a mudança do enquadramento das obras viárias do Arco do Futuro no Plano de Metas da prefeitura.

... combinar A ideia discutida no núcleo duro do prefeito era transformar as obras em operações urbanas para incluí-las no PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), mas sem excluir o compromisso de "licitar, licenciar, projetar e garantir fonte de financiamento" o Arco.

50 tons Na verdade, a meta de licitar e garantir recursos para as obras já é um recuo em relação à campanha eleitoral, quando Haddad prometia executar as obras em seu mandato.

Contra... A Polícia Federal em São Paulo quer concluir no fim do ano ou no início de 2014 a investigação sobre a suspeita de formação de cartel em licitações de trem e metrô no Estado. Quer evitar acusação de uso eleitoral caso a apuração se estenda.

... o relógio A instituição já realizou uma investigação preliminar sobre as denúncias de corrupção no setor, mas espera receber até setembro uma autorização da Justiça para acessar o material apreendido pelo Cade na sede das empresas suspeitas.

Vacina O líder do PT na Câmara, José Guimarães (PT-CE), apresentou projeto de lei complementar propondo a extinção gradativa da multa de 10% do FGTS até 2017. É uma tentativa de mitigar a esperada derrubada do veto de Dilma à extinção da multa.

Ontem e hoje O mesmo Guimarães, no entanto, defendeu a extinção da multa durante reunião com empresários em maio deste ano.

com ANDRÉIA SADI e BRUNO BOGHOSSIAN

tiroteio

"O vaivém das declarações mostra que o Arco do Futuro, na verdade, era uma promessa de campanha do arco da velha."
DE ALEXANDRE SCHNEIDER, ex-secretário de Educação de Gilberto Kassab, sobre a exclusão das obras viárias do Arco do plano de metas de Haddad.

contraponto

Fazemos qualquer negócio
Durante sua visita a Brasília, nesta semana, o secretário de Estado norte-americano, John Kerry, conheceu projetos de alunos do programa Ciência sem Fronteiras que estudaram nos EUA. Aloizio Mercadante (Educação) aproveitou para negociar a ampliação da parceria:

-Queria a sua ajuda para negociar acordos com o MIT e com Harvard --disse o ministro brasileiro.

-Desde que você inclua Yale na lista... --respondeu Kerry, ex-estudante daquela universidade.

-Claro! Está nomeado embaixador do Ciência sem Fronteira em Yale! --concordou Mercadante, na hora.

O Leão à solta - LUIZ CARLOS AZEDO

CORREIO BRAZILIENSE - 17/08

A Receita Federal realiza uma blitz contra as grandes empresas do país que adotaram o chamado “planejamento tributário”. Muitas vezes, esse é um eufemismo que oculta a atuação de advogados especializados em encontrar brechas legais que possibilitem a seus clientes pagar menos impostos. Graças a um certo pântano tributário criado por medidas provisórias, decretos e portarias que, muitas vezes, não guardam coerência entre si.

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Gigantes da economia nacional foram pesadamente autuados: Natura, Oi, Vivo, Tim, BM&Fbovespa, Gerdau, entre outros. Todos estão como bons cabritos, tentando uma negociação com o governo e a Receita Federal. Quem pôs a boca no trombone, porém, foi o Banco Itaú, que sofreu no fim de junho a autuação mais pesada: R$ 18,7 bilhões.

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Ontem, o banco soltou um comunicado ao mercado no qual considera “descabida” a atuação da Receita — R$ 11,844 bilhões do valor da multa são referentes ao Imposto de Renda de Pessoa Jurídica (IRPJ) e R$ 6,867 bilhões à Contribuição Social sobre Lucro Líquido (CSLL). Os valores, já acrescidos de multas e juros, devem-se ao não recolhimento do IRPJ e da CSLL em 2008, quando os bancos Itaú e Unibanco se associaram. Corresponde à diferença entre o valor patrimonial do Unibanco e o valor de mercado pelo qual foi vendido, o chamado ágio. O Itaú abateu a diferença do imposto de renda.

Votação// O senador Aécio Neves (PSDB-MG) cobrou ontem da bancada do PT o atraso na votação da PEC 31, que estabelece o ressarcimento de estados e municípios por perdas fiscais. Proposta pelo senador, obriga o governo federal a compensar as perdas financeiras causadas no FPM e FPE por incentivos fiscais federais.

Rugidos
De acordo com o comunicado, a Receita discorda da forma societária adotada à época, de “unificação das operações”, e diz que a forma mais adequada seria a de “operações societárias de natureza diversa”, que gera mais tributos. Para o Itaú Unibanco, de Roberto Setúbal (foto), a posição da Receita não se aplica às normas que regem as instituições financeiras, e as operações de associação foram apropriadas, tendo sido sancionadas por autoridades competentes como o Banco Central, a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade). A Receita ameaça processar a instituição criminalmente.

Na bolsa
No mercado financeiro, a crise entre o maior banco privado do país e a Receita Federal, que provocou a queda das ações da empresa na Bolsa de São Paulo, foi vista como uma oportunidade para a compra, segundo relatório do Goldman Sach. Banqueiro só pensa em ganhar dinheiro.

Sonegação
Somente entre 2010 e 2012, a Receita calcula a sonegação fiscal decorrente do que chamou de “planejamento tributário de má-fé” em cerca de R$ 100 bilhões

Ligados
O banco americano de investimentos JP Morgan preparou um guia sobre o Brasil intitulado “Contagem Regressiva para as Eleições”. Preparado pelos economistas da instituição, ele considera que as eleições para a presidência da República no país são o centro de atenção dos investidores. “Três assuntos são importantes: quem são os candidatos, em qual contexto econômico a eleição vai acontecer e quais são os riscos para a direção da política econômica”, diz o documento.

Tortura/ O presidente da Comissão da Verdade do Rio de Janeiro, Wadih Damous, vai encaminhar ao Ministério Público o depoimento do coronel Walter Jacarandá, da reserva do Corpo de Bombeiros do Rio de Janeiro, em que admitiu ter participado de sessões de tortura no DOI-Codi (Destacamento de Operações de Informações-Centro de Operações de Defesa Interna).

Seguro/ A Força Sindical entrará com uma Ação Direta de Inconstitucionalidade (Adin) no Supremo Tribunal Federal (STF) contra a decisão tomada pelo Conselho Deliberativo do Fundo de Amparo ao Trabalhador (Codefat) de reajustar o seguro-desemprego pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC).

Violentos
O PSTU resolveu bater de frente com os black blocs. A antiga Convergência Socialista questiona o grupo de mascarados vestidos de preto que promove confrontos com a polícia nas manifestações. O partido de Zé Maria (foto) ironiza: “Eles depredam, digamos, uma agência do Itaú. A PM reage como a PM. Eles apanham. No protesto seguinte, eles quebram mais algum símbolo do capitalismo. A PM reage. Eles apanham de novo. E la nave va. Até tudo terminar no Facebook (…)Agem como provocadores da repressão policial, tendo sido responsáveis, muitas vezes, por acabar com várias passeatas.”

Repressão
Segundo o PSTU, os black blocs defendem a “propaganda pela ação”. Ou seja, as depredações das fachadas de bancos, empresas, lojas de grifes e tudo o que simboliza o capitalismo. “Nós, do PSTU, não temos nenhum apreço por essas instituições. Muito pelo contrário. Mas consideramos que esses métodos não enfraquecem os grandes empresários. Ao contrário, dão- lhes um argumento para jogar a opinião pública — e muitos trabalhadores — contra as manifestações e, assim, preparar a repressão. Sua “ação direta” é típica de setores de vanguarda, descolados das massas, que terminam por fazer o jogo da direita, justificando a repressão.”

Partidos e direito: a confusão - WALTER CENEVIVA

FOLHA DE SP - 17/08

Costumes mudam com a velocidade do trem bala, enquanto o direito continua como os velhos trens


Quando se recomeça a pensar em partido político e nas novas iniciativas do momento atual, com os conflitos diários, individuais e coletivos, cresce a curiosidade do profissional do direito quanto aos desencontros políticos.

Exemplo: um partido tem dificuldades em se registrar. Por quê? Para você registrar um partido político e qualquer outra forma de sociedade civil, o ritual do início é o mesmo.

Uma distinção constitucional é importante. A Carta Magna diz que os partidos políticos adquirem a personalidade eleitoral depois de registrados no Tribunal Superior Eleitoral (Constituição, art. 17, parágrafo 2º), sob cuidados indicados no Código respectivo.

Tanto o partido como, por exemplo, uma sociedade esportiva obedecem a chamada Lei dos Registros Públicos --de meu permanente interesse profissional.

Essa norma regula, entre outros, os registros de associações civis, organizações religiosas, fundações e, neste caso, os partidos políticos.

Cabe a pergunta do leitor: se a coisa é assim tão formal, com dois tipos de registros especiais, como se explicam tantos "partidinhos" que parecem destinados a composições espúrias, chegando ao que se tem chamado de aluguel de legendas. Embora muito criticada, nem por isso foi abandonada.

O principal veículo da desmoralização do partido político vem de seu principal instrumento de operação: a liberdade de opção entre políticas, ideais marcados e permanentes, mais diversos, sob a garantia do sistema democrático. Esse se assentou na terra brasileira e vive hoje em inovada realidade histórica. Após a independência, mantida na República, a liberdade democrática foi restrita. Essa é a primeira vez em que se assinala, durante tantos anos seguidos, a persistência do poder democrático e republicano, eleito pelo povo. Menos de 30 anos de democracia, nos pouco mais 190 anos de vida independente.

Agitação política atual, manifestações populares, reclamações coletivas, hoje predominantes --e necessárias quando afastados os maus elementos infiltrados, que facilitam o retornar à ditadura-- é um preço a ser pago.

A história do direito, a confirmação do caminho da livre manifestação, mostram que os fatos sociopolíticos não são um conjunto de linhas retas, no mesmo rumo: a preservação democrática é essencial.

O motor da velocidade na atual transformação nasceu da eletrônica. O direito e a sociedade não se adaptaram, senão lentamente. Costumes e comportamentos se transformaram, no século 20, com a velocidade do trem bala, enquanto o direito, apesar dos esforços de adaptação, continua como os velhos trens de subúrbio. O descompasso das velocidades gera a confusão.

O leitor reclamará da lentidão que sacrifica as gerações destes decênios. Terá razão. Para quem estuda a história dos direitos, a lentidão é o único fenômeno permanente em episódios sucessivos. Parece com barreiras que resistem muito à água acumulada. No excesso, quando se rompem, é de uma vez. A história também é assim.

Estas notas nem parecem jornalísticas, das que vivem no dia a dia da vida, mas são as que se pode depreender do curso do tempo. A confusão do direito na sociedade se resolve na história. É dever de todos contribuir para ativar a democracia. Com dignidade.

Bom senso e compaixão - ROSISKA DARCY DE OLIVEIRA

O GLOBO - 17/08

Dependência é um problema de saúde pública, tráfico é um caso de polícia. De uma polícia competente e honesta



O tráfico de drogas, essa próspera e diabólica multinacional, se alicerça em uma premissa simples: conquistar consumidores tornando as pessoas dependentes, destruindo-as, reduzindo a zero seu poder de decisão e transformando-as em clientes cativos de um mercado ilegal.

Quem tem em casa um dependente de drogas conhece o calvário em que mergulham a vítima e a família devastada. Daí o medo e o silêncio das famílias e o horror da sociedade. Só que o medo nunca foi bom conselheiro. Inspira as reações mais disparatadas e ineficazes, ainda que humanamente compreensíveis. Na ausência de debate, o silencio congela as soluções.

Um homem chamado José Júnior, sem medo, fez aposta inversa à do tráfico: é possível reconstruir uma pessoa, mesmo um ex-traficante, dar-lhe uma segunda oportunidade, oferecendo-lhe um sentido para a vida. Não há maior desafio à lógica implacável do tráfico. Não por acaso a sede do AfroReggae, no Complexo do Alemão, foi metralhada, e todos que estimam seu fundador temem pela sua segurança. O maior mérito de José Júnior terá sido demonstrar que a luta contra o tráfico vai muito além da óbvia ação policial.

Em boa hora nasceu e está crescendo na sociedade um movimento espontâneo em defesa da vida de José Júnior e da política de pacificação que vem se mostrando preciosa para a o Rio, libertando os territórios ocupados. Para que as UPPs continuem sendo portadoras de esperança é essencial que a polícia esclareça o que aconteceu com Amarildo Dias de Souza, prestando contas à sua família e a nós todos. Desaparecimentos e mortes obscuras nos remetem aos tempos de pesadelo que precederam a pacificação.

Na infame prisão feminina do Carandiru, em São Paulo, Drauzio Varela também aposta na possibilidade de reconstrução de vidas destroçadas. Diz que não há, no mundo, cadeia sem drogas. Ora, se as drogas penetram nas celas trancadas, pergunta-se: como é possível a ilusão de erradicá-las em sociedades abertas? Essa Ilusão tem ceifado a vida de milhares de jovens, ao longo de décadas, na guerra inútil contra as drogas.

Na Colômbia, país que mais sofreu com o narcotráfico, o presidente Juan Manoel Santos perdeu essa ilusão. Sentiu — e a expressão é dele — que pedalava uma bicicleta que não saía do lugar. Colocou na pauta da Cúpula das Américas um debate sobre a política de drogas que levou à conclusão que muda tudo: o dependente não é um criminoso a ser perseguido, é um paciente a ser tratado. O relatório encomendado pelos chefes de Estado à OEA foi ainda mais longe, evocando a legalização da produção, venda e uso controlado da maconha, droga cujos efeitos seriam menos nocivos do que os do álcool e do tabaco.

Ecoando o relatório, o presidente José Mujica, do Uruguai, na semana passada, apoiou a aprovação pela Câmara dos Deputados da “lei de regulação responsável” da maconha, que, saindo da ilegalidade, passa a estar sujeita às restrições e regulações que o Estado e a própria sociedade impõem.

Mujica deu prova de bom senso. O extraordinário recuo do consumo de tabaco no mundo todo só foi possível porque o tabaco, não sendo proibido, podia ser regulado: taxação por impostos altíssimos, proibição de fumar em lugares públicos, interdição de publicidade, obrigação de estampar no produto o mal que ele faz. Um maço de cigarros que já foi para os fumantes a antecipação de um prazer virou um objeto macabro. Foi-se o glamour do cigarro. Escolas aderiram à prevenção e não foram poucas as crianças que puxaram a orelha dos pais fumantes.

Uma política de drogas inteligente combateria o consumo via um esforço concentrado de informação e dissuasão, já que, enquanto houver demanda, haverá oferta, e ampararia os que já pisaram na armadilha, acolhendo-os e tratando-os, revertendo o processo que os transforma em dejetos humanos.

É o que faz a Suíça, que investe na prevenção, oferece tratamentos de substituição, incluindo o polêmico fornecimento controlado de drogas aos dependentes, e reserva uma repressão severíssima para o crime organizado. É assim que corta o elo de dependência entre as vítimas e os traficantes.

Ruth Dreifuss, ex-ministra da Saúde, que concebeu essa política, mais tarde a primeira mulher a presidir a Suíça, dá uma lição de compaixão ao lembrar que “os drogados são nossos próprios filhos, pessoas que amamos, que estão sofrendo, ameaçados pela doença, pela desintegração social, pela morte”.

Prevenção é responsabilidade de todos, dependência é um problema de saúde pública, tráfico é um caso de polícia. De uma polícia competente e honesta.

Luz no fim do eixo - ÁLVARO PEREIRA JÚNIOR

FOLHA DE SP - 17/08

Uma máquina de autodivulgação, que exagera os números para seduzir os patrocinadores


Na defensiva, admitindo erros. Quem diria, foi essa a imagem nos últimos dias de Pablo Capilé, o outrora inabalável líder do coletivo Fora do Eixo.

Até há pouco, só quem sabia do Fora do Eixo --originário de Cuiabá, surgido em festivais independentes, hoje tentando colar também em movimentos populares-- era a turma pequena que acompanha o cenário musical. Já escrevi muito e criticamente sobre o FdE. Por anos, na "grande mídia'', uma voz solitária.

Mas vieram as manifestações de junho, as transmissões da Mídia Ninja (ao vivo, de dentro das passeatas) e a revelação de que os ninjas eram bancados pelo Fora do Eixo.

Seguiu-se um interesse natural, culminando no programa "Roda Viva" da semana retrasada. Os entrevistados foram Capilé e Bruno Torturra. Mesmo que boa parte dos entrevistadores não entendesse nada, fez-se uma pergunta crucial: de onde vem o dinheiro do FdE?

Assim, já de início, foi possível saber que a tropa do revolucionário, do antiestablishment, do inimigo do capitalismo Pablo Capilé vive de dinheiro de governos e de grandes corporações (por meio dos chamados "editais"). De qualquer governo (PT, PSDB etc.) e de qualquer corporação (Petrobras, Vale, Banco do Brasil, Itaú Cultural, o que pintar).

No geral, Capilé e Torturra saíram-se bem. Ironicamente, parece que o bom desempenho foi o estopim da reação. Como se algumas pessoas tivessem dito: "O Fora do Eixo vai sair por cima? Já me dei mal com eles, sei quem são. Vou contar tudo". Uma tormenta se armou na internet.

Começou com o depoimento da cineasta Beatriz Seigner, que se ligou a eles e sentiu-se enganada. Prosseguiu com o testemunho de Laís Bellini, ex-militante, apontando as semelhanças com uma seita. E aumentou com dezenas de outros desabafos.

Assim, foi possível esboçar o "modus operandi" do FdE.

a) são uma indústria de ganhar editais;

b) muito raramente pagam cachês;

c) operam por dentro da política partidária e do aparelho estatal, principalmente secretarias de Cultura (quase sempre petistas) e o próprio MinC;

e) são uma máquina de autodivulgação, inflando os números dos eventos que organizam, para conseguir mais visibilidade com patrocinadores e políticos;

f) sob o slogan "trabalho é vida", jovens que vivem nas Casas Fora do Eixo dedicam-se de graça, sete dias por semana, a essa atividade publicitária, como "formigas felizes".

A expressão "formigas felizes" não é de ninguém "de direita", "rancoroso" ou "analógico", como o FdE costuma desqualificar seus críticos. Está em um texto no Facebook da americana Shannon Garland, 31, doutoranda do Departamento de Música da ultraprestigiosa Universidade Columbia, em Nova York.

Ela estuda a música independente sul-americana. Fala ótimo português, entende o Brasil. Colaborou com o Fora do Eixo, chegando a passar dois dias por semana na casa de São Paulo. Em dezembro de 2012, publicou um artigo revelador: "The Space, the Gear, and Two Big Cans of Beer" (o espaço, o equipamento, e duas latonas de cerveja).

O texto antecipa a discussão de hoje. Aponta que o Fora do Eixo é uma organização voltada para a promoção de si própria. Os festivais, as bandas, tudo segundo plano. O importante é fazer coisas, qualquer coisa, para que depois as formigas felizes as promovam artificialmente na internet.

Shannon Garland se diz decepcionada com a unanimidade pró-FdE no meio acadêmico, incluindo pesquisadores que admira. Lamenta que Hermano Vianna, Ronaldo Lemos e Oona Castro "elogiem tanto" a organização de Capilé.

Mas há pelo menos uma exceção. André da Fonseca, da Universidade Estadual de Londrina, apresenta o que chama de "visão crítica sem rancores ou deslumbres". Escreveu um artigo valioso, "Vida Fora do Eixo", sobre a dedicação obcecada dos militantes.

E um dos maiores especialistas do mundo em coletivos e cultura alternativa também quebra o consenso. É George Yúdice, da Universidade de Miami, profundo conhecedor do Brasil.

Em depoimento no "Face", ele conta como apresentou o FdE a grupos da América Central e, quando percebeu, fora passado para trás --o FdE tinha tomado conta do dinheiro e pregado sua marca em eventos que nada tinham a ver com o coletivo brasileiro.

O juiz da Suprema Corte americana Louis Brandeis (1856-1941) dizia: "A luz do sol é o melhor desinfetante; a luz elétrica, o policial mais eficiente". Figura das sombras, das manobras, imperador de um submundo paralelo, Pablo Capilé enfrenta pela primeira vez a exposição pública. O resultado tem sido devastador.

Não plantou e quer colher? - SÉRGIO MAGALHÃES

O GLOBO - 17/08

Sem crescer a população, como prevê o Ipea, não faz sentido expandir a cidade



Em julho, o Brasil emplacou 300 mil novos veículos. No mesmo mês, sedes do AfroReggae sofreram atentados a bala em favelas, no Rio. O Ipea calcula que a população brasileira pouco crescerá até 2030.

São questões isoladas? Não. Mobilidade, segurança e ocupação urbana são temas interligados e fundamentais tanto para a qualidade de vida cidadã quanto para o desenvolvimento nacional.

O número de veículos licenciados reflete a prioridade que os governos têm dado à indústria automobilística. A partir dos anos 1960, o país optou pelo rodoviarismo. Desconstruiu a rede de bondes, enfraqueceu as ferrovias urbanas, desconsiderou o transporte de alto rendimento, investiu em viadutos e alargamento de vias. Essa opção desestruturou o espaço público, descaracterizou bairros e expandiu as cidades além do que o aumento demográfico exigiria.

A infraestrutura e os serviços públicos não acompanharam tal expansão. Partes pobres das cidades foram abandonadas pelo Estado, permitindo que favelas, loteamentos e conjuntos residenciais fossem dominados por bandidos armados.

O AfroReggae nasceu nesse contexto, e se dedica a apoiar jovens moradores de favelas a se libertarem das amarras do tráfico, através da arte. Seu líder tem sido alvo de ameaças, atribuídas a traficantes incomodados por ações em favelas onde há UPPs.

Sem crescer a população, como prevê o Ipea, não faz sentido expandir a cidade. Ao contrário, cidades compactas são mais econômicas nas infraestruturas e nos serviços públicos. Nelas, a resposta urbanística à mobilidade se promove não com mais automóveis, mas, justamente, com rede de transporte de alto rendimento (do tipo metrô) e com aproveitamento das infraestruturas existentes. E, claro, sem estímulos à especulação de terras e sem investimentos públicos que levem à expansão. Os privilégios devem ser dados aos lugares onde as pessoas já vivem e trabalham.

A ditadura de índices econométricos, que impõe às cidades mais automóveis e menos serviços, deverá ser rejeitada: ela plantou desigualdade. Precisará dar lugar à política que universaliza os serviços públicos, inclusive o de segurança, e valoriza o desempenho qualitativo da vida cidadã. Nenhuma parte da cidade sem a proteção da Constituição!

Mas o Estado brasileiro, nas três instâncias, precisa rearrumar-se para enfrentar os desafios urbanos contemporâneos — que as ruas estão a evidenciar. Os incipientes quadros de planejamento urbano e territorial do Estado foram desfeitos nas últimas décadas. Mesmo no setor privado, as equipes de planejamento e projeto desestabilizaram-se ante a escassez de políticas públicas correspondentes.

Seremos, porém, quase 200 milhões de brasileiros em cidades. É urgente construir a capacidade institucional de enfrentamento das demandas de médio e longo prazo localizadas no sistema urbano brasileiro. Para colher bem-estar, precisamos plantar cidades mais democráticas.

Democratização e política externa - ALEXANDRE VIDAL PORTO

FOLHA DE SP - 17/08

A contribuição de agentes interessados em relações internacionais não deve ser menosprezada


CONHECI Matias Spektor, colunista da Folha, em Washington, faz alguns anos, em um seminário sobre o Brasil. No meio daquela conversa antiga de brasilianistas arcaicos, foi refrescante ouvir alguém cuja visão fugia do estereótipo.

Recentemente, Spektor escreveu sobre a importância de que a sociedade civil possa participar mais ativamente do processo de elaboração da política externa brasileira.

Eu concordo com ele.

A política externa pode parecer um conceito abstrato e distante, mas é política pública como qualquer outra. Lança os objetivos econômicos, políticos e estratégicos que um país quer alcançar no plano internacional. Também defende e promove princípios e valores.

Realiza-se em capitais distantes e é discutida em línguas estrangeiras. Ainda assim, deve projetar a nacionalidade e ser executada em nome dos cidadãos.

Por isso, como convém à boa política pública, seus objetivos têm de se acoplar ao projeto mais amplo de desenvolvimento econômico e social que cada governo formula. A ideia é, tanto quanto possível, conciliar interesses nacionais específicos com a paz e a prosperidade de toda a comunidade global.

Nada mais natural, portanto, que, numa democracia, diferentes setores da sociedade possam participar na identificação desses objetivos.

No Brasil, em diversas ocasiões, a sociedade civil contribuiu para definir linhas da ação diplomática. É reconhecida a participação dos ativistas de direitos humanos e ambientalistas nas Conferências de Durban (2001) e, mais recentemente, na Rio +20 (2012). Muitas vezes, porém, essa participação se dá de maneira informal, mais por boa vontade do agente público do que por obrigação institucional.

Em sua coluna, Matias Spektor mencionou que o Itamaraty resolvera criar em sua estrutura um foro permanente para diálogo com a sociedade civil. A ideia seria democratizar e dar mais legitimidade à política externa.

Na longa história do órgão, é a primeira vez que se estabelece um mecanismo dessa natureza. Trata-se de evolução institucional importante cujo objetivo, em última análise, é aproximar a política externa do cidadão comum.

A consolidação da democracia transforma a ação diplomática. A tecnologia, também. Não há como falar de democratização da política externa sem mencionar as mídias sociais. Tornaram-se um canal de contato direto com a população, pelo qual o formulador mostra seu trabalho e convida a opinião pública, nacional e internacional, a comentar sobre sua atuação.

Com isso, passa a contar com a possibilidade de quantificar e analisar dados de seu Ibope particular.

A contribuição de especialistas e agentes interessados em relações internacionais --seja em foro institucionalizado, debates acadêmicos ou mensagens de Facebook-- não deve ser menosprezada.

O debate tem de ser inclusivo e diverso. O desafio democrático que caberá à política externa --e a seu formulador-- será atingir e expressar o equilíbrio dessa diversidade.

Um governo preso numa teia de erros - ROLF KUNTZ

O ESTADO DE S. PAULO - 17/08

Trem-bala, conta de luz, câmbio, Copa, inflação, pré-sal, gasolina, orçamento - por onde começar? Com pouco mais de um ano de mandato pela frente, a presidente Dilma Rousseff só realizará alguma coisa se romper uma teia de trapalhadas construída por ela mesma, com a colaboração de um dos Ministérios mais incompetentes da História e com material em parte próprio e em parte deixado por seu antecessor. Algumas decisões serão especialmente complicadas. Se continuar reprimindo os preços dos combustíveis, com ajustes insuficientes, agravará a situação da Petrobrás, já complicada por erros acumulados em vários anos - incluída a obrigação de controlar pelo menos 30% dos poços de petróleo do pré-sal.

Se atualizar os preços da gasolina e do diesel, as pressões inflacionárias ficarão mais soltas. Isso será melhor que represar os índices, mas será preciso apertar e talvez ampliar a política anti-inflacionária. Outras decisões serão tecnicamente mais fáceis, como o abandono do projeto do trem-bala. Mas falta saber se o governo estará politicamente disposto a admitir o recuo e reconhecer a acumulação de custos inúteis. Mesmo sem sair do papel, o projeto custará pelo menos R$ 1 bilhão até o próximo ano, somadas os valores acumulados a partir de 2005 e o do projeto executivo, segundo informou O Globo.

O trem-bala é só um exemplo de objetivos mal concebidos, mal planejados e perseguidos com invulgar incompetência, A Copa do Mundo, com projetos em atraso e custos multiplicados, talvez seja o caso mais visível de um compromisso assumido de forma irresponsável e sem avaliação de prioridades.

Parte da herança recebida pela presidente Dilma Rousseff, esse compromisso, além de impor despesas crescentes e graves "constrangimentos ao governo, limita seu espaço de ação. A menos de um ano do começo dos jogos, um recuo parece impensável. Para garantir a conclusão pelo menos das obras mais importantes o governo terá de intervir com dinheiro. Quando o prazo ficar muito apertado, será inútil jogar a responsabilidade sobre os parceiros privados. Será preciso gastar e ampliar o buraco nas contas públicas.

Essas contas já vão muito mal e tendem a piorar nos próximos 12 meses também por causa das eleições. Mas o governo, até agora, tem exibido muito mais preocupação com a aparência do que com a situação efetiva de suas finanças. O quadro tem piorado com o uso crescente de maquiagem para enfeitar o quadro fiscal e os números da inflação.

Essa maquiagem, a mais cara e menos eficiente do mundo, tem borrado os limites das políticas fiscal, de crédito e de combate à inflação. Um dos grandes retrocessos dos últimos anos tem sido a crescente promiscuidade entre o Tesouro e os bancos federais, principalmente com o BNDES. Recursos fiscais também têm sido usados na maquiagem de preços. Para disfarçar os custos, em vez de combatê-los de forma efetiva, o governo criou uma embrulhada com as empresas de energia elétrica.

As tarifas foram contidas e isso se refletiu por algum tempo nos índices de inflação, mas a conta para o governo está saindo bem maior do que as autoridades haviam calculado. O custo para o Tesouro, segundo informou o Estado, pode chegar a R$ 17 bilhões, o dobro do valor estimado pelas autoridades no começo do ano. O novo cálculo, mais completo, é atribuído ao consultor Mário Veiga, um especialista em energia. Só esse acréscimo anularia 85% do corte de R$ 10 bilhões prometido na última revisão do Orçamento - se esse corte fosse para valer.

A isso ainda seria preciso somar, entre outros itens, os R$ 6 bilhões anunciados pelo governo para emendas orçamentárias, principalmente, é claro, de parlamentares aliados. Mas os desembolsos com as emendas ficarão maiores e mais difíceis de comprimir, nos próximos anos, se o projeto de orçamento impositivo, já aprovado na Câmara, passar pela etapa final, Os vereadores federais, também conhecidos como congressistas, poderão mais facilmente realizar sua política paroquial, mais uma forma de pulverizar e desperdiçar recursos do Tesouro Nacional.

Sem apoio firme no Congresso, sem competência gerencial, sem ministros capazes de planejar e de executar políticas e sem coragem de reconhecer e de enfrentar os desafios mais sérios, o governo da presidente Dilma Rousseff criou e deixou acumular-se a maior parte de seus problemas, Por mais de dois anos insistiu na prioridade à expansão do consumo, sem cuidar da eficiência econômica e da capacidade produtiva. Foi incapaz de reconhecer o esgotamento da política de ampliação do mercado interno - um objetivo importante, mas insuficiente quando tratado de forma isolada.

Inflação, descompasso entre importações e exportações e erosão das contas externas foram as conseqüências mais visíveis desse erro. Em vez de atacar a inflação, o governo manteve a gastança, tentou maquiar os preços e ainda promoveu de forma voluntarista uma prolongada redução dos juros.

Uma política mais prudente, mais corajosa e mais voltada para o longo prazo teria tornado a economia nacional mais eficiente e menos dependente do câmbio para a competição global. Ao mesmo tempo, uma inflação mais baixa, como em outras economias emergentes, tomaria mais fácil absorver os efeitos da depreciação do real.

Como toda a política foi errada, também nesse caso a escolha é muito custosa: o País fica mais competitivo com o dólar bem mais caro, mas o combate à inflação, nesse caso, tem de ser mais duro.

Não há decisão fácil e confortável num ambiente de erros acumulados por muito tempo. Com a aproximação das eleições, quantos erros o governo estará disposto a atacar seriamente, em vez de apenas continuar disfarçando?

Pedintes nunca mais - PAULO NOGUEIRA BATISTA JR.

O GLOBO - 17/08

Nossa posição já não é tão forte. E pior: vem se deteriorando com certa rapidez



Faço parte de uma geração de economistas brasileiros que viveram durante décadas atormentados por crises relacionadas ao desequilíbrio externo da economia. Éramos devedores renitentes, eternamente sujeitos à instabilidade econômica e às humilhações inerentes à situação de quem depende de outros para pagar suas contas. Em vários momentos, e mais recentemente no governo FHC, ficamos reduzidos à condição de pedintes internacionais, passando o chapéu no exterior para fechar o balanço de pagamentos do país.

Passou. A posição brasileira se transformou de maneira impressionante. Chegamos a viver anos de glória. Viramos até credores do FMI: emprestamos US$ 14 bilhões durante o governo Lula – e estão nos pedindo mais US$ 10 bilhões.

A euforia passou também. Estamos ainda longe das condições que nos levaram a crises cambiais, instabilidade e recessão. Mas a nossa posição já não é tão forte. E pior: vem se deteriorando com certa rapidez.

O superávit comercial veio caindo desde 2008 e virou déficit neste ano. O balanço de pagamentos em conta corrente, que era superavitário em meados da década passada, também passou a registrar déficit expressivo e crescente. Não só a balança comercial, mas as contas relacionadas a turismo, transporte, remessas de lucros, entre outras, vêm registrando desequilíbrios maiores. Para 2013, o Banco Central projeta um déficit em conta corrente de US$ 75 bilhões.

A posição externa brasileira ainda apresenta alguns aspectos fortes. A flutuação cambial é mais eficaz do que o câmbio fixo ou semi-fixo que tivemos em décadas anteriores. No regime de flutuação, a depreciação funciona, dentro de certos limites, como um mecanismo automático de correção do desequilíbrio externo.

Além disso, a elevada entrada de investimentos diretos estrangeiros, uma forma relativamente estável de capital externo, ainda cobre a maior parte do déficit corrente. E mais importante: o nível de reservas internacionais do Brasil é bem mais alto do que o que tivemos no passado. Nos últimos dez anos, as reservas subiram de cerca de US$ 50 bilhões para US$ 370 bilhões. Esse estoque de ativos líquidos em moeda estrangeira constitui poderoso instrumento de autoproteção e preservação da autonomia nacional.

Mesmo assim, preocupa a deterioração recente das contas externas. Os nossos pontos fortes não representam garantia completa. A depreciação cambial afeta a inflação e pode se tornar desestabilizadora. As reservas podem sofrer queda acentuada se houver rápida conversão em moeda estrangeira de ativos financeiros líquidos em reais.

O quadro mundial é instável e não podemos baixar a guarda. A última coisa que um economista da minha geração gostaria de reviver é a volta do país a uma situação de fragilidade externa.