quarta-feira, dezembro 04, 2013

PIB fraco comprova erros de política econômica - EDITORIAL O GLOBO

O GLOBO - 04/12

O Brasil crescerá este ano algo próximo dos 2,5%, muito distantes da expectativa oficial de cerca de 4,5%. E ainda terá uma das inflações mais altas do continente



Não é arriscado prever que a economia, este ano, crescerá algo não muito distante de 2,5%, uma frustração diante das expectativas oficiais anunciadas no início do exercício de uma taxa na faixa dos 4,5%. Assim, 2013 ficará marcado pelo signo preocupante de baixo crescimento e inflação elevada, esta no nível dos 6%, índice só superado, nas redondezas, pelas excrescências argentina (25%) e venezuelana (50%).

O resultado do PIB do terceiro trimestre, divulgado ontem pelo IBGE, serviu de uma espécie de prévia de 2013, tendo o crescimento anualizado sido de 2,3%, com uma retração de 0,5% no período de julho a setembro, em relação aos três meses anteriores —, movimento inédito desde o primeiro trimestre de 2009. Naquela época, devido ao impacto da crise mundial deflagrada a partir do estouro da bolha imobiliária e financeira americana.

Otimista profissional, em função do cargo, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, teve de reconhecer que a economia brasileira ostentou o pior trimestre em todo o mundo. Mas essas comparações tópicas, embora cabíveis, dizem pouco da realidade de cada economia.

Além do fato em si da retração do PIB nestes três meses, houve, no Brasil, um recuo nos investimentos, em 2,2%, no trimestre, embora, em bases anualizadas, a taxa tenha sido positiva em 7,3%. A expectativa, otimista, é que a série de leilões de licitação, já em curso, garanta uma reação consistente das inversões no ano que vem.

Muito necessária, porque a taxa de investimentos da economia continua bastante baixa, em 19,1% do PIB, embora acima dos 18,7% do período de três meses anteriores. Há muito ainda o que fazer, considerando-se que um crescimento sustentado na faixa dos 5% ano ano requer inversões equivalentes a 25% do PIB. E também sem que se eleve a poupança interna (em exíguos 15% do PIB), haverá a necessidade de atrair investidores externos, que já se mostram esquivos diante das incertezas brasileiras.

Ontem não deve ter sido um bom dia para a presidente Dilma, pois até a informação que ela concedera ao espanhol “El País”, de que o IBGE revira a a expansão do PIB de 2012 de 0,9% para 1,5%, não foi confirmada: ficou em mero 1%.

O governo colhe o que semeou na tentativa de substituir o tripé da meta de inflação/câmbio flutuante/responsabilidade fiscal pela “nova matriz econômica”, uma receita heterodoxa semelhante à que já não havia funcionado na Argentina: juros baixos e câmbio desvalorizado — ambos a ferro e a fogo —, e aumento de gastos públicos.

A presidente Dilma demonstra ter feito autocrítica, principalmente no distanciamento em relação ao setor privado e nos juros, mas os efeitos do erro se manterão por algum tempo. A saber se condicionarão as eleições do ano que vem.

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