domingo, dezembro 01, 2013

O carrossel - BELMIRO VALVERDE JOBIM CASTOR

GAZETA DO POVO PR - 01/12

Diz um amigo meu que a história brasileira não é sequencial, um desdobrar contínuo de novas situações: é um carrossel e basta ao espectador ficar parado observando, que, mais cedo ou tarde, aparece o mesmo cavalinho que já passou muitas vezes no passado. A frase de meu amigo é uma interpretação circense da famosa declaração de que a história se repete como farsa.

Pois é. O cavalinho preto cavalgado pelo garboso ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, apareceu, brandindo uma carta anônima em inglês, traduzida para o português, acusando membros de um partido adversário de terem recebido propina em compras de equipamentos do governo paulista. Já estou velho o suficiente para tostar minha mão no fogo por qualquer político e, portanto, denúncias desse tipo são verossímeis, ou seja, têm aparência de verdade. Se são ou não verdadeiras, é preciso apurar, mas algumas coisas no episódio me deixam intrigado.

Sabe-se lá como, alguns jornalistas descobriram a tal carta e imediatamente divulgaram a informação de que a mesma citava nominalmente membros do PSDB como beneficiários das propinas, embora – cotejando o original em inglês com sua tradução em português – essa informação não constasse do original. Trecho como “autoridades brasileiras estão investigando o envolvimento de pagamento de propina a funcionários de governo” virou “durante muitos anos a Siemens vem subornando políticos na sua maioria do PSDB e diretores da CPTM, metrô de São Paulo e metrô de Brasília”; e “cada parte tinha a sua própria maneira de pagar comissões a funcionários do governo” transmudou-se em “cada empresa tinha sua própria forma de pagar a propina ao pessoal do PSDB e à diretoria da CPTM”. Aparece na curva o cavalinho baio montado por um dos “aloprados” de 2010 com um dossiê falso a respeito de um adversário dos petistas, o tucano José Serra, e uma bolsa contendo quase R$ 2 milhões cuja origem nunca foi esclarecida, para pagar seus autores.

Passa diante de nosso espectador o cavalinho alazão montado pelo Comitê Organizador Local (COL), anunciando que os gastos com os estádios da Copa do Mundo chegarão a R$ 8 bilhões. Destes, menos de 3% virão da iniciativa privada. Mas não acabou de passar o cavalinho tordilho do então ministro dos Esportes Orlando Silva, afirmando, em 2008, que nenhum centavo público seria gasto nas arenas da Copa? E não passou também o garboso corcel montado pelos organizadores dos Jogos Pan-Americanos de 2007, no Rio de Janeiro, prometendo gastar dez vezes menos do que realmente gastaram? Lembremo-nos de que parte das obras realizadas, como o Estádio João Havelange, tiveram de ser interditadas pois corriam o risco de cair...

Como se vê , os cavalinhos do carrossel de nossa história não escolhem assunto nem momento. De comum só há uma coisa: a tentativa de fazer os espectadores de imbecis, de passar-lhes um atestado público de estupidez irrecuperável. Enquanto isso, milhares de pacientes dormem no chão em hospitais públicos esperando atendimento e mais uma geração de jovens brasileiros é condenada à mediocridade por falta de escolas decentes.

Mas preparem-se, pacientes leitores. O cavalinho da Olimpíada já está a caminho.

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