segunda-feira, dezembro 30, 2013

Cenário sombrio - EDITORIAL CORREIO BRAZILIENSE

CORREIO BRAZILIENSE - 30/12
A economia brasileira deverá ser marcada no último ano do mandato da presidente - e economista - Dilma Rousseff pela consolidação de expectativas que a própria equipe plantou desde a posse. Sem surpresas, 2014 fechará com crescimento em torno de 2% do Produto Interno Bruto (PIB) e com inflação medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) mais próxima de 6% que do centro da meta fixada pelo Banco Central (BC), de 4,5%.
Até mesmo o monstro que estava na jaula e ameaçava turvar esses prognósticos rasos foi domado antes mesmo de o novo ano chegar. Representado pela iminente suspensão dos pesados estímulos financeiros à economia dos Estados Unidos pelo Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano), o apocalipse financeiro não está mais à espreita.

Essa contenção de forte fator de alta sobre a cotação local do dólar e de limitação para outros indicadores de desempenho do país foi anunciada semana passada, sinalizando transição tranquila e gradual, a começar em janeiro. No último anúncio antes de deixar o cargo, Ben Bernanke, presidente do Fed, afirmou que as taxas de juros nos EUA poderão continuar baixas, próximas de zero, ainda por bom tempo, o mesmo necessário para o Brasil reduzir a fragilidade externa.

A agenda típica de ano eleitoral não vai dar chances a ajustes macroeconômicos impopulares, como os da Previdência e do mercado de trabalho. Nem os gastos públicos extras tão comuns nesse período vão impulsionar a atividade produtiva a ponto de acelerar o PIB, a exemplo do que foi o chamado pibão de 2010. O problema maior, contudo, está ao redor do cenário que está sendo desenhado para os próximos 12 meses.

Os fundamentos econômicos - como o da dívida externa, que engordou 37% desde 2011 - pioram, deixando conta salgada para 2015, o primeiro ano de um governo de oposição ao atual ou o começo da segunda gestão da presidente, com a qual se completariam 16 anos de PT no poder. A maior esperança de reversão do marasmo econômico que ronda a economia e deixa mais evidentes os problemas fiscais da União continua numa reação dos investimentos.

Sustentada até agora pelo consumo, com a liberação generosa de crédito e os cortes temporários de tributos, a economia está cada vez mais dependente da aplicação de recursos públicos e privados no aumento da capacidade de produção, da eficiência e, sobretudo, da infraestrutura. Por isso tudo, é fundamental continuar o avanço percebido no segundo semestre de 2013 das concessões de portos, ferrovias, aeroportos e rodovias.

Além de manter em alta as taxas de emprego e renda, os projetos para dotar o país de condições sustentáveis de crescimento são a única chance de estancar a perda de competitividade perante o mundo. Em paralelo, os ganhos reais de salários começaram a se estreitar, a oferta de crédito às pessoas físicas dá sinais de fadiga e as taxas de juros médias dos empréstimos seguem estrangulando o orçamento de um quarto das famílias brasileiras.

O esgotamento do modelo econômico em vigor desde a última década impôs uma agenda ao governo que ainda não se concluiu em razão da burocracia, da ineficiência estatal e das contingências políticas. O novo modelo, virtuoso e perene, poderá exigir rupturas, que só não virão se houver acomodação eleitoral diante da contínua mobilidade social dentro da classe média.

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