segunda-feira, novembro 04, 2013

Mais - GUILHERME RIZZO AMARAL

GAZETA DO POVO - PR - 04/11

Mais médicos, mais saúde. Simples assim. Parece que finalmente encontramos a solução para os males que assolam o povo brasileiro. Podemos, agora, avançar. Mais professores, mais educação. Mais policiais, mais segurança. Mais juízes, mais justiça. O Brasil vai dar certo.

Não precisamos nos preocupar se professores brasileiros entenderem que mais vale seguir carreira numa grande capital que dar aulas dentro de um contêiner de metal durante um inverno rigoroso numa cidade interiorana. Haverá professores estrangeiros dispostos ao nobre desafio.

Também pouco importa se policiais brasileiros entenderem que mais vale um bico de segurança que trocar tiros de 38 com bandidos munidos de fuzis AR-15. Bravos policiais de além-mar haverão de atender ao nosso chamado.

E, se um juiz brasileiro entender ser uma demasia julgar sozinho 8 mil processos por ano – veja só, que petulância –, bastará convocarmos milhares de magistrados de países vizinhos, dar-lhes treinamento jurídico e voilà: justiça será feita.

O melhor de tudo isso é que o revolucionário conceito do programa Mais Médicos permite que a administração pública “economize” recursos. Noticia-se que em vários municípios brasileiros médicos contratados pelas prefeituras já estão sendo demitidos para dar lugar a profissionais do programa Mais Médicos, com os quais não há compromisso de atendimento a uma série de regras trabalhistas.

Tudo isso em muito boa hora, pois assim temos dinheiro de sobra para investir em pujantes estádios de futebol, muito mais importantes que aparelhos de ressonância magnética, ambulâncias, livros e coletes à prova de balas.

Ironias à parte, o Brasil parece ter chegado ao limite da irresponsabilidade no trato da coisa pública. Só não vê quem não quer: a gestão pública está exclusivamente focada na perpetuação de grupos de interesses no poder, por meio da adoção de um discurso altamente populista, proselitista e beirando o tirânico, quando leva à satanização de toda uma classe de profissionais, responsabilizando-a por mazelas causadas em grande parte pelos próprios acusadores e por seus antecessores.

O único caminho para a solução de problemas tão intrincados quanto a crise na saúde pública, segurança e educação é a gestão responsável e eficiente dos recursos públicos, com a devida prestação de contas à população. Parece, no entanto, que nossos gestores públicos estão pouco interessados nisso.

Oxalá algum estrangeiro se interesse no desafio.

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