quinta-feira, novembro 14, 2013

Brasil precisa decidir seu futuro no Mercosul - EDITORIAL O GLOBO

O GLOBO - 14/11

A negociação de acordo com a União Europeia pode chegar a impasse, caso a protecionista Argentina mantenha boicote ao avanço das conversas



A longa crise por que passa o Mercosul enfrenta um teste, a depender do qual o bloco aumentará a velocidade no curso rumo ao esfacelamento. Este divisor de águas é a negociação de acordo comercial com a União Europeia, na agenda há mais de dez anos e, hoje, um projeto ainda mais importante para o próprio bloco. Este acordo, se fechado, será o primeiro de peso a ser assinado pelo Mercosul, signatário até hoje de tratados apenas com Israel, Egito e Autoridade Palestina, desprezíveis diante do tamanho do Brasil.

O momento também é estratégico, pois a UE — apesar das rusgas criadas pela revelação da espionagem eletrônica — trata com os Estados Unidos daquele que poderá ser o maior acordo comercial do mundo. É óbvio que não deve interessar ao Brasil que a União Europeia e os EUA estabeleçam preferências entre suas trocas comerciais antes do Mercosul (ou do Brasil isoladamente, na hipótese de o Mercosul, de união aduaneira passar a ser uma área de livre comércio), porque o país é concorrente da economia americana em exportações agropecuárias, principalmente. As negociações com a UE foram suspensas em 2006, porque os europeus desejavam esperar o desfecho da Rodada de Doha, afinal fracassada dois anos depois. As conversas foram retomadas e há, portanto, um longo caminho já percorrido. Agora, está na hora da entrega de listas de produtos, por cada país, para se definir a abrangência do acordo. Mas a Argentina não fornece a sua, numa atitude de claro boicote. Paralisado pela cirurgia da presidente Cristina Kirchner, o governo argentino nada decide. No caso do acordo com a UE, supõe-se que mesmo com Cristina no seu gabinete na Casa Rosada, a situação seria a mesma, pois o protecionismo passou a ser parte da “política econômica” do kirchnerismo, dadas as condições dramáticas das contas externas do país.

No final de semana, o presidente do Uruguai, José Mujica, interessado neste acordo, foi a Brasília conversar com Dilma Rousseff. Sabe-se que a possibilidade de ampliar negócios com a UE também interessa ao Paraguai. O Brasil precisa escolher um lado: o da racionalidade e da defesa dos efetivos interesses nacionais ou do compadrio ideológico com o kirchnerismo, hoje uma vertente do bolivarianismo chavista. Por sinal, a Venezuela de Maduro, em crise profunda, propõe que em dezembro seja formalizada a associação entre o Mercosul, a Aliança Bolivariana para as Américas (Alba), da qual faz parte Cuba, e a Comunidade do Caribe (Caricom), todos da área de influência do chavismo.

Espera-se que a concordância do Brasil com a criação deste bloco do atraso tenha sido apenas um gesto de elegância. Mas, se foi verdadeira, e a depender dos termos do acordo, a economia e o comércio exterior brasileiros continuarão atolados no Mercosul e cada vez mais distantes das cadeias produtivas globais, ou seja, atrasados em termos de tecnologia e produtividade. Será a opção pelo subdesenvolvimento.

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