quinta-feira, outubro 10, 2013

Um século depois - MIRIAM LEITÃO

O GLOBO - 10/10

Foram 100 longos anos até chegar o momento em que houvesse a indicação de uma mulher para presidir o Fed. E o que tem isso? Ora, por que não uma mulher? Janet Yellen tem todas as credenciais de outros postulantes e não tem alguns dos defeitos do que se retirou da disputa quando era o favorito do presidente Barack Obama, o conflituoso Lawrence Summers.

a política o principal problema econômico americano. Por isso, a economista Monica de Bolle acha ociosa a discussão sobre se Yellen é "pomba" ou "falcão"; categorias nas quais os economistas dividem os mais brandos e os mais duros em questões monetárias.

— Não faz mais sentido dizer que com Yellen o ritmo de retirada dos estímulos monetários seria mais lento. Neste momento, essa redução dos estímulos ficou para segundo plano. O mais urgente é evitar os danos econômicos da paralisação do govemo americano. O Congresso pode até encontrar uma solução para evitar a moratória e manter o govemo parado. A interrupção das atividades governamentais afetará os fornecedores diretos e indiretos para a máquina pública elevar essas empresas a demitir, exatamente quando o emprego estava se recuperando — diz Monica de Bolle.

Ela define Janet Yellen como sendo uma "acade-micona" no sentido de ter passado a maior parte da sua vida dentro da academia, como Bernanke, apesar de ter a intensa experiência recente da vice-presidência do Fed:

— Sim, ela será cautelosa na redução dos estímulos monetários, mas deve seguir um plano de voo muito parecido com o do Bernanke. O que precisa ser entendido é que o Banco Central americano tem duplo mandato: emprego e inflação. Atualmente, a inflação não preocupa e o emprego começou a se recuperar, mas de forma frágil. A paralisação do govemo impede até a divulgação do dado do desemprego que já deveria ter sido divulgado.

Ontem foi divulgada a ata da última reunião do Fed, de 16 a 17 de setembro. Eles dizem que foi bem apertada a decisão de adiar a retirada dos estímulos. Hoje, no entanto, o contexto é outro. Houve um agravamento da tensão política. Yellen, ao comentar ontem sua indicação, disse que é preciso fazer mais para fortalecer a recuperação.

O Fed foi criado em dezembro de 1913 e começou a funcionar no final de 1914. Sempre teve presidentes homens. Yellen foi a primeira vice-presidente e agora assumirá a presidência. O fato de ser mulher faz diferença?

— É uma boa sinalização o fato de o Fed ser capitaneado por uma mulher, principalmente porque ela vem com um excelente currículo, que nada fica a dever aos outros postulantes e, neste caso, por que teria que ser alguém do sexo oposto ao nosso? — pergunta Monica.

Ontem, estava reunido o Copom e houve nova alta dos juros. Chega a ser insultuosa a unanimidade masculina naquele grupo. Uma foto publicada neste fim de semana, de uma reunião do Copom, mostrou que nem mesmo no corpo técnico, que se senta atrás dos diretores, há uma única mulher. O Brasil anda para trás. O Comitê já foi mais diverso. Na reunião de ontem, decidiram elevar em 0,5 ponto percentual os juros.

A escolha de Yellen representa continuidade da política monetária, mas, como disse Monica, o fato político é determinante agora:

— Ela vai demorar a subir juros e a retirada dos estímulos será lenta, não pelas características de Yellen, mas pelo grave quadro político formado pelo impasse entre o Partido Democrata e o Partido Republicano em torno da discussão orçamentária.

O mandato de Bernanke vai até 31 de janeiro do ano que vem, mas ele pode sair antes. Yellen assumirá o cargo em um momento difícil da política e da economia americana.

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