segunda-feira, outubro 28, 2013

Não à xenofobia - EDITORIAL O GLOBO

O GLOBO - 28/10


O promissor campo de Libra, na Bacia de Santos, será o primeiro no Brasil a ser explorado e desenvolvido sob o regime de partilha de produção. Essa opção foi feita pelo governo, no segundo mandato do presidente Lula, depois que a perfuração de alguns poços exploratórios confirmaram a alta potencialidade dos reservatórios da camada do pré-sal.

Ainda se discute se esse é o melhor modelo para o pré-sal, pois o regime de concessões, com mais de uma dezena de rodadas de licitações, tem um histórico de excelentes resultados.

Temia-se que, sob o regime de partilha, apenas se interessariam pelo leilão grandes empresas petrolíferas asiáticas, geralmente estatais, que têm como estratégia assegurar o suprimento de consideráveis volumes de óleo e gás para seus mercados domésticos, aceitando, para tal, custos elevados de produção. A ausência de várias empresas petrolíferas do primeiro time do mundo do petróleo parecia confirmar essa expectativa.

Felizmente, o resultado do leilão de Libra foi melhor que o esperado, embora incapaz de aprovar o modelo de exploração como um todo. A Petrobras, que forçosamente teria 30% de participação no consórcio vencedor, ampliou sua fatia para 40% e se aliou a quatro parceiros que terão condições tecnológicas, gerenciais e financeiras de contribuir para o êxito da empreitada. As europeias Shell e Total já operam no Brasil e deram uma demonstração de que apostam no país a longo prazo. As chinesas CNPC e CNOOC são novatas no mercado brasileiro, mas trazem com elas o impulso de crescimento que caracterizou as economias asiáticas, e a China, principalmente, nas últimas décadas.

Essa união de forças era mais do que necessária para enfrentar os enormes desafios do pré-sal. Para explorar essa nova fronteira petrolífera, a Petrobras já havia se associado a outras empresas, dividindo riscos. Mesmo que agora os horizontes estejam mais claros, nenhuma empresa do setor hoje seria capaz de responder à necessidade de investimento que um campo, como Libra, demandará. Mesmo as maiores. Antes de qualquer iniciativa de prospecção, o consórcio vencedor terá de pagar, de uma vez, R$ 15 bilhões ao Tesouro.

O Brasil só ganhou, com a diversificação de investidores, desde que optou pela abertura do seu mercado de petróleo. E a Petrobras certamente foi a companhia que mais se beneficiou desse processo, ao deixar de ser monopolista.

Enxergar hoje o petróleo com a visão que se tinha nos anos 50 é ignorar toda a transformação que ocorreu nessa indústria ao longo desse tempo. As regiões produtoras se diversificaram, novas companhias surgiram, e o próprio petróleo passou a ter a concorrência de outras fontes de energia, do gás aos biocombustíveis. Respondendo às críticas contra a realização do leilão de Libra, a presidente Dilma condenou a xenofobia, o nacionalismo incapaz de enxergar contribuições positivas no investimento estrangeira. E ela está certa nessa condenação.

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