quarta-feira, outubro 16, 2013

A escolhida de Dilma - DENISE ROTHENBURG

CORREIO BRAZILIENSE - 16/10

A presidente optou por duelar com Marina porque, na conversa com Lula e o grupo de coordenação da pré-campanha, a conclusão é a de que a figura frágil da ex-ministra é a mais fácil de combater em um segundo turno



Absorvidos os movimentos decorrentes do prazo de filiação partidária, entre eles, a opção de Marina Silva pelo PSB, essa semana marca o início de um verdadeiro empurra-empurra, não só entre os pré-candidatos e a presidente, como entre os aliados do governo nos estados. No plano nacional, o balançar da Rede de Marina embalando o PSB de Eduardo Campos, levou Dilma a sair da toca, e tudo indica que ela escolheu Marina como adversária.

Na semana passada, houve o encontro de Dilma com Lula, o presidente do PT, Rui Falcão, o ministro da Educação, Aloizio Mercadante, o ex-ministro Franklin Martins e o marqueteiro João Santana. A partir dali, a presidente dá sinais de ter escolhido um alvo. Nos últimos dias, respondeu a Marina Silva no twitter, nos discursos e todo mundo mordeu a isca, colocando as duas em confronto.

A opção de Dilma por Marina é matemática. Dentro da equipe de Dilma, há a leitura de que concorrer contra a figura frágil de Marina em um segundo turno é considerado mais fácil do que lutar contra o desconhecido. Vamos explicar melhor. O governador de Pernambuco, Eduardo Campos, por exemplo, é uma incógnita para mais da metade do eleitorado. Não se sabe como a população reagirá a ele e, para completar, ele tem 15% das intenções de voto vindo de um estado que não é uma potência eleitoral como São Paulo ou Minas Gerais. Aécio também não fica muito atrás de Eduardo no quesito conhecimento. Portanto, também não se sabe muito até onde eles podem chegar na hora do voto a voto.

Isso significa que, para os dois, o governo não tem discurso. Sendo que contra Eduardo seria ainda mais difícil, porque a tendência das qualitativas revela que ele pode receber os votos da oposição se ficar conhecido. Ou seja, contra os dois, o governo considera mais arriscado do que enfrentar Marina, aquela que teve dificuldades inclusive para montar um partido — isso aliás, está na ponta da língua de muitos governistas.

Amanhã, por exemplo, o Planalto será palco do lançamento do Plano Nacional de Agroecologia em Agricultura Orgânica, que o governo trabalha também com a palavra sustentável, de forma a mostrar que o lado A de Marina Silva está sendo cumprido pela atual administração. Será ainda mais uma tentativa de Dilma de provocar Marina. Até aqui, ela foi a escolhida pela presidente. Resta saber até quando esse jogo se sustentará.

Enquanto isso, nos estados…
Enquanto Dilma duela com Marina, já se vislumbra que quem vai se estranhar mais nos estados são os maiores partidos, PT e PMDB. Mas, vamos começar pela Bahia, onde a presidente esteve ontem para lançar mais uma etapa do Minha Casa Minha Vida — vai, se acostumando leitor, porque Dilma vai viajar cada vez mais. E as viagens dela deixarão cada vez mais explícitas as rusgas na base aliada.

Na Bahia, por exemplo, Geddel Vieira Lima, do PMDB, é pré-candidato a governador, bem mais próximo da oposição do que do PT, onde a tendência do governador Jaques Wagner é lançar candidato próprio. No Rio de Janeiro, não é segredo para ninguém o mal-estar entre PT e PMDB, especialmente, depois que o presidente do PT, Rui Falcão, defendeu a candidatura do senador Lindbergh Farias ao governo estadual. Cabral já fez soar aos quatro ventos que planeja cuidar da vida longe do palanque de Dilma, embora o governo cogite fazer dele ministro justamente para evitar essa debandada peemedebista da campanha presidencial.

Não por acaso, no Rio de Janeiro, o líder do PR, Anthony Garotinho, avisa que sua campanha estará aberta a todos os presidenciáveis. “Tenho eleitores que votam no Aécio, outros em Dilma, outros em Marina. Todos e nenhum pra mim é quase a mesma coisa”, afirma, sem cerimônia. Isso significa que, pelo menos em princípio, fará campanha descompromissado com a sucessão presidencial. Onde um determinado candidato estiver com a vantagem, Garotinho estará disposto a recebê-lo.

No Ceará, onde o PMDB tem o seu líder no Senado, Eunício Oliveira, como um forte candidato ao governo estadual, o PT já se coloca disposto a seguir outro caminho por causa da aliança com o Pros, do governador Cid Gomes e seu irmão Ciro. Em São Paulo, as dificuldades também surgem no momento em que o PT parece ficar isolado. O PSD deve ter candidato a governador, o ex-prefeito Gilberto Kassab, e até o PCdoB, um dos grandes aliados dos petistas, fala no ministro do Esporte, Aldo Rebelo, como potencial candidato a governador. E o Solidariedade se coloca em favor da reeleição de Geraldo Alckmin. No Maranhão, bastou sair a notícia de que Flávio Dino deveria receber o apoio de Dilma para que o Palácio do Planalto corresse para dizer que a presidente não definiu seu palanque no estado.

Esses são apenas alguns exemplos de aliados a quem o PT pede o apoio à reeleição da presidente Dilma Rousseff, mas não dá o retorno, ou seja, é adversário nos estados. Se continuar nesse ritmo, muitos só fecharão com um candidato a presidente quando sentirem segurança na vitória. Enquanto houver dúvidas, farão como o beato que acende uma vela para cada santo.

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