segunda-feira, setembro 09, 2013

Ventos do Norte - EDITORIAL FOLHA DE SP

FOLHA DE SP - 09/09


Ainda fragilizada, economia europeia segue rota de lenta recuperação; dados são melhores nos EUA, que podem ganhar vigor em 2014


Não é por acaso que as taxas de juros de longo prazo sobem na Europa e nos EUA. A perspectiva mais favorável para o crescimento das economias desenvolvidas tem se consolidado nos últimos meses.

Os piores efeitos da crise financeira parecem, de fato, ter ficado para trás, sobretudo nos EUA. São muitos os desafios, contudo, e os principais bancos centrais preocupam-se em demonstrar que serão cautelosos no manejo da política monetária, a fim de não descarrilar a incipiente recuperação.

No caso europeu, o crescimento de 0,3% no segundo trimestre marcou a saída da mais longa recessão das últimas décadas. Os indicadores apontam para aceleração no restante do ano.

O retorno ao crescimento também veio nos países mais afetados, como Portugal, Itália e Espanha. Para 2014, o Banco Central Europeu (BCE) projeta crescimento de 1% na zona do euro.

O principal fator para a melhora é o sucesso do BCE em reduzir temores de ruptura do euro e reverter a fuga de capitais da periferia. Houve avanços na arquitetura da moeda única, com a criação de mecanismos comuns de financiamento e de supervisão bancária.

Por fim, o aperto fiscal recessivo deve amainar a partir de 2014, pois foi alongado o período para que os países com maiores deficit façam seus ajustes.

Mesmo assim, a sensação é de fragilidade. Permanece o alto desemprego, e o crédito bancário continua estagnado. Por isso, o crescimento ainda deve ser lento.

É melhor o cenário nos EUA. Neste ano, o crescimento deve ficar próximo de 2%, por causa da forte contração fiscal em curso. Quando esse ajuste diminuir, em 2014, a alta do PIB poderá superar 3%. A força da economia americana poderá puxar a Europa e, em alguma medida, também os emergentes.

Eis por que a grande questão, para os mercados, diz respeito ao ajuste da política monetária americana, depois de quase cinco anos de taxas de juros perto de zero.

Ainda neste mês, o Fed (banco central dos EUA) deve dar o primeiro passo, bastante esperado --começará a reduzir o montante de dinheiro que põe na praça, hoje US$ 85 bilhões ao mês.

A etapa seguinte será aumentar os juros. O Fed tem se preocupado em dizer que a primeira alta só virá com o desemprego abaixo de 6,5%, ou até menos. Isso só ocorreria em 2015. Qualquer ajuste, por isso, ainda parece distante.

Não se pode ignorar, porém, que os custos de financiamento subirão nos próximos anos, com impactos para os emergentes. Daí o comunicado do G20 pedir que os bancos centrais dos países desenvolvidos "calibrem cuidadosamente e comuniquem claramente" as mudanças na política monetária.

Embora a cooperação seja sempre positiva, não custa lembrar que cabe a cada país a responsabilidade de cuidar bem de seu quintal.

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