quarta-feira, setembro 18, 2013

Dia D em várias frentes - DENISE ROTHENBURG

Correio Braziliense - 18/09

O PSB pretende sair do governo para marcar seu território como o partido avesso à "boquinha" e dar mais visibilidade ao desejo de concorrer à Presidência da República. Dilma tende a dizer que a porta da rua é a serventia da casa



A quarta-feira promete. Não apenas no Supremo Tribunal Federal, mas na base do governo Dilma Rousseff. O PSB tem tudo encaminhado para anunciar nesta manhã que os cargos ocupados pelo partido na administração federal estão à disposição da presidente. Fará isso antes de o ministro Celso de Mello anunciar o voto no processo do mensalão. Devolve assim, a bola para a comandante em chefe das Forças Armadas. E, a se tomar como verdade o que se ouve no Planalto, ela tende a responder que a porta da rua é a serventia da casa.

O gesto vai além da simples marca do início da pré-campanha do governador de Pernambuco, Eduardo Campos, à Presidência da República. Até porque ele não dirá hoje que é candidato. Eduardo fará um histórico desses 10 anos de apoio dos socialistas ao governo petista. Definirá como a relação mais leal que o partido de Lula já obteve. Como dizia ontem o senador Rodrigo Rollemberg (PSD-DF), o PSB “jamais colocou a faca no pescoço de Dilma”, exigindo cargos em troca de votos no Congresso. Nas entrelinhas, deixa implícito que não é o partido da “boquinha”.

A entrega dos cargos é uma resposta ao constrangimento a que petistas e peemedebistas têm submetido o PSB, tratando o ministro da Integração Nacional, Fernando Bezerra Coelho, como um “infiltrado que é governo, mas trabalha em favor de Eduardo Campos”. Embora um grupo do PT e o PMDB comemore a saída, porque sobrará mais espaço para acomodar os aliados, há no gesto do PSB algo ainda mais simbólico.

Em 10 anos de Lula e Dilma, o PSB é o segundo partido com um viés de esquerda que caminha para a saída do governo. O primeiro foi o PPS. Em 12 de dezembro de 2004, o deputado Roberto Freire anunciava o afastamento do governo por discordar do aparelhamento e da política econômica. Agora virá o PSB, nove anos depois, declarar os cargos à disposição de Dilma. Obviamente, nesse ínterim, houve o PR, mas vale registrar que uma das brigas dos republicanos foi a impossibilidade de indicar um ministro da sua própria lavra para o lugar de Alfredo Nascimento no Ministério dos Transportes.

A decisão do PSB nesta data tem outras simbologias. Mostra que a pré-candidatura de Eduardo é hoje para valer. Ou seja, aqueles que consideravam Eduardo fora do páreo, terão uma resposta clara ainda em tempo de filiação partidária para quem deseja concorrer às eleições do ano que vem — o prazo termina em 5 de outubro, um ano antes do pleito.

Servirá também para antecipar ainda mais o processo eleitoral e a reforma ministerial que Dilma pretendia deixar para dezembro ou janeiro de 2014. Dentro do PMDB e do próprio PT, sobram interessados ao Ministério da Integração Nacional, à Superintendência de Desenvolvimento do Centro Oeste (Sudeco), à Companhia de Desenvolvimento do Vale do São Francisco (Codevasf) e à Chesf. A tendência agora é esses dois partidos se unirem ainda mais. É o que restará a Dilma que, aliás, já estava disposta a despachar o PSB há algum tempo e quem segurava era Lula. Agora, resta saber o que fará Cid Gomes, o governador que antecipadamente anunciou o apoio a Dilma. Ele está convidado para a reunião de hoje. Veremos o que fará. Até aqui, ele tem colocado seu pessoal no PSD de Gilberto Kassab, atualmente, pronto a ocupar o lugar do PSB na base de Dilma. É 2014 em movimento. E de uma forma que ninguém segura. Bem-vindos à temporada eleitoral. Até o fim da semana, ainda teremos Aécio Neves no Nordeste. Mas essa é outra história.

Por falar em segurar...
Prepare-se, leitor, para uma nova temporada de brigas nas reuniões da Câmara para discutir a Medida Provisória nº 619. A MP estabelecia apenas o financiamento para armazenagem de produtos na Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). Agora, tem mais de 40 artigos. Na surdina, o deputado João Bacelar (PR-BA) incluiu no texto o artigo da Lei dos Portos vetado pela presidente Dilma Rousseff. O artigo prevê que os contratos de arrendamento em operação na data da publicação da Lei dos Portos e celebrados antes de 1993 “deverão ser renovados por mais 10 anos, mediante revisão dos valores dos contratos e do plano de investimentos”. Esse foi um dos artigos que fez Anthony Garotinho (PR-RJ) se referir ao projeto em discussão na Câmara como “lei dos porcos”. Essa história vai render tanto quanto o voto de Celso de Mello hoje no STF.

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