sábado, setembro 14, 2013

Crise na Venezuela se agrava com Maduro - EDITORIAL O GLOBO

O GLOBO - 14/09

Com a inflação anual batendo nos 45%, presidente recorre à retórica grandiloquente para acusar a oposição e esconder a ineficácia do governo



Nos cinco meses de mandato do presidente Nicolás Maduro, a grave situação econômica da Venezuela se deteriorou acentuadamente. A inflação anual chegou a 45,4% em agosto e estão em falta alimentos, remédios e produtos básicos, como papel higiênico, devido à queda da produção interna, pela desorganização da economia, e à falta de divisas para importação. Em 2009, foi criado o índice de escassez, atualmente em 20%, seu nível mais elevado. É um colapso anunciado. A economia venezuelana já vinha em queda livre com Hugo Chávez, que apostou na estatização e desencorajou empresários e investidores privados, além de tornar o Estado, ineficiente por definição, o grande provedor de produtos básicos — fora os programas sociais. O país só não quebrou, em alguns anos até cresceu, porque é um dos grandes produtores mundiais de petróleo, cujo preço se mantém elevado, ao redor de US$ 100 o barril. Mesmo esta condição já não consegue compensar os delírios do governo.

As reações do governo Maduro são patéticas. O presidente anunciou, como sempre em cadeia nacional, e sem apresentar qualquer prova, que a oposição está preparando o “colapso total” da economia. E apresentou um plano grandiloquente para intensificar a fiscalização da produção, do transporte e do comércio e a criação de um “órgão superior para garantir o abastecimento e o funcionamento de toda a economia”. Como em toda estrutura estatizante, cria-se mais um “grupo de trabalho” para problemas que dependem de providências práticas. Maduro anunciou também a importação de US$ 600 milhões em produtos da Colômbia para combater o desabastecimento.

É sabido que, com a morte de Chávez, a condução do país se tornou mais complicada, pela disputa interna entre os diversos grupos dos quais ele era o líder aglutinador, como o do próprio Maduro e o do presidente da Assembleia Nacional e do partido oficial PSUV, Diosdado Cabello. Uma das consequências foi o atual presidente radicalizar ações do ex-chefe, como a perseguição à imprensa profissional do país.

A crise econômica se alastra. O país enfrenta, escassez de papel de imprensa, o que levou pelo menos seis pequenos diários de cidades menores a suspender a circulação. “Acabou o papel, mas voltaremos”, estampou a última edição do “Diario de Sucre”, um jornal regional.

O presidente, que durante o curto período de governo já denunciou quatro supostos planos para assassiná-lo, não perdeu tempo. Depois de acusar os meios de comunicação privados de não divulgar os atos oficiais, anunciou a criação de um novo programa em rede nacional obrigatória de rádio e TV: o “Noticiário da Verdade”. A verdade oficial, claro. Em outra decisão, Maduro retirou o país do Sistema de Direitos Humanos da OEA. É mais um sinal de isolamento internacional de seu governo. Enquanto isso, cria “conspirações” e “inimigos” externos, na tentativa de encobrir os fracassos administrativos.

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